terça-feira, dezembro 11, 2012


Modelo de Desenvolvimento


Pairam nas conversas das pessoas com responsabilidades na sociedade as palavras comedidas sobre um futuro que se aguarda com um misto de expectativa e receio.
Há um factor psicológico que parece ser decisivo no relançamento de toda a actividade económica, porque depende do comportamento das pessoas, da forma como elas vão gerir dentro de si os medos e os fantasmas de um futuro incerto e desconhecido.
Elas próprias também não sabem, tudo se precipitou de uma forma demasiado rápida, foi uma espécie de derrocada, de avalanche de notícias perfeitamente surpreendentes que a todos deixaram perplexos, mesmo àqueles que estavam no epicentro do mundo das finanças.
Entretanto, os multimilionários aparecem nas primeiras páginas dos jornais por terem visto o valor das suas fortunas diminuir de não sei quantos milhões como se a qualidade das suas vidas e dos seus familiares ficasse afectada pela circunstância de terem ficado “apenas”com 300 quando antes tinham 600... milhões.
Deste ponto de vista, o prejuízo será sempre dos trabalhadores que verão novos investimentos geradores de postos de trabalho adiados e parte dos actuais suprimidos.
A criação de riqueza e do emprego depende sempre do investimento, publico ou privado e uma parte considerável deste é feito, por sua vez, por algumas dessas pessoas muito ricas, que em situações de retracção do mercado adiam investimentos.
E quando falamos de pessoas muito ricas temos que separar as águas e não meter no mesmo saco aqueles que criaram as suas fortunas a partir de empresas bem geridas e que deram lucros produzindo riqueza, criando empregos e pagando impostos e os outros, os especulativos que chegaram a milionários com um sentido apurado para os negócios, (comprar e vender) e para quem só foi difícil arranjar o primeiro milhão… depois teremos ainda os casos de polícia.
O problema da crise está, pois, nos desempregados que mesmo com direito a um subsídio de desemprego alargado por mais seis meses, vêm a solução do problema das suas vidas, mais do que em situações anteriores, passar por eles e isto numa conjuntura em que a crise se generaliza a outros países que na história recente constituíam a reserva de emprego para os portugueses em situações difíceis da vida nacional.
Vai ser necessário reganhar confiança, apelar à imaginação, sair do torpor do pessimismo sem nos deixarmos abater pelos sacrifícios que inevitavelmente vão recair sobre muitas famílias.
Não tenhamos dúvidas, o desafio vai ser lançado à capacidade de sobrevivência das pessoas e, neste aspecto, os portugueses têm uma preparação e um treino ancestral que outros povos da Europa não possuem, a menos que a actual geração tenha perdido qualidades.
É verdade que nas últimas dezenas de anos uma grande percentagem da população portuguesa e, naturalmente, estou a referir-me aos mais jovens, se habituou, felizmente, ao “bem bom” da vida bem preenchida pela possibilidade de satisfazerem uma grande variedade de novas necessidades.
Mas nestas coisas, como em tudo, não há bela sem senão e as facilidades da vida não ajudam a desenvolver mecanismos de sobrevivência, no entanto, as potencialidades estão connosco porque acredito que postas à prova ao longo de tantas gerações se passaram para a nossa herança genética.
Entretanto, os teóricos das problemáticas sociais e políticas aproveitam estes momentos, e bem, para tentarem ir ao fundo das questões e aí vem à baila, entre outras coisas, o Modelo de Desenvolvimento.
Se vamos ter que reiniciar qualquer coisa é perfeitamente lógico que nos debrucemos sobre o que fazíamos e como o fazíamos para “emendar a mão” olhando o longo prazo, porque a nossa vida é breve mas continua nos nossos filhos, netos e bisnetos “and so on" e gostar deles não é satisfazer-lhes, hoje, os caprichos e aumentar dívidas para eles pagarem no amanhã.
Como não tenho dúvidas de que não há alternativa para um sistema de economia de mercado ou capitalismo, como quiserem, desenvolvido no respeito pela livre iniciativa das pessoas e pelas leis oriundas de Assembleias e Governos eleitos democraticamente pelos cidadãos é, neste quadro, que nos temos de nos movimentar e face ao que está a acontecer uma conclusão não pode deixar de ser tirada: o capitalismo financeiro com as suas off-shores e tudo o resto que lhe está associado, provou ser perfeitamente suicida para a sociedade e para o mundo.
Até que ponto vai ser possível a sua eliminação e passagem a um capitalismo de Estado, efectivamente regulador das actividades dos agentes económicos e financeiros tendo como prioridades a satisfação de necessidades de natureza social, ecológica e de uma mais justa repartição da riqueza, irá ser a grande questão e maior ainda se pensarmos que tudo tem de ser feito sem hesitações e de uma forma assumida por todos os que quiserem fazer parte da solução.
Mas não vale a pena advogar, como tive oportunidade de ouvir, que a cooperação deve substituir a competição porque isso é demagogia. O homem é naturalmente competitivo e a competição está instalada na natureza, faz parte dela sem excluir a cooperação. Simplesmente, a competição faz-se nos lugares próprios e com regras. Fora deste quadro a vida transforma-se numa "selvajaria" sem selva. Como dizia o povo num calão já em desuso "é um ver se te avias que é uma pressa".

O “contra vapor” irá inevitavelmente aparecer por parte de todos os que têm interesses ligados à situação que nos trouxe até esta crise e essa gente, embora uma pequena minoria, tem muito poder, influência e uma forte rede de cumplicidades. As cartas estão lançadas… a luta, uma luta global, mais que um jogo, vai começar.

Este texto foi colocado aqui, no Memórias Futuras, em Dezembro de 2008, logo após a crise do "sub - prime" com a falência do banco de Investimento dos E.U.  "Lehman Brothers" e de muitos outros por arrastamento num efeito dominó.

Então, países como a Alemanha, a França, a Áustria, a Itália e Países Baixos anunciaram pacotes de 1. 170 triliões de Euros para ajudar os seus sistemas financeiros.

Hoje, passados 4 anos, continuam ainda os apoios à Banca de forma prioritária mas, apoios financeiros a projectos de investimentos públicos que criassem riqueza e emprego salvando da miséria, não tenhamos medo do nome, cerca de 25 milhões de desempregados  na Europa, parecem estar proibidos a favor de equilíbrios orçamentais, de montantes de dívidas soberanas, com cortes nas despesas sociais dos Estados para os quais as pessoas descontaram uma vida inteira criando legítimas expectativas. O poder de compra das pessoas inevitavelmente baixa, o consumo diminui, as empresas vendem menos provocando mais despedimentos num processo de círculo vicioso.
Isto numa Europa que delineou políticas que conduziram ao endividamento dos países e que agora os asfixiam com dívidas e juros incomportáveis que não poderão ser pagos por economias em recessão.  

Salvam-se os os bancos mas afundam-se as famílias... que raio de critérios estes!

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