Quando se é jovem e bela a vida é um enorme sorriso. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 141
Essas últimas coisas
passaram-se no novo cabaré, O El -Dorado, instalado em Janeiro a fazer
concorrência ao Bataclan e ao Trianon, pois importava, directamente do Rio,
atracções e mulheres. Era propriedade de Plínio Araçá o do Pinga de Ouro, e
ficava no porto.
Inaugurou-se também a Casa
de Saúde do Dr. Demóstenes, com bênção do Bispo e discurso do Dr. Maurício. A
sala de operações para onde Aristóteles fora levado, por uma coincidência que
escapou a Dª Arminda, teve como primeiro hóspede, após a inauguração oficial, o
célebre Loirinho, com um tiro no ombro, resultado de uma briga no Bate-Fundo.
Foi instalado um
Vice-Consulado da Suécia e, no mesmo local, uma Agência de Companhia de
Navegação com nome longo e complicado. Via-se, de quando em vez, no bar de
Nacib, um gringo comprido como uma vara, em companhia de Mundinho Falcão, a
conversar e a beber “Cana de Ilhéus”.
Era agente da companhia
sueca e vice – cônsul. Um novo hotel estava a ser construído no porto, edifício
de cinco andares, um colosso. Os estudantes dirigiram ao povo, por intermédio
do Diário de Ilhéus, uma proclamação pedindo seus votos para o candidato que
garantisse, na Intendência, construir o ginásio municipal, um estádio de
desportos, um asilo para velhos e mendigos, e levar a Pirangi a estrada de
rodagem.
No outro dia, o capitão
comprometia-se, pelo mesmo jornal, a isso e muito mais.
Outra novidade foi o Jornal
do Sul passar a diário. É verdade que durou pouco, retornou a semanário uns
meses depois. Era quase exclusivamente político, descompunha Mundinho Falcão,
Aristóteles e o Capitão em todos os números. O Diário de Ilhéus respondia.
Anunciava-se para breve o
restaurante de Nacib. Já vários inqui linos
se haviam mudado do andar de cima. Apenas o jogo do bicho e dois empregados no
comércio continuavam em busca de outro alojamento.
Nacib dava pressa. Já
encomendara no Rio, por intermédio de Mundinho, seu sócio capitalista, uma
quantidade de coisas. O arqui tecto
maluco desenhara o interior do restaurante. O árabe andava novamente alegre.
Não com aquela completa alegria dos primeiros tempos de Gabriela, quando não
temia ainda que ela partisse.
Tão pouco agora tal coisa o
preocupava mas, para ser inteiramente feliz, seria preciso que ela se decidisse
de uma vez a comportar-se como uma senhora de sociedade. Já não se queixava de
desinteresse na cama. Andava ele mesmo muito cansado: na época das férias o bar
dava um trabalho infernal.
Acostumava-se com esse amor
da esposa, menos violento, mais tranqui lo
e doce. Sòmente ela resistia, passivamente, é verdade, a integrar-se na
alta-roda local. Apesar do sucesso que tivera na noite de Ano Bom com a
história do terno. Quando Nacib pensara que tudo fora por água abaixo, dera-se
aquela beleza: até ele terminara dançando na rua.
E não tinham a irmã e o
cunhado vindo visitá-los depois, conhecer Gabriela? Porque então continuava ela
a andar vestida em casa como uma pobretana, calçada em chinelas, a brincar com
o gato, a cozinhar, a arrumar, a cantar suas modas, a rir alto para todos que
com ela conversavam?
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