quarta-feira, janeiro 02, 2013


GABRIELA

CRAVO

E

CANELA

Episódio Nº 179

 - E então? O único erro em toda esta história foi você ter casado com ela. Foi ruim para você, pior para ela. Você quer, eu falo com ela.
- Será que aceita?
- Garanto que aceita. Vou agora mesmo.
- Diga que é só por uns tempos…
- Porquê? É uma cozinheira, você a empregará enquanto ela lhe servir bem. Porquê uns tempos?
Volto já com a resposta.
Foi assim que nessa mesma noite, nadando em alegria, Gabriela limpou e ocupou o quartinho dos fundos. Antes agradecera a Sete Voltas em casa de Dora.
Da janela de Nacib abanara o lenço quando, depois das seis da tarde, o Canavieiras atravessou a barra e rumou para a Baía.
No outro dia, na hora de almoço, os convidados, mais de cinquenta, encontraram de novo os pratos de todo sabor, a comida sem igual, o tempero entre o sublime e o divino.
Sucesso grande o almoço de inauguração. Com o aperitivo foram servidos aqueles salgados e doces de outrora.
Na mesa, os pratos sucederam-se num desfile de maravilhas. Nacib, sentado entre Mundinho e o Juiz de Direito, ouviu comovido, os discursos do Capitão e do Doutor.
“Benemérito filho de Ilhéus” dissera o Capitão, devotado ao progresso da sua terra. «Digno cidadão Nacib Saad, dotando Ilhéus de um restaurante à altura das grandes capitais» louvara o Doutor. Josué respondeu em nome de Nacib, agradecendo e elogiando, ele também, o árabe. Era uma consagração, culminando com as palavras de Mundinho, desejoso, como disse, de “dar a mão à palmatória”.
Fizera vir cozinheiro do Rio, Nacib fora contra. Tinha razão. Não havia no mundo comida capaz de comparar-se com essa da Baía.
E então todos quiseram ver o artista daquele almoço, as mãos de fada criadoras de tais gostosuras. João Fulgêncio levantou-se, foi buscá-la na cozinha. Ela apareceu sorrindo, calçada em chinelas, um avental branco sobre o vestido de fustão azul, uma rosa rubra atrás da orelha.
O Juiz gritou: «Gabriela!» Nacib anunciou em voz alta:
- Contratei outra vez de cozinheira…
Josué bateu palmas, Nhô Galo também, todos aplaudiram, alguns levantaram-se para cumprimentá-la. Ela sorriu, os olhos baixos, uma fita amarrada nos cabelos.
Mundinho Falcão murmurou para Aristóteles a seu lado:
- Esse turco é um mestre do bom viver…

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