João XXIII |
DUAS SURPRESAS
Bento XVI |
A surpresa de Giuseppe Roncalli reside
no inesperado da sua eleição. Ele não fazia parte, nem remotamente, do grupo de
cardeais, que se esperava poderem ser eleitos.
Hannah Arendt coloca na boca de uma
criada romana a pergunta que subjaz à maior reforma da Igreja em mais de mil
anos:
«Minha
senhora, este Papa era um verdadeiro cristão».
“Mas, como foi isso possível? Como pôde
um verdadeiro cristão sentar-se no trono de S. Pedro? Pois não teve ele
primeiro de ser nomeado bispo, arcebispo e cardeal para, finalmente, ser eleito
Papa? Ninguém se terá apercebido de quem ele era?”
Para Arentd, a força de João XXIII
residia na pureza elementar da sua fé, e na unidade desta com um infalível
juízo moral. Não se enganava nunca na distinção entre o bem e o mal. Poucos se
poderão orgulhar de, no leito de morte, afirmarem:
“Todos os dias são bons para nascer,
todos os dias são bons para morrer”.
Ao contrário de monsenhor Roncalli, o
cardeal Ratzinger surpreende na sua saída e não pela sua eleição. Há muito que
ele se encontrava na lista de sucessão de João Paulo II, um soldado do aparelho
mais íntimo da Igreja. Uma mistura complexa de professor, inqui sidor e burocrata.
Surpreendeu por ser o primeiro Papa a
renunciar desde 1415. Estamos apenas no início de perceber a vastidão de
consequências, não só para a Igreja, do gesto de um Papa que reconhece
publicamente os limites da condição humana.
Numa era de barbárie crescente, de
super-homens e outros aprendizes de feiticeiro, um acto que assume a grandeza
da fragilidade só pode ser visto como um bem público.
Para já, na hora da despedida, o
desabafo sentido:
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«Os javalis entraram na vinha do Senhor»
Viriato Soromenho Marques
(Prof. Universitário)
Viriato Soromenho Marques
(Prof. Universitário)
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