segunda-feira, janeiro 14, 2013

Já não teria 18 anos mas ainda era um jovem...

Jorge Amado

Nasceu em 1912, em Itabuna, no Sul do Estado da Baía e, como dizia sua mãe, «com a estrela»: um homem afortunado. O seu pai queria que ele fosse doutor e ser doutor, naqueles tempos, era formar-se em Medicina, Engenharia ou Direito.

Jorge Amado, que desde os catorze anos participava em movimentos culturais e políticos, optou por Direito, fazendo a vontade ao pai mas nunca foi buscar o diploma nem exerceu a advocacia.

Em compensação, no ano da sua licenciatura, em 1935, já era um escritor conhecido, autor de quatro livros, um dos quais, o primeiro, «O País do Carnaval» que escolhi agora para transcrever no Memórias Futuras.

Tem o aliciante de ser o primeiro e revelar o escritor aos dezoito anos de idade e a sociedade brasileira no início da década de 30.

Augusto Frederico Schmidt, poeta brasileiro, que fundou em 1930 A Livraria Católica e posteriormente Livraria Schmidt Editora, ponto de encontro dos intelectuais modernistas da época e responsável por ter dado a conhecer ao mundo escritores de peso, tais como, Vinícius de Morais, Gilberto Freyre, entre outros… e, claro, Jorge Amado, escreveu-lhe uma carta após ter recebido o manuscrito, queixando-se de o ter lido rapidamente embora o pouco tempo passado com os seus personagens tivesse sido suficiente para reconhecê-los todos, um por um.

E disse mais nessa carta de muito revelador:

 - "Seu livro é um forte documento daquilo que somos hoje, nós, mocidade brasileira, mocidade sem solução, fechada em si mesma, perdida numa terra que nos dá a todo o momento a impressão de que sobramos, de que somos demais.

Seu livro acordou em mim velhas revoltas já sufocadas e recalcadas contra a vida e a terra em que vivemos. Paulo Rigger, seu personagem, não é um cerebral, não é um filho do ocidente saturado e exasperado de cultura, é apenas um pobre moço brasileiro, como eu, como você, como todos nós.

… Eu, um pouco mais velho que você, já me sinto muito distante de tudo, num desinteresse sempre crescente, pelo que alimentou o meu gosto pela vida. Não temos frescura, nem nos podemos repousar nos bons silêncios. Viemos para gritar que existimos, diante de uma nação adormecida e indiferente. Cansamos porém logo e assistimos com melancolia à vinda dos que ainda acreditam que é possível gritar, que é útil gritar.

… O país em que nascemos pesa sobre nós. Basta olhar para o Brasil de hoje, no seu aspecto político, por exemplo, para termos uma ideia do drama que se está passando aos nossos olhos. O caos de todos os lados. A mocidade não tem um sentido, não tem uma direcção, não tem uma causa. A única aspiração da nossa mocidade é a velhice.

… Seu livro tem grande importância porque como você mesmo diz os seus defeitos constituem o seu maior motivo de orgulho. Não sei de outro romance nosso que trouxesse à tona como o seu, na indecisão das suas linhas de composição, tal complexidade de problemas.

Seus personagens estão. E procuram. Não procuram apenas o sentido da pátria, da terra, mas procuram o sentido de si próprios. No geral, todos os romances brasileiros são cenários por vezes belos e verdadeiros mas sempre cenários. E será exactamente deficiência de cenário que verificamos n’ «O País do Carnaval». Qualidade e defeito do seu livro. Qualidade que eu amo.
….
Um abraço do  
 Augusto Frederico Schmid


Amanhã transcreveremos uma EXPLICAÇÃO prévia de Jorge Amado para o livro que acabara de escrever e que me pareceu também muito interessante. Depois, como sempre temos feito, episódio após episódio, para termos tempo de digerir a história e conhecermos bem os seus personagens, ponto forte dos romances de Jorge Amado, dar-vos-emos a conhecer «O País do Carnaval», primeiro romance de Jorge Amado escrito aos 18 anos de idade… o que nos permite concluir que os génios da literatura, ou de qualquer outra forma de arte, nascem, não se fazem, quando muito afinam e refinam ao longo das suas vidas como a própria vida.
  

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