GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 179
- E então? O único erro em toda esta história
foi você ter casado com ela. Foi ruim para você, pior para ela. Você quer, eu
falo com ela.
- Será que aceita?
- Garanto que aceita.
Vou agora mesmo.
- Diga que é só por uns
tempos…
- Porquê? É uma
cozinheira, você a empregará enquanto ela lhe servir bem. Porquê uns tempos?
Volto já com a
resposta.
Foi assim que nessa
mesma noite, nadando em alegria, Gabriela limpou e ocupou o quartinho dos
fundos. Antes agradecera a Sete Voltas em casa de Dora.
Da janela de Nacib
abanara o lenço quando, depois das seis da tarde, o Canavieiras atravessou a
barra e rumou para a Baía.
No outro dia, na hora
de almoço, os convidados, mais de cinquenta, encontraram de novo os pratos de
todo sabor, a comida sem igual, o tempero entre o sublime e o divino.
Na mesa, os pratos
sucederam-se num desfile de maravilhas. Nacib, sentado entre Mundinho e o Juiz
de Direito, ouviu comovido, os discursos do Capitão e do Doutor.
“Benemérito filho de
Ilhéus” dissera o Capitão, devotado ao progresso da sua terra. «Digno cidadão
Nacib Saad, dotando Ilhéus de um restaurante à altura das grandes capitais»
louvara o Doutor. Josué respondeu em nome de Nacib, agradecendo e elogiando,
ele também, o árabe. Era uma consagração, culminando com as palavras de
Mundinho, desejoso, como disse, de “dar a mão à palmatória”.
Fizera vir cozinheiro
do Rio, Nacib fora contra. Tinha razão. Não havia no mundo comida capaz de
comparar-se com essa da Baía.
E então todos quiseram
ver o artista daquele almoço, as mãos de fada criadoras de tais gostosuras.
João Fulgêncio levantou-se, foi buscá-la na cozinha. Ela apareceu sorrindo,
calçada em chinelas, um avental branco sobre o vestido de fustão azul, uma rosa
rubra atrás da orelha.
O Juiz gritou:
«Gabriela!» Nacib anunciou em voz alta:
- Contratei outra vez
de cozinheira…
Josué bateu palmas, Nhô
Galo também, todos aplaudiram, alguns levantaram-se para cumprimentá-la. Ela
sorriu, os olhos baixos, uma fita amarrada nos cabelos.
Mundinho Falcão
murmurou para Aristóteles a seu lado:
- Esse turco é um
mestre do bom viver…
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