Distinção, classe... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 165
Houve um rumor de mesas e
cadeiras arrastadas quando Coriolano apareceu na praça, vestido como um
pobretão, andando para a casa onde antes habitara sua família e onde agora sua
manceba regalava-se com o jovem professor.
Cruzaram-se perguntas:
estará armado, vai bater de chicote, vai fazer escândalo, atirar? Coriolano
metia a chave na porta, a agitação crescia no bar, Nacib andou para a porta do
largo passeio. Ficaram atentos, à espera de gritos, talvez de tiros. Não houve
nada disso. Da casa de Glória não chegava nenhum rumor.
Transcorreram uns minutos
demorados, os fregueses do bar entreolhavam-se. Nhô-Galo, nervoso, segurava-se
no braço de Nacib, o Capitão propunha a ida de um grupo até lá para evitar uma
desgraça. João Fulgêncio discordou da diligência bisbilhoteira:
- Não é necessário. Não vai suceder nada. Aposto.
E não sucedeu. A não ser a saída porta fora, de braço dado, de Glória e Josué,
andando pela avenida da praia para evitar a passagem ante o Vesúvio
movimentado.
Um pouco depois, a
empregada foi trazendo e arrumando no passeio, baús e malas, um violão e um
urinol, único detalhe divertido em toda esta história. Sentou-se por fim em
cima da mala mais alta e ficou à espera.
A porta foi trancada por
dentro. Depois apareceu um carregador para apanhar as malas. Passadas as onze
horas, porém, quando já havia pouca gente no bar.
Sensacional, em
compensação, foi a notícia da visita de Amâncio Leal a Mundinho, dias depois. O
fazendeiro viajara para suas roças em seguida ao enterro de Ramiro. Lá ficara
sem dar sinal de si, durante semanas.
A campanha eleitoral
sofrera brusca solução de continuidade com a morte do velho pajé, como se os oposicionistas
já não tivessem a quem combater e os do governo não soubessem como agir sem o
seu chefe de tantos anos.
Finalmente, Mundinho e
seus amigos voltaram a movimentar-se. Mas o faziam a um ritmo muito lento, sem
aquele entusiasmo, aquele corre-corre do início da campanha.
Amâncio Leal desceu do
trem e marchou directo para o escritório do exportador. Era pouco mais de
quatro horas da tarde, o centro comercial regurgitava de gente.
A notícia correu célere,
chegou aos quatro cantos de cidade, antes mesmo da conferência haver terminado.
Uns quantos basbaques juntaram – se no passeio de fronte da casa exportadora,
as cabeças levantadas, espiando as janelas do escritório de Mundinho.
O coronel apertava a mão
do adversário, sentara na confortável poltrona, recusara o licor, a cachaça, o
charuto:
- Seu Mundinho, todo esse tempo combati o
senhor. Fui eu quem mandou tocar fogo nos jornais. Sua voz macia, seu único
olho e as palavras claramente pronunciadas, como se resultassem de lona reflexão.
– Fui eu também quem mandou atirar em Aristóteles.
Acendeu um cigarro,
continuou:
- Estava preparado para virar Ilhéus pelo
avesso. Pela segunda vez. Quando eu era mais moço, em companhia do compadre
Ramiro, já tinha virado uma vez.
- Parou para recordar.
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