O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 15
Depois de colocar Julie
num hotel (porque Julie viera com ele, agarrada, numa fúria de gozo, de sensações
que o enlouqueciam), foi para casa. A sua mãe morava no Garcia, numa chácara.
Não o esperavam.
Querendo fazer surpresa
não avisara. Bateu à porta. Uma criada ainda nova atendeu-o. Ele mirava-a de
alto a baixo, sorrindo. O coração batia-lhe no peito. Depois de sete anos de
ausência, ia rever a sua velha mãe, que o adorava. Sentia-se emocionado.
E olhava a criada sorrindo,
enleado. Ele era o filho pródigo que voltava à casa paterna. Quem sabe se ele
não iria viver agora? Paris nunca lhe mostrara o sentido da vida. Saciara-lhe
apenas a carne. E ele duvidara que o instinto fosse o único motivo de uma
existência.
E na porta, sorrindo para
a empregada, ele pensava que talvez na serenidade da sua casa encontrasse a
felicidade. Pensou em
Julie. Julie representava-se-lhe como uma ligação a Paris…
Abandoná-la-ia.
- Que deseja, senhor?
Paulo Rigger despertou.
- A viúva do sr. Godofredo mora aqui ?
- Sim, senhor.
Paulo afastou a empregada.
Entrou. Atravessou toda a casa, seguido pela criada espantada.
No qui ntal,
a sua mãe dava milho a uma galinha amarela. (Rigger pensou que havia de criar
galinhas). A mãe olhou-o. Reconheceu-o:
- Meu filho!
- Mamãe!
E no fim da tarde, após
contar detalhadamente a vida em Paris à mãe e a algumas amigas que vieram
visitá-la, já sentia saudades de Julie.
IV
A carne arrastava-o
vencedora para Julie. A carne, somente a carne. Mesmo porque Julie só sabia ser
instinto. Não se tratava de outra coisa. Não ligava para mais nada. Bastava
satisfazer o corpo…
E Paulo Rigger compreendia
perfeitamente o que se passava. Apesar disso não se afastava de Julie. Ainda
mais, dava-lhe razão. Se ela o queria, sinal que o amava. O amor não passava da
satisfação dos desejos… Um caso fisiológico, somente. Obrigação da natureza.
Esse negócio de sentimentalismo? Puro arranjo de homens que procuraram assim
encobrir e fazer mais cobiçado o amor.
Às vezes, entretanto,
vinham-lhe pensamentos estranhos. Nessas horas vislumbrara verdades nas
afirmações de Ricardo Braz. Talvez houvesse no amor qualquer coisa que não
fosse a carne. O amor não era apenas o acto de deitar-se na cama, lado a lado,
cabeça junto com cabeça, numa confusão de braços e de sentimentos.
O remendar uma meia, coçar
um gato preto (muito aristocrático, que só dormisse sobre almofadas e não
comesse feijão), dizer coisas agradáveis, ter ciúmes de sorrisos gastos com as
pilhérias dos transeuntes, brigar a propósito do primeiro filho, também era
amor, afirmava aos gritos, Ricardo, muito corado, as lunetas a balançarem no
alto do nariz.
<< Home