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HOJE É
DOMINGO
DOMINGO
(Da Minha Cidade de Santarém)
A Fraude
Sinto-me ferido na minha qualidade de
português. Todos nós que nascemos nesta terra, que aqui
vivemos e criamos os nossos filhos, perante a enormidade da fraude do BPN – não
sei quantos milhares de milhões – só nos podemos sentir tristes e envergonhados.
Lembro-me de uma rápida conversa tida já
há muito tempo com um emigrado nosso de muitos anos em França que me dizia:
-
Não pense o Sr. que os franceses são mais honestos que nós, a diferença reside
nas leis, na malha apertada da lei…
Não me iludo quanto à qualidade dos meus
compatriotas, a massa é a mesma em todo o lado embora não tenha dúvidas de que
a boa lei faz o bom cidadão e isso poderá fazer toda a diferença.
No meu país, pessoas de elite da
sociedade, independentemente das suas origens terem sido humildes ou não, das
mais capazes, das mais bem preparadas, próximas do poder político, elas
próprias fazendo parte desse poder, permitiram-se fazer aqui lo
que fizeram, com papéis diferentes, uns activos, outros com o seu silêncio cúmplice,
enganando e roubando as pessoas, depositantes de um Banco, apenas porque
acreditaram que viviam num país europeu, civilizado, com leis, tribunais e
prisões para os mal feitores.
Puro engano: as leis não existem, e os
tribunais e prisões destinam-se apenas aos vulgares delinquentes. Não sabemos
quanto vai cada um de nós ter de pagar através dos seus impostos nos próximos
anos em consequência da Fraude do BPN mas, até à data, só o máximo responsável
desse Banco e da Fraude é o único que foi incomodado, preso em casa por,
alegadamente, ser uma pessoa doente... e a casa de um banqueiro ladrão não é,
propriamente, a cela de uma prisão.
Em quatro episódios, o canal SIC da Televisão
Portuguesa, fez-nos uma narrativa, com alguns entrevistados, muito poucos, daquela história escabrosa que nos fez encolher nos sofás das nossas casas como
se fosse um filme de ficção.
Ouvido numa Comissão Parlamentar de Inquérito,
aos ouvidos dos deputados do país que o interrogavam e enquanto, descontraído e
displicente, ia comendo uma sandes, o senhor responsável do Banco explicava:
-
“Compreendam, nós nos bancos temos uma ânsia desenfreada de ganhar dinheiro…”
Um jornalista da especialidade que ouvia
estas afirmações afirmou sentir-se gozado. Todos nos sentimos gozados e, pior
ainda, roubados, para além dos clientes, todos nós na qualidade de cidadãos a partir do momento em que o Banco é
nacionalizado vamos ter de responder pelas suas dívidas.
Como desconfiar de um senhor que merecia
tal confiança do Director do Banco de Portugal que nem ousou questioná-lo?
Podia lá ser… desconfiar de um ex-funcionário superior do próprio Banco de Portugal, Ex-Secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais do Governo de Cavaco Silva, pessoa ligada a proeminentes
políticos do poderoso PSD e do próprio Presidente da República a quem deu
dinheiro fácil a ganhar, a ele e à filha, através da venda e recompra de acções
do próprio Banco. Tudo fácil… tudo dentro a lei. Ambos lucraram 456.900 euros em dois anos, de 2001 a 2003.
Mas não existe um enquadramento legal
para fraudes bancárias?
-
Parece que sim, mas a respectiva aplicação no concreto não é fácil.
Intencionalmente, propositadamente, os nossos legisladores, políticos dos
partidos que há muitos anos nos governam, têm tido a preocupação de deixar
vazios, leis confusas para fazerem as delícias dos grandes gabinetes de
advogados no que a este tipo de crimes respeita e se falarmos das penas
previstas elas são perfeitamente irrisórias.
Dizem-nos, agora:
- Ah!, mas o que aconteceu já não poderá voltar a acontecer… Bem, com esta dimensão nem o
país aguentava… Se levarmos em linha de conta a diferença dos países, em
tamanho, população e PIB, o Mensalão, no Brasil, fica aquém da nossa Fraude, uma das maiores do mundo.
Pequeninos em tudo menos na malandrice…
Parece que há por aí uns processos que estão a correr os seus trâmites mas,
claro, ninguém acredita… pela simples razão de que não há por onde acreditar.
Triste fado o nosso… em cima da Crise temos a Fraude!
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