quinta-feira, janeiro 10, 2013


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 186

Quando faltavam apenas quatro dias para o domingo das eleições, por volta das três horas da tarde, o navio sueco, cargueiro de tamanho jamais visto naquelas paragens, apitou majestoso no mar de Ilhéus.

O negrinho Tuísca saíu a correr com a notícia e a distribuía de graça nas ruas do centro. A população juntou-se na avenida da praia.

Nem a chegada do bispo foi assim animada. Os foguetes subiam, estouravam no céu. Apitavam dois baianos no porto, os búzios das barcaças e lanchas saudavam o cargueiro. Saveiros e canoas saíram fora da barra, afrontando o mar alto para comboiar o barco sueco.

Atravessou lentamente a barra, dos seus mastros pendiam bandeiras de todos os países, numa festa de cores. O povo corria pelas ruas, reunia-se no cais. Formigavam as pontes, repletas de gente. Veio a Euterpe 13 de Maio tocando a dobrados, Joaquim no bombo a bater. Fechara o comércio as suas portas. Feriaram os colégios particulares, o Grupo Escolar, o Ginásio de Enoch.

A meninada aplaudia no porto, as moças do Colégio das Freiras namoravam nas pontes. Buzinavam automóveis, caminhões, marinetes. Num grupo, rindo alto, Glória entre Josué e Ribeirinho afrontando as senhoras.

Tonico Bastos, a serenidade em pessoa, de braço dado com Dª Olga. Jerusa de luto fechado, cumprimentava Mundinho. Nilo com seu apito, comandava Terêncio. Traíra, o moço Baptista. O padre Basílio com seus afilhados. O perneta do Bate Fundo olhando com inveja Nacib e Plínio Araça. Persignavam-se solteironas, sorriam saltitantes as irmãs Dos Reis.

No próximo presépio figuraria o cargueiro. Senhoras da alta-roda, moças casadoiras, mulheres da vida. Maria Machadão, generala das ruas de canto e dos cabarés. O Doutor preparando a garganta, as palavras difíceis. Como introduzir Ofenísia em discurso para navio sueco?

O negrinho Tuísca trepado no mastro de um veleiro. As pastoras de Dora do terno de reis, Gabriela o conduzia em passo de dança trouxeram o estandarte. Os coronéis do cacau sacavam os revólveres, atiravam para o ar. A cidade inteira de Ilhéus no cais.

Numa cerimónia simbólica, ideia risonha de João Fulgêncio, Mundinho Falcão e Steveson, exportadores, Amâncio Leal e Ribeirinho, fazendeiros, carregaram um saco de cacau a ser embarcado directamente de Ilhéus para o estrangeiro. O empolgante discurso do Doutor, foi respondido pelo Vice-cônsul da Suécia, o comprido agente de navegação.

À noite, desembarcados os marinheiros a animação cresceu na cidade. Pagavam-lhes bebidas nos bares. Levaram o comandante e os oficiais para os cabarés. O comandante quase carregado em triunfo. Era um bebedor de trago forte, de experimentada aguardente nos portos dos sete mares do mundo. Foi conduzido como morto do Bataclan para o navio, nos braços dos Ilheenses.

No dia seguinte, depois do almoço, os marinheiros tiveram outra vez folga, espalharam-se pelas ruas. «Como gostavam de cachaça Ilheense!», comprovavam com orgulho os grapiúnas. Vendiam cigarros estrangeiros, peças de fazenda, frascos de perfume, bugigangas douradas. Gastavam o dinheiro em cachaça, enfiavam-se nas casas de mulheres-damas, caíam bêbados na rua.

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