sábado, dezembro 15, 2012

Distinção, classe...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 165

Houve um rumor de mesas e cadeiras arrastadas quando Coriolano apareceu na praça, vestido como um pobretão, andando para a casa onde antes habitara sua família e onde agora sua manceba regalava-se com o jovem professor.

Cruzaram-se perguntas: estará armado, vai bater de chicote, vai fazer escândalo, atirar? Coriolano metia a chave na porta, a agitação crescia no bar, Nacib andou para a porta do largo passeio. Ficaram atentos, à espera de gritos, talvez de tiros. Não houve nada disso. Da casa de Glória não chegava nenhum rumor.

Transcorreram uns minutos demorados, os fregueses do bar entreolhavam-se. Nhô-Galo, nervoso, segurava-se no braço de Nacib, o Capitão propunha a ida de um grupo até lá para evitar uma desgraça. João Fulgêncio discordou da diligência bisbilhoteira:

 - Não é necessário. Não vai suceder nada. Aposto. E não sucedeu. A não ser a saída porta fora, de braço dado, de Glória e Josué, andando pela avenida da praia para evitar a passagem ante o Vesúvio movimentado.

Um pouco depois, a empregada foi trazendo e arrumando no passeio, baús e malas, um violão e um urinol, único detalhe divertido em toda esta história. Sentou-se por fim em cima da mala mais alta e ficou à espera.

A porta foi trancada por dentro. Depois apareceu um carregador para apanhar as malas. Passadas as onze horas, porém, quando já havia pouca gente no bar.

Sensacional, em compensação, foi a notícia da visita de Amâncio Leal a Mundinho, dias depois. O fazendeiro viajara para suas roças em seguida ao enterro de Ramiro. Lá ficara sem dar sinal de si, durante semanas.

A campanha eleitoral sofrera brusca solução de continuidade com a morte do velho pajé, como se os oposicionistas já não tivessem a quem combater e os do governo não soubessem como agir sem o seu chefe de tantos anos.

Finalmente, Mundinho e seus amigos voltaram a movimentar-se. Mas o faziam a um ritmo muito lento, sem aquele entusiasmo, aquele corre-corre do início da campanha.

Amâncio Leal desceu do trem e marchou directo para o escritório do exportador. Era pouco mais de quatro horas da tarde, o centro comercial regurgitava de gente.

A notícia correu célere, chegou aos quatro cantos de cidade, antes mesmo da conferência haver terminado. Uns quantos basbaques juntaram – se no passeio de fronte da casa exportadora, as cabeças levantadas, espiando as janelas do escritório de Mundinho.

O coronel apertava a mão do adversário, sentara na confortável poltrona, recusara o licor, a cachaça, o charuto:

 - Seu Mundinho, todo esse tempo combati o senhor. Fui eu quem mandou tocar fogo nos jornais. Sua voz macia, seu único olho e as palavras claramente pronunciadas, como se resultassem de lona reflexão. – Fui eu também quem mandou atirar em Aristóteles.

Acendeu um cigarro, continuou:

 - Estava preparado para virar Ilhéus pelo avesso. Pela segunda vez. Quando eu era mais moço, em companhia do compadre Ramiro, já tinha virado uma vez.

 - Parou para recordar.

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