quinta-feira, janeiro 17, 2013


A Matilde


Acabei agora de conhecer a minha segunda neta do coração, a Matilde. Um bebé perfeito que ainda não tem dois dias de vida, sem história para além da que lhe vem nos genes.

Olhando para ela, fui levado a pensar no aumento dos impostos para 2013, do corte das Despesas Públicas de 4.000 milhões, dos receios e apreensões que vão no espírito de todos os portugueses no início deste ano de 2013.
Um país deprimido, medroso mesmo, é o que a espera. No ano passado, nasceram pela primeira vez, desde há muitos anos, menos de 100.000 bebés em Portugal mas a Matilde, corajosa, com total desprezo por ventos, marés e maus presságios, atirou-se à vida para aproveitar a oportunidade que lhe coube.
Atrás de si tem a herança de milhares de gerações que a precederam, todos os seus antepassados: os recentes, os menos recentes e os remotos, estão lá todos, numa longa história de vida à qual ela vai dar continuidade. Um elo da cadeia, de uma cadeia de genes que vão lutar bravamente numa competição feroz porque é assim que manda a natureza.
Relativamente à herança ela não pode fazer nada mas o seu exemplo de vida será um contributo que virá influenciar a humanidade e a herança daqueles que a vão seguir. Cada um de nós acrescenta um tijolo no edifício. A Matilde prepara-se para começar a colocar o seu.
 O cientista e Prémio Nobel, Richard Dawkins, equiparou os nossos genes aos gangsters de Chicago porque a sobrevivência deles – leia-se a nossa, que os transportamos -  durante milhões de anos, foi em condições difíceis e muito competitivas e por isso, é natural que eles tenham desenvolvido qualidades, algumas de um egoísmo implacável, que dará lugar a comportamentos individuais egoístas.
Na minha neta Filipa, ao fim de sete anos de vida foi evidente uma grande preocupação e sensibilidade para com os outros, genuína, sincera, mas também, paralelamente, um comportamento altamente competitivo e desafiante.
O meio social em que vivemos hoje é igualmente muito competitivo. Quem não o for está em desvantagem na luta pela vida.
A Matilde vai ter ao seu dispor meios que antes não existiam e hoje nem todos dispõem. Tal como a Filipa, pode contribuir, como pessoa livre, para fazer do nosso mundo um paraíso ou um deserto, para tornar a nossa vida agradável ou um inferno e fazer história, hoje, é fazer exactamente esta escolha.
Em cada novo dia que se abre para o mundo, tudo depende de quem está vivo e do exemplo que transmitirá a quem nasce, ou seja, a todas as Matildes deste mundo que se seguirem.  

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