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HOJE
É
DOMINGO
É
DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
Os portugueses não vêm o futuro. Presos dentro de uma “bola de sabão”, levitam no ar ao sabor de um qualquer vento. Dentro da película da “bola de sabão”, revolvem-se, embrulham-se, contorcem-se, discutem e barafustam na procura de uma qualquer saída que não encontram.
Para lá da película em que estão
encerrados vêm tudo distorcido, indecifrável… Será qualquer coisa porque o
futuro está lá só que, cegos dentro da “bola”, não vêm, não sabem…
É uma situação nova na história das suas
vidas.
País que sempre foi de alguns ricos e
privilegiados num mar de pobres polvilhados de uns tantos que tinham o seu quê
para viver, conseguiu nas últimas dezenas de anos, a partir de 1976 e,
principalmente, com a entrada na Comunidade Europeia e no Euro em 1 de Janeiro
de 1986, pela primeira vez, criar uma classe média que vivia com desafogo para
os padrões do antigamente.
Que
fazia projectos e planos para o futuro, que vivia em casa própria com as
prestações em dia ao Banco, filhos na Universidade para serem doutores como os
filhos dos ricos de há 50 ou 60 anos atrás, automóvel para cada um dos membros
do casal que, em muitos casos, era trocado por um novo de três em três anos
porque o Banco financiava e as taxas de juro eram convidativas.
Quase todos viajavam nas férias de Verão
para as praias da costa de Portugal e de Espanha. O Algarve abarrotava e as
Agências de Viagem não tinham mãos a medir com as viagens e passeios para o
estrangeiro, especialmente, América Latina e Brasil mas também destinos exóticos que foram moda.
Respiravam desafogadamente com uma
Assistência Médica quase gratuita, um Ensino Básico e Médio idem, idem, aspas,
aspas, Creches e Infantários Públicos, Lares de Idosos, constituindo tudo
Direitos Adqui ridos.
De país de emigração que fomos passamos a ser
de imigração: brasileiros, africanos e cidadãos dos países de Leste que entretanto, em 2004 e 2007, também adquiriram a cidadania europeia juntando-se, também eles, à Comunidade Europeia, agora de 27.
O nosso crescimento económico não era famoso
mas a taxa de desemprego situava-se nos 4% o que poderia ser considerado quase
pleno emprego não fora a estrutura produtiva do país esconder fragilidades
tremendas que em breve se mostrariam.
Depois, foi o que foi…
Não vamos falar das causas de tudo isto
porque os portugueses estão cheios de explicações em que aparecem como um dos
causadores da crise por terem vivido acima das suas possibilidades… mas foi
verdade: durante duas ou três décadas, aproveitando um Estado em expansão com
muito dinheiro a circular, crédito fácil, juros baixos, essa classe média
floresceu e conviveu com os seus colegas europeus quase de igual para igual.
Um dia, tudo se desmoronou:
-
O Sr. Chefe do Governo, Eng. Sócrates, veio à televisão com o Sr. Ministro das
Finanças ao lado, acusar a oposição de lhe ter chumbado o PEC 4 (Programa de Estabilidade e Crescimento), que o país só
tinha dinheiro para mais uns dias ou semanas, que a taxa de juros era incomportável
e, pior ainda, ninguém nos emprestava...
Sendo assim, ia chamar de urgência a
troyka e pedir a demissão. Ao que se soube, depois, foi estudar para Paris.
Pedro Passos Coelho, líder da oposição,
qual Cavaleiro Andante, entra em cena para executar o Acordo de um empréstimo
salvador de 78.000 milhões de euros, ao longo de três anos, com as consequentes
obrigações para o Estado Português ditadas pela dita troyka... já se vê.
Já lá vão mais de ano e meio, foi em
Maio de 2011, e desde aí a vida dos portugueses entrou numa espiral descendente
que nos faz perder de vista a esperança e o futuro.
A mais recente agora é a de que temos
de cortar nas Despesas Públicas 4.000 milhões e depois mais milhões, tudo por imposição da Troyka, dizem uns, para corrigir desequilíbrios orçamentais, dizem outros. Em suma, para viver de acordo com a riqueza que produzimos e pagar as dívidas que de tão grandes não se vê quando... (já vai em 120% do PIB).
Mas temos que o
fazer para impressionar bem os nossos credores… mostrar-lhes que estamos dispostos a sofrer, a empobrecer
e, mal por mal, entre empobrecer e qualquer outra coisa que não se sabe o que
seja, o nosso Cavaleiro Andante, Passos Coelho, vai aceitar o desafio.
O pior é quando somos confrontados com a «repartição dos sacrifícios» aos quais não temos possibilidades de fugir. Aí, é
uma gritaria, um protesto lancinante:
-
Os pensionistas e reformados que já estão velhos e trabalharam e descontaram
uma vida inteira para aquela reforma que até saiu no respeitável Diário da
República…
-
Os professores que entendem, e muito bem, que têm direito a continuar a serem
professores…
-
Os militares que com os seus Generais à frente são o Garante e Suporte da
Nação, obviamente têm de lá continuar…
-
O Corpo da Polícia, GNR e demais Forças Militarizadas como prescindir deles com
a roubalheira e malandragem que por aí vai…
-
Os mais pobres de todos, os que já perderam tudo até a vontade de viver, não podemos
deixá-los morrer de fome…
-
Aos doentes, já velhinhos, vamos deixá-los sem medicamentos que são o preço dos
poucos anos que lhes restam…
Vêm, senhores da troyka, porque é que os
portugueses discutem dentro da “bola de sabão” mesmo que no fundo reconheçam
que o Governo tem de poupar nas Despesas do Estado?
VªExªs, que parecem ter nas vossas mãos
o nosso destino, se for verdade, ao que dizem, não haver vida fora da
Comunidade Europeia e do Euro, sabem bem, como pessoas inteligentes que são,
que nós, povo português, grego, irlandês, ou de qualquer outro país, nada tem a ver com esta crise. Ela foi e é um assunto de banqueiros, financeiros,
gestores de fundos, políticos…Nós somos simples joguetes de reflexos
condicionados que cavamos as nossas vidas em cima das “jogadas” financeiras que
estes senhores fazem…
Ao menos ajudem as nossas empresas, como
sugeriu a Srª Merkel, a partir de um banco de financiamento destinado a
apoiá-las, ajudem-nos a criar mais riqueza para tentarmos pagar as nossas dívidas
e sobreviver ao mesmo tempo. Destruídos não servimos de nada para vocês…
… E a “bola de sabão” de tons
rosa-esverdeados, rosa, dos sonhos e verde da esperança, com sombras confusas
lá dentro movendo-se num bailado grotesco, lá vai vogando ao sabor deste
inverno frio e tempestuoso afastando-se rapidamente para um horizonte
desconhecido.
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