Até que ponto reiste o amor? |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 154
Nacib assentiu,
confortado. Certo de que acontecera com Mundinho Falcão caso idêntico ao seu.
Mulher bem-amada a traí-lo com outro. Mas teria havido casamento e
descasamento? Quase pergunta. Sentia-se em boa companhia.
- Pois, meu caro, quero lhe falar do
restaurante. Já devia estar inaugurado. É verdade que as coisas encomendadas no
Rio ainda não chegaram. Mas estão estourando por aí. Já embarcaram num Ita.
Não qui s
lhe incomodar com isso, você andava agoniado, mas, afinal, vão mais ou menos
dois meses que os últimos inqui linos
se mudaram do andar. É tempo de pensarmos no negócio. Ou você desistiu?
- Não, senhor. Porque havia de desistir? Só
que no começo não podia pensar. Mas agora já está tudo em ordem.
- Pois muito bem, é tocar para a frente.
Mandar fazer a reforma da sala, receber as encomendas do Rio. Para ver se
inauguramos no princípio de Abril.
- Pode ficar descansado.
De volta ao bar mandou
chamar o pedreiro, o pintor, o electricista. Discutiu os planos da reforma,
novamente cheio de entusiasmo, pensando no dinheiro a ganhar. Se tudo marchasse
bem, com um ano no máximo, poderia adqui rir
a sonhada roça de cacau.
Em toda aquela história,
só mesmo sua irmã e cunhado se portaram mal. Vieram a Ilhéus apenas souberam a
notícia. A irmã o infernou: «Não te disse?» O cunhado, com seu anel de doutor,
um ar de fastio, de quem sofria do estômago. A falarem mal de Gabriela, a
lastimarem Nacib. Ele calado, com vontade de pô-los fora de casa.
A irmã varejara os armários,
examinando os vestidos, os sapatos, as combinações, as anáguas, os xales.
Certos vestidos jamais os pusera Gabriela. A irmã exclamava:
- Esse está novo, nunca foi usado. Dá
direitinho para mim.
Nacib rosnou.
- Deixe isso aí. Não bula nessas coisas.
- E ainda mais essa! – ofendeu-se a Saad de
Castro.
- Será roupa de santo?
Voltaram para Água Preta. A cobiça da irmã
recordava-lhe o dinheiro gasto em vestidos, em sapatos, em jóias.
As jóias bastava levá-las
onde havia comprado, restituir com pequeno prejuízo. Os vestidos podia vender
na loja do tio. Também dois pares de sapatos novos. Nunca haviam sido calçados.
Era o que tinha a fazer. Mas, durante algum tempo, esqueceu a ideia, nem olhava
para os armários trancados.
No dia seguinte à conversa
com Mundinho, meteu as jóias no bolso do paletó, fez dois embrulhos com os
vestidos, os sapatos. Passou no joalheiro, depois na loja do tio.
Da cobra-de- vidro
No fim da tarde, naquele
crepúsculo interminável das roças, quando as sombras viravam assombrações pelas
matas e cacuais, a noite chegando sem pressa como a prolongar o estafante dia
de trabalho, Fagundes e Clemente terminaram de plantar.
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