quinta-feira, dezembro 06, 2012

Um momento de descontracção...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
 Episódio Nº 157

 

O silêncio de Clemente era uma resposta. As sombras cresciam não iria tardar, e a mula-de-padre, vinda do inferno, solta na mata, passaria a correr, os cascos batendo nas pedras, em lugar da cabeça um fogo saindo do pescoço cortado.

 - Que tu vai ganhar, que serventia vai ter tu ver ela outra vez? Tá uma dona casada, mais bonita que nunca, não mudou a natureza com o casório, fala com a gente da mesma maneira. Pra que tu quer ver? Num adianta.

 - Só pra ver. Pra ver uma vez, espiar a cara dela, sentir seu cheiro. Pra ver ela rir, aprender outra vez.

 - Tu tem ela plantada no teu pensar. Tu só pensa nela. Eu já arreparei, tu agora só fala em pedaço de terra por falar. Depois que tu veio saber do casamento. Pra que tu quer ver?

Uma cobra-de-vidro saíu do mato, correu na estrada. Na sombra difusa seu corpo brilhava, era bela de ver-se, parecia um milagre na noite da roça.

Avançou Clemente, baixou a enxada, em três pedaços partiu-se a cobra-de-vidro. Com outra pancada esmagou-lhe a cabeça.

 - Porque tu fez isso? Não é venenosa… Não faz mal a ninguém.

 É bonita de mais, só com isso faz mal. Andaram em silêncio um pedaço da estrada. O negro Fagundes disse:

 - Mulher a gente não deve matar. Mesmo que a desgraçada desgrace a vida da gente.

 - Quem falou em matar?

Jamais o faria, não tinha coragem, forças não tinha. Mas era capaz de dar dez anos de vida, a esperança de um pedaço de terra, para vê-la mais uma vez, uma só, seu riso escutar. Era uma cobra-de-vidro, não tinha veneno mas semeava aflições, só de passar entre os homens como um mistério, um milagre. Nos tocos de pau, no fundo da mata, o pio das corujas a chamar Gabriela.

Dos Sinos a Dobrar Finados

Os jagunços não chegaram a descer das roças. Nem os de Melk, de Jesuíno, de Coriolano, de Amâncio Leal. Não foi necessário.

Também aquela campanha eleitoral tomara aspectos novos, inéditos para Ihéus, Itabuna, Pirangi, Água Preta, para a região cacaueira. Antes, os candidatos, certos da vitória, nem apareciam. Quando muito visitavam os coronéis mais poderosos, donos de maior extensão de terra e de maior número de pés de cacau.

Desta vez era diferente. Ninguém tinha a certeza de ser eleito, era preciso disputar os votos. Antes os coronéis decidiam, sob as ordens de Ramiro Bastos. Agora estava tudo atrapalhado, se Ramiro ainda mandava em Ilhéus, dava ordens ao Intendente, em Itabuna mandava Aristóteles, seu inimigo.

Um e outro apoiavam o Governo do Estado. E o Governo a quem apoiaria depois das eleições? Mundinho não permitia que Aristóteles rompesse com o Governador.
                                                               

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