sexta-feira, novembro 23, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 146


- Escute – Leu: - «Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado». Eu me lembro que, quando você me anunciou o casamento, contou que ela não sabia o nome da família, nem data de nascimento…

 - Nada. Não sabia nada…

 - E o Tonico se ofereceu para arranjar os papéis necessários.

 - Fabricou tudo no cartório dele.

 - E então? Seu casamento é nulo, houve erro essencial de pessoa. Pensei nisso quando chegámos. Depois apareceu Ezequiel, tinha um assunto a tratar. Aproveitei para consultá-lo. Eu tinha razão. É só você provar que os documentos eram falsos e já não está mais casado. Nem nunca foi casado. Não passou de amigação.

 - E como vou provar?

 - É preciso falar com tónico, com o Juiz.

 - Nunca mais vou falar com esse tipo.

 - Quer que eu me ocupe disso? De falar, quero dizer. Da parte jurídica, Ezequiel pode se ocupar, se você quiser. Até se ofereceu.

 - Ele já sabe?

 - Não se preocupe com isso. Quer que eu trate do caso?

 - Não sei como lhe agradecer.

 - Então, até logo. Fique aqui mesmo, leia um livro.

 - Bateu no ombro do árabe – Ou chore, se tiver vontade, não é vergonha nenhuma.

 - Vou sair com você.

 - Não senhor. Para ir onde? Fique aqui, esperando. Volto logo.

Não foi tão fácil como previra João Fulgêncio. Primeiro teve de acertar os relógios com Ezequiel. O advogado recusava-se a conversar com Tonico, fazer as coisas amigavelmente.

 - Quero é botar esse sujeito na cadeia. Vou fazer que ele seja demitido como falsário. Ele, o irmão e o pai andaram dizendo horrores de mim… Vai ter de sair de Ilhéus. Vai ser um escândalo…

João Fulgêncio terminou por convencê-lo. Foram juntos ao cartório. O tabelião ainda estava pálido, olhava-os inquieto, um riso amarelo, piadas sem graça:

 - Se não ando depressa, o turco era capaz de me furar com os chifres… raspei um susto danado…

 - Nacib é meu constituinte, peço-lhe tratá-lo com respeito – exigiu Ezequiel, muito grave.

Discutiram o assunto. Tonico, a princípio, opôs-se categoricamente a qualquer acordo. Não era caso, dizia, de anulação. Os documentos, mesmo falsos, tinham sido aceites como verdadeiros.

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