No caso em concreto devia ser cacau... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 162
Às cinco horas o enterro saíu. A multidão não cabia na
rua, espalhava-se pela praça. Já começavam os discursos na beira do túmulo –
falaram Dr. Maurício, Dr. Juvenal, advogado de Itabuna, o Doutor, pela oposição,
o Bispo pronunciou umas palavras – e ainda parte do acompanhamento estava
subindo a Ladeira da Vitória para chegar ao cemitério.
À noite os cinemas fechados, os cabarés apagados, os
bares vazios, a cidade parecia deserta como se todos houvessem morrido.
Do fim (oficial) da solidão.
A ilegalidade é perigosa e complicada. Requer paciência,
sagacidade, viveza e um espírito sempre alerta. Não é fácil manter íntegros os
cuidados que ela exige. Difícil é preservá-la do desleixo, natural com o correr
do tempo e o aumento insensível da sensação de segurança.
De começo exageram-se as precauções, mas pouco a
pouco, vão elas sendo abandonadas, uma a uma. A ilegalidade vai perdendo seu carácter,
despe-se do seu manto de mistério e de repente, o segredo de todos ignorado é
notícia na boca do mundo. Foi sem dúvida o que ocorreu com Josué e Glória.
Xodó, rabicho, paixão, amor – dependia da cultura e da
boa vontade do comentarista a classificação do sentimento – era facto conhecido
de todo Ilhéus o vínculo existente entre o professor e a mulata.
Falava-se daqui lo
não só na cidade, mas até em fazendas perdidas para o lado da serra do Baforé. No
entanto, nos dias iniciais todos os cuidados pareciam insuficientes a Josué e,
sobretudo a Glória.
Ela explicara ao amante as duas profundas e
respeitáveis razões porque desejava manter o povo de Ihéus em geral e o coronel
Coriolano Ribeiro, em particular, na ignorância de toda aquela beleza cantada
em prosa e verso por Josué, daquela santa alegria a resplandecer nas faces de
Glória.
Primeiro devido ao pouco recomendável passado de violências
do fazendeiro. Ciumento, não perdoava traição de rapariga. Se lhe pagava luxo
de rainha, exigia direitos exclusivos sobre seus valores.
Glória não desejava arriscar-se a uma surra e a
cabelos rapados como sucedera com Chiqui nha.
Nem arriscar os delicados ossos de Josué pois apanhara também Juca Viana, o
sedutor.
E também ele tivera a cabeleira rapada a navalha. Segundo,
porque não queria perder, com os cabelos e a vergonha o conforto da casa esplêndida,
da conta na loja e no armazém, da empregada para todo o serviço, dos perfumes, do
dinheiro
Guardado a chave no fundo da gaveta.
Assim, Josué devia entrar em sua casa após haver-se
recolhido o último noctívago e sair antes de levantar-se o primeiro madrugador.
Desconhecê-la por completo fora dessas horas quando,
com ardor e voracidade, vingavam-se, no leito a ranger, de tais limitações.
É possível manter tão estrita ilegalidade uma semana, qui nze dias. Depois começam os descuidos, a falta de
vigilância, de atenção.
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