Oxalá não caia... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 158
Nos bares, na papelaria,
na Papelaria Modelo, Nas conversas na banca do peixe, dividiam-se as posições.
Alguns afirmavam que o governo continuaria a prestigiar Ramiro Bastos, só
reconheceria os seus candidatos, mesmo se eles fossem derrotados.
Não era o velho coronel um
dos sustentáculos da situação estadual, não a apoiara em momentos difíceis?
Outros achavam que o Governo ficaria com quem vencesse na boca das urnas.
Estava o governador no fim do período. O novo mandatário precisaria de apoio
para administrar.
Se Mundinho ganhasse,
diziam eles, o novo Governador os reconheceria, assim contaria com Ilhéus e
Itabuna. Os Bastos já não valiam mais nada, eram um bagaço, só serviam para
jogar fora.
Terceiros pensavam que o
Governo trataria de agradar às duas partes. Não reconheceria Mundinho, deixando
que o médico do Rio continuasse a mamar o subsídio de deputado federal. Na
Câmara Estadual manteria Alfredo Bastos. Em troca reconheceria o Capitão, de
cuja vitória ninguém duvidava.
O Intendente de Itabuna
seria, é claro, o candidato de Aristóteles, um seu compadre, pra que ele
continuasse a administrar. Por outro lado, previam, o Governo ofereceria a
Mundinho a vaga de senador estadual a abrir-se quando Ramiro morresse. Afinal,
o velho, já festejara oitenta anos e três anos.
- Esse vai aos cem…
- Vai mesmo. Essa vaga de senador, Mundinho
vai ter de esperar muito tempo…
Assim, o Governo ficaria
bem com uns e com outros, reforçaria no Sul do Estado.
- Vai é ficar mal com os dois lados…
Enquanto a população
conjecturava e discutia, os candidatos das duas facções se desdobravam.
Visitas, viagens, baptizados em profusão, presentes, comícios, discursos. Não
se passava Domingo sem comício em Ilhéus, em Ilhéus, em Itabuna, aos povoados.
O Capitão já pronunciara
mais de cinquenta discursos. Andava de garganta rebentada, afónico, a repetir
tiradas retumbantes. A prometer mundos e fundos, grandes reformas em Ilhéus,
estradas, melhoramentos, para completar a obra iniciada por seu pai, o
inesquecível Cazuza de Oliveira.
O Dr. Maurício não o fazia
por menos. Enquanto o Capitão falava na Praça Seabra, ele citava a Bíblia na
Praça Rui Barbosa. João Fulgêncio afirmava:
- Já sei todo o Velho Testamento de cor. De
tanto ouvir discursos de Maurício. Se ele ganhar, filhos meus, tornará a
leitura da Bíblia obrigatória, em coro, diariamente em Praça Pública ,
puxada pelo padre Cecílio.
Quem vai sofrer mais é o
padre Basílio. Tudo o que ele sabe da Bíblia é que o Senhor disse: «Crescei e
multiplicai-vos»
Mas enquanto o Capitão e o
Dr. Maurício Caíres, rediziam-se à cidade e aos povoados e vilas do município,
Mundinho, Alfredo e Ezequi el
viajavam para Itabuna, Ferradas, Macuco, correndo a zona do cacau, pois
dependiam dos votos de toda a região.
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