sexta-feira, novembro 16, 2012

Quando se é jovem e bela a vida é um enorme sorriso.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 141


Essas últimas coisas passaram-se no novo cabaré, O El -Dorado, instalado em Janeiro a fazer concorrência ao Bataclan e ao Trianon, pois importava, directamente do Rio, atracções e mulheres. Era propriedade de Plínio Araçá o do Pinga de Ouro, e ficava no porto.

Inaugurou-se também a Casa de Saúde do Dr. Demóstenes, com bênção do Bispo e discurso do Dr. Maurício. A sala de operações para onde Aristóteles fora levado, por uma coincidência que escapou a Dª Arminda, teve como primeiro hóspede, após a inauguração oficial, o célebre Loirinho, com um tiro no ombro, resultado de uma briga no Bate-Fundo.

Foi instalado um Vice-Consulado da Suécia e, no mesmo local, uma Agência de Companhia de Navegação com nome longo e complicado. Via-se, de quando em vez, no bar de Nacib, um gringo comprido como uma vara, em companhia de Mundinho Falcão, a conversar e a beber “Cana de Ilhéus”.

Era agente da companhia sueca e vice – cônsul. Um novo hotel estava a ser construído no porto, edifício de cinco andares, um colosso. Os estudantes dirigiram ao povo, por intermédio do Diário de Ilhéus, uma proclamação pedindo seus votos para o candidato que garantisse, na Intendência, construir o ginásio municipal, um estádio de desportos, um asilo para velhos e mendigos, e levar a Pirangi a estrada de rodagem.

No outro dia, o capitão comprometia-se, pelo mesmo jornal, a isso e muito mais.

Outra novidade foi o Jornal do Sul passar a diário. É verdade que durou pouco, retornou a semanário uns meses depois. Era quase exclusivamente político, descompunha Mundinho Falcão, Aristóteles e o Capitão em todos os números. O Diário de Ilhéus respondia.

Anunciava-se para breve o restaurante de Nacib. Já vários inquilinos se haviam mudado do andar de cima. Apenas o jogo do bicho e dois empregados no comércio continuavam em busca de outro alojamento.

Nacib dava pressa. Já encomendara no Rio, por intermédio de Mundinho, seu sócio capitalista, uma quantidade de coisas. O arquitecto maluco desenhara o interior do restaurante. O árabe andava novamente alegre. Não com aquela completa alegria dos primeiros tempos de Gabriela, quando não temia ainda que ela partisse.

Tão pouco agora tal coisa o preocupava mas, para ser inteiramente feliz, seria preciso que ela se decidisse de uma vez a comportar-se como uma senhora de sociedade. Já não se queixava de desinteresse na cama. Andava ele mesmo muito cansado: na época das férias o bar dava um trabalho infernal.

Acostumava-se com esse amor da esposa, menos violento, mais tranquilo e doce. Sòmente ela resistia, passivamente, é verdade, a integrar-se na alta-roda local. Apesar do sucesso que tivera na noite de Ano Bom com a história do terno. Quando Nacib pensara que tudo fora por água abaixo, dera-se aquela beleza: até ele terminara dançando na rua.

E não tinham a irmã e o cunhado vindo visitá-los depois, conhecer Gabriela? Porque então continuava ela a andar vestida em casa como uma pobretana, calçada em chinelas, a brincar com o gato, a cozinhar, a arrumar, a cantar suas modas, a rir alto para todos que com ela conversavam?

Site Meter