sábado, fevereiro 23, 2013


O MESTRE DE AVIS – D. JOÃO I DE PORTUGAL E O SEU CONDESTÁVEL -  NUNO ÁLVARES PEREIRA (continuação)

- A Batalha de Aljubarrota



Uma vez aí operaram uma meia volta imperfeita. Os portugueses seguiram-lhes os movimentos com uma certa curiosidade copiando-lhes a disposição como fazem os girassóis relativamente ao sol, acabando assim por olhar a Oeste.

Eram horas de noa que correspondem às quinze horas quando o exército castelhano se pôs em marcha. As pesadas e compactas colunas a passo medido, os ginetes volantes espalhados pelo campo e que, como falcões, tinham como missão dar caça às carruagens transviadas dos portugueses, bem como aos fugitivos.

A tropa a pé dos portugueses, inexperiente na maioria, pelo facto de conhecer o terreno e saber onde ficava a sua toca, era a mais atreita ao pânico e afugentadiça. Foi o que sucedeu logo de começo. Uns trinta homens escapuliram-se, pernas para que vos quero, pelos campos fora na direcção de Porto Mós.

Deram sobre eles os ginetes castelhanos, e num silvado, como javalis, os chacinaram à lançada. Perante este espelho, as deserções cessaram.

Quando os espanhóis se viram ao alcance da besta, dispararam os trons. Eram uma novidade e logo por acaso um pelouro despedaçou dois bons e valentes escudeiros. Mas à voz de Nuno Álvares recobraram-se os ânimos e, pois que se tratava de abater a hidra que avançava ou ser devorado, os portugueses aguentaram bem o choque e recarregaram com brio.

Os archeiros ingleses com mão tente e certa faziam boa segada. Ao fim da primeira investida, envoltas as alas, pareceu o combate indeciso.

O Mestre de Avis aguentava-se no seu lugar com ânimo impávido e sem lhe fraquejar o braço. Nuno Álvares, onde remetia, cavavam-se largas clareiras. Num dado momento foram mil a acometê-lo, e teve de acudir ali o Mestre à testa de gente tirada dos flancos. Os espanhóis sentiram a malha rota e ali se ateou uma longa e desesperada refrega.

Da vanguarda castelhana faziam parte os portugueses ao serviço de Castela, os chamorros, e, de preferência se lançaram sobre eles os raivosos portugueses do Mestre. Reza a crónica que muitos ali morderam o chão, tantos e tão densos como as paveias do trigo grado quando se lhe mete a foice.

O grosso de Castela ia levado de arranco quando correu voz que a retaguarda corria perigo. A um sinal do Mestre, Nuno Álvares acorreu ao local da peleja. Como estava de pé não pode ir tão rápido e ágil como desejava.

Viu-o Pêro Botelho, comendador da Ordem de Cristo, que vinha bem montado e logo lhe cedeu o cavalo. A galope avançou o Condestável para o couce da batalha, em verdade quando ia meio destroçada a retaguarda portuguesa.

Um golpe coruscante aqui, um grito acolá e restabeleceu-se o combate. Outros cavaleiros acudiram à refrega. E foi, no aceso da peleja, que uma lança ou virote, fulgurando no ar veio bater em cheio, semelhante a um raio do céu, no Mestre de Calatrava, irmão de Nuno que lutava por Castela.

Que terrível mão misteriosa vibrara o golpe que nunca se apurou quem fora?! Tão pouco como se se escrevesse ali uma palavra enigmática para o Mundo, selando um destino para todo o sempre, se soube jamais do seguidor de Castela. Nem vivo nem morto. Desapareceu de vez, ignora-se como. Desvanecido no ar, enterrado pelo chão dentro, de mistura com os mortos, ou sob disfarce de ermitão, bandoleiro dos caminhos, peregrino arrependido e errante?

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