Alguns dos nossos políticos menos
vocacionados para o exercício da função, têm dificuldade em controlar as
palavras quando falam para os meios de comunicação social produzindo afirmações
“politicamente incorrectas” e, como as palavras são como as pedras que quando
saem da mão já não voltam, recorrem por sistema ao Contexto como
náufragos aflitos em busca de salvação quando dizem o que não devem mas o que
pensam ou lhes apetece dizer.
Convencionaram, então, que as palavras
só têm o significado que têm se não houver um problema de Contexto que à
posteriori, numa de emendarem a mão, esclarecem qual é.
Do género:
- Mas, VªEx.ª afirmou que se ia
demitir por cansaço…
- Não, não. O senhor não pode retirar
as minhas palavras do Contexto em que elas foram proferidas: ora eu tinha
acabado de subir as escadarias do Ministério e estava, de facto, muito cansado
e daí a minha afirmação perfeitamente compreensível e justificada.
E aqui
temos, como fora do contexto, o que se disse não vale ou vale uma
coisa diferente. É preciso interpretar e nem sempre os destinatários das
palavras têm essa capacidade por não estarem à altura do entrevistado ou
porque, simplesmente, são mauzinhos…
Mais três exemplos que ficaram na memória:
1º- Do Presidente da Associação de Municípios,
Fernando Ruas:
- Mas o Sr. Presidente disse
textualmente: “Corram com eles à pedrada”.
- "Não, não. Não vá por aí, não retire essa afirmação do contexto. Eu estava a presidir a uma Assembleia das Juntas de Freguesia…”
Ficamos, neste caso, a saber que numa
reunião da Assembleia de Juntas de Freguesia a expressão: “Corram-nos à
Pedrada” significa: “Convidem-nos delicadamente a irem-se embora.”
2º - Do Chefe do Governo, deste ou do
outro:
-
Mas VªExª afirmou que a Crise Acabou.
-
Não, não. O senhor está a retirar as palavras do contexto em que foram ditas e
esse contexto é de esperança e de optimismo para o futuro no qual a crise irá
acabar e esta é que é a interpretação correcta das minhas palavras, foi o que,
rigorosamente, eu disse.
3º - Do Ministro da Economia:
-
Mas VªExª afirmou que a energia eléctrica iria sofrer no próximo ano um
agravamento de 17,8%...
-
Não, não. O senhor está a citar as minhas palavras fora do contexto de anos e
anos em que os consumidores andaram a pagar a electricidade abaixo do seu custo
real e por isso a minha vontade era que no próximo ano sofressem esse aumento
de 17,8% mas, atendendo a que se trata de um bem de primeira necessidade ao
qual as camadas mais débeis da população não se podem furtar, o Governo,
sensível que é ás questões de natureza social, irá ponderar essa situação e
decidir um aumento que se ficará apenas pelos 6%.
Sinceramente, não há pachorra... ou será
alguma nova forma de dislexia em que as dificuldades de ler e escrever são
substituídas por problemas de expressar oralmente o nosso, deles, pensamento?
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