quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Conversa de vizinhas...

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 27

 - Que bom! Que bom!

 - Havia ainda uma comédia do Chuca-Chuca. Esquecera-se

 - E jornal’ Tem jornal – perguntou Dª Helena, uma loura dos seus trinta anos, de quem falavam mal. Diziam que frequentava casas suspeitas. Viam-na na rua de cada vez com um namorado diferente… Ela queria saber se havia jornal. Tinha loucura por Afonso III, rei de Espanha. E ele sempre vinha nos jornais do cinema.

 - Mas ele é casado, Dª Helena.

 - Não faz mal. Ser amante do rei não desmoraliza… Se quer saber pergunte à Dª Maria (Dª Maria era uma árabe muito magra que alugava todo o sótão e realugava os quartos. Ganhava fortuna… cochichavam pelos cantos os inquilinos). Na terra dela os reis têm quarenta mulheres…

 - Eu é que não queria ser amante nem do homem mais rico do mundo.

 Diz isso de boca… De boca… Se aparecesse um bruto de nota…

 - Você pensa que todo o mundo é você…

 - Ora! Piores… muito piores… As sonsas são as piores

E aquelas mulheres trabalhavam com mais gosto, às pressas, para irem à noite, ao cinema…


Tão pequeno aquele sótão… E morava tanta gente nele! Na sala da frente, Dª Maria, a árabe, com dois filhos pequenos, chorões e sujos, que punham o sótão e a escada em polvorosa com as suas brincadeiras. Dois diabos, chamava-os Dª helena. No quarto junto dormia um velho, servente de um Banco.

Entrava à noite e saía pela manhã o pobre homem. Todos achavam que era uma boa pessoa… Junto a ele, num quarto pequeno, Maria de Lourdes e a madrinha viviam. A madrinha, Dº Pombalina, cosia. Com o que ganhava (uns magros cinco mil réis diários) sustentava-se e à afilhada, que ela criara desde pequena e não admitia que fizesse nada, a não ser arrumar o quarto, e comprar uma fazendas na rua.

No último quarto, Dª Helena e duas irmãs, Georgina e Bebé, passavam o dia a se xingar. Sabiam toda a espécie de nomes feios, aquelas moças. Trabalhavam pouco.

A Helena não se sabe como arranjava dinheiro para comer, pagar o quarto e ainda vestir-se bem. A Georgina já começava a “cavar”. Somente a Bebé, a mais moça, seios ainda a aparecer, ficava em casa a bordar sapatinhos para recém-nascidos. Tinham grande saída. Vendiam-se numa loja da Baixa dos Sapateiros como produto francês.

 No quarto, de frente, morava outro árabe que tinha um nome complicado que se reduzira a Fifi. Dª Fifi, mãe de um filho malandrão, já homem, seus dezassete anos, que só vinha a casa buscar dinheiro para a farra. Vivia no meio de moleques da pior espécie, a calotear mulheres nojentas da Ladeira do Tabuão.

Quando dormia em casa, vez por outra, ficava nu no mesmo quarto que a mãe que, deitada no chão (o filho dormia na cama), não cansava de reclamar seu modo de vida. Ele a xingava muito em árabe. Às vezes escapava alguma palavra em português que as vizinhas percebiam.

 - Besta…diabo velho…égua…

 Dª Pombinha benzia-se. 

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