sábado, fevereiro 02, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 12



Aquela amizade chegara a ser uma grande consolação para as suas vidas. Sentiam-se amparados uns pelos outros. Ajudavam-se e juntos procuravam a fidelidade das suas existências. Depois de ter aprendido, com Pedro Ticiano, todas as atitudes cépticas, eles diziam, havia um “fim” na vida.

Pedro Ticiano ria:

 - Há, sim. O fim é a morte…


Reuniam-se em torno de Pedro Ticiano cujo espírito os encantava. E fizeram-se uma força. Temidos tinham a coragem de dizer todas as verdades. Diferentes uns dos outros, tinham, entretanto, grandes afinidades que os uniam.

Ricardo Braz nascera no Piauí. Rapaz, teve que emigrar para tentar a vida na Bahia. Conseguira entrar para a Escola Agrícola para abandoná-la logo de seguida por falta de recursos. Por fim, arranjara um emprego público e estava a se formar na Faculdade de Direito.

Poeta, publicara um livro de versos. E como os versos fizeram sucesso, começou a odiá-los. Necessitado de carinho, era um peregrino do sentimento. Tinha uma grande sede de amor.

E quando pensava na finalidade da vida, idealizava sempre uma moça de grandes olhos triste que fosse o tipo da esposa ideal.

O Gomes, A. Gomes, director da Bahia-Nova como diziam os seus inseparáveis cartões de visita, possuía uma inteligência agudíssima ao serviço do mais completo analfabetismo.

Tentara já umas cinquentas profissões. Desde empregado de venda a cobrador de contas consideradas insaldáveis.

Por fim, resolvera ser jornalista. Metera-se pelos sertões em busca de coronéis-prefeitos de municípios que lhe dessem notas sobre as suas cidades, fotografias e dinheiro.

A revista saíra. E, coisa até então considerada impossível na Bahia, já estava no 25º número (dos quais só apareceram 14) e o Gomes, cônscio da sua nova posição de jornalista, não largava um charuto e uma pasta que tinha pretensões a histórica.

Ricardo costumava dizer:

 - Você, Gomes, é um canalha, mas você vence. Tem alma de chantagista. Não tem moral alguma…

O Gomes protestava, vermelho.

E Ticiano acalmava:

 - Esse negócio de moral é uma tolice. O homem de talento não tem moral. E você, Gomes, tem talento. É quanto basta. Só um defeito não é perdoável no homem: a burrice.

Gomes, sorria feliz. E quando a conversa girava sobre insatisfação e finalidade da vida, recostava-se na cadeira e ficava a ver, na fumaça do charuto, um palacete, auto-carros, mulheres e coronéis, muitos coronéis a carregarem sacos de dinheiro…

O mais apagado deles chamava-se Jerónimo Soares. Mulato claro, bom rapaz, ingénuo, sem pretensões, sem vaidades, lugar-comum humano, que Ticiano vivia, entretanto, a fazer “à sua imagem e semelhança.”  

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