sábado, dezembro 29, 2012

Será que vai ter uma  2ª oportunidade?

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 176


- Tu vai fazer? De verdade?

 - Junto de mim mulher é para rir, não para chorar.

Gabriela sorriu. O camarada do campo de batalha semicerrou os olhos de brasa e pensou ser melhor assim. Podia partir, continuar seu caminho, sua liberdade no peito, seu livre coração.

Melhor que ela morresse por outro, essa única no mundo capaz de prendê-lo, de amarrá-lo àquele porto pequeno, àquele cais de cacau, de dobrá-lo e domá-lo.

Nessa noite pensava dizer-lhe, contar-lhe, entregar-se rendido de amor. Melhor assim, suspirando e chorando por outro, por outro morrendo de amor. Sete Voltas podia ir-se embora. Camarada do campo da batalha, vamos embora pelo mundo afora.

Ela puxou-lhe a mão, abriu-se a agradecer. Barca em mar sereno, navegação de recôncavo, ilha plantada de canaviais e pimenteiras. Navegava na barca de proa altaneira o camarada do campo de batalha. Eh!, camarada, ardia seu peito, a dor de perdê-la. Mas era um deus de terreiro, na mão direita o orgulho, a liberdade na esquerda.

Do benemérito cidadão.

Naquele sábado, véspera da solene inauguração do Restaurante do Comércio, o seu proprietário, o árabe Nacib, podia ser visto, em mangas de camisa, correndo como um louco pela rua, o volumoso ventre a balançar sobre o cinto, os olhos esbugalhados, em direcção à casa exportadora de Mundinho Falcão.

Na porta da colectoria federal, o Capitão conseguiu frear a carreira ansiosa, segurando o dono do bar pelo braço:

 - O que é isso, homem, onde vai com tanta pressa?

Nascido amável e amigueiro, requintava o Capitão em gentileza desde a proclamação da sua candidatura a Intendente:

 - Sucedeu alguma coisa? Em que posso lhe servir?

 - Sumiu! Sumiu! -  arfava Nacib.

 - Sumiu, o quê?

 - O cozinheiro, o tal de Fernand.

Não tardou e toda a cidade estava a par do intricado mistério: desde a véspera à noite o cozinheiro vindo do Rio, o espectacular “chefe de cuisine”, Monsieur Fernand (como gostava de ser chamado), desaparecera de Ilhéus.

Combinara com dois garçons contratados para o restaurante e com os ajudantes de cozinha um encontro pela manhã para assegurarem as últimas disposições para o dia seguinte. Não aparecera, ninguém o vira.

Mundinho Falcão mandou chamar o delegado, explicou o caso, recomendou-lhe investigações meticulosas. Era aquele mesmo tenente que o secretário da Intendência de Itabuna botara a correr. Agora todo humilde e servil junto de Mundinho, a tratá-lo de doutor.

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