D.PEDRO I |
D. PEDRO I (1320-1367)
O JUSTICEIRO
(Continuação)
Dissemos, no texto anterior, a propósito
deste rei, protagonista do grande romance de Pedro e Inês, que as suas funções,
aqui lo que ele gostava de fazer era
caçar, comer, beber e divertir-se em festas, bailando e, finalmente, exercer a
justiça que era mais uma forma de dar vazão aos seus terríveis instintos de
pura maldade e violência.
D. Pedro I, era, averiguadamente, dado a
práticas homossexuais, adúltero, pois a sua mulher, D.ª Constança, nunca o
inibiu de contrair relações íntimas com Inês, para além de ter tido mancebas em
barda, como reza o cronista. No entanto, a sua natureza de um impulsivo
sanguíneo, com manifestações de epilepsia e histerismo agudo, não suportava que
se faltasse à moral rígida do sexto mandamento.
Ora na corte havia um corregedor,
chamado Lourenço Gonçalves, homem cordato, benqui sto,
de ânimo liberal e bem-falante em quem o rei muito confiava pela sua lisura e
incorruptibilidade. A mulher era um peixão de alto lá com ela, mais apetitosa
que morangos mas ninguém lhe punha a taxa em cima.
No entanto, um pajem muito querido de D.
Pedro, chamado Afonso Madeira, enamorou-se dela e começou a persegui-la com a
porfia de um perdigueiro vicioso. Dados os muitos atributos de beleza do jovem
dificilmente a pombinha podia resistir e, como a corte passava todo o tempo,
fora de Lisboa, a correr o país, Évora, Estremoz, Santarém, Torres, Almeirim,
Coimbra, Guimarães…, como era de uso durante a primeira dinastia, o nosso amigo
Afonso Madeira arranjou jeito de se instalar num quarto junto da casa do
corregedor.
Não sabemos se ele chegou a “vias de
facto” mas nunca como então ele tocou e cantou e, como diz o povo, “passarinho
que assim canta algo tem na garganta”. Muito chegado ao bom do corregedor, embrenhando-se
com ele em amistosos colóqui os e,
desta sorte, “veio o acabamento dos seus desejos”.
Claro que, mesmo andando por fora, tudo
isto chegou ao conhecimento de el-rei e foi o diabo. Antes lhe tivesse caído o
céu em cima. Segundo
diz o cronista, Fernão Lopes, D. Pedro não teria ficado menos sentido se ela
fosse sua mulher ou filha e chamando o jovem pajem à sua câmara «mandou-lhe
cortar aqueles membros que os homens têm em mor apreço».
Não morreu, medicaram-no bem e arribou.
O esqui sito é que engrossaram-lhe as
pernas, os seios, a barba desapareceu para dar lugar a uma penugem loira, e com
gostos flácidos e encontros arredondados viveu o resto dos seus dias, assim
pagando a traição ao rei o escudeiro amado.
(continua)
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