Morreu o coronel Ramiro Bastos. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 161
O Diário de Ilhéus,
tarjado de negro, fazia o elogio do coronel: «Nesta hora de luto e dor cessam
todas as divergências. O coronel Ramiro Bastos foi um grande homem de Ilhéus.
A ele devem a cidade, o
município e a região muito do que possuem. O progresso de que hoje nos
orgulhamos e pelo qual nos batemos sem Ramiro Bastos não existia».
Na mesma página, entre
muitos outros avisos fúnebres – da família, da Intendência, da Associação
Comercial, da Confraria de São Jorge, da família Amâncio Leal, da Estrada de
Ferro Ilhéus - Conqui sta, lia-se um
do Partido Democrático da Baía (Secção de Ilhéus), convidando todos os seus
correligionários a comparecer ao enterro do «inesquecível homem público, adversário
leal e cidadão exemplar». Assinavam Raimundo Mendes Falcão, Clóvis Costa,
Manuel Baptista de Oliveira, Pelópidas de Assunção d’Ávila e o coronel Artur
Ribeiro.
Alfredo Bastos e Amâncio
Leal recebiam na sala das cadeiras de alto espaldar onde repousava o corpo, os
pêsames de uma multidão a desfilar por toda a manhã e à tarde.
Tonico fora avisado por
telegrama. Ao meio-dia, acompanhado de enorme coroa, Mundinho Falcão entrou na
casa, abraçou Alfredo, apertou, comovido, a mão de Amâncio.
Jerusa parada junto ao
caixão, orvalhada de lágrimas a sua face de madre-pérola. Mundinho aproximou-se,
ela levantou os olhos, rebentou em soluços, fugiu da sala.
Às três horas da tarde já
não cabia ninguém dentro da casa. A rua, até às vizinhanças do Clube Progresso
e da Intendência estava cheia de gente. Viera Ilhéus em peso, um trem especial
e três marinetes de Itabuna.
Altino Brandão chegou de
Rio do Braço, disse a Amâncio:
- Foi melhor assim, vosmicê não acha? Morreu
antes de perder, morreu mandando como ele gostava. Era homem de opinião, dos
antigos. O último que havia.
O Bispo, acompanhado de
todos os padres. A Irmã Superior do Colégio das Freiras com as freiras e as
alunas formadas na rua, esperando a saída do enterro. Enoch, com todos os
professores e alunos do seu Ginásio. Os professores e alunos do Grupo Escolar,
os meninos do Colégio de Dª Guilhermina e dos demais colégios particulares.
A Confraria de São Jorge,
o Dr. Maurício vestido com a bata vermelha. O Mister vestido de preto, o
comprido sueco da navegação, o casal de gregos. Exportadores, comerciantes,
fazendeiros (o comércio serrara suas portas em sinal de luto) e gente do povo
descida dos morros, vinda de Pontal e da Ilha das Cobras.
Com dificuldade,
acompanhada de Dª Arminda, Gabriela abriu caminho até à sala repleta de coroas
e de gente. Conseguiu aproximar-se do caixão, suspendeu o lenço de seda a
cobrir o rosto do morto, fitou-o um instante. Depois, debruçou-se sobre a mão
branca de cera e a beijou.
No dia da inauguração do
presépio das irmãs Dos Reis, o coronel fora gentil com ela. Na vista da cunhada,
do cunhado doutor. Abraçou Jerusa, a moça prendeu-se em seu pescoço a chorar. Chorava
também Gabriela, muita gente soluçava na sala. Os sinos de todas as Igrejas
dobravam a finados.
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