terça-feira, fevereiro 05, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio nº 14


José Augusto é que não viera mais ao bar. E nos dias que passara na Bahia não se cansara de falar mal de Pedro Ticiano. Por um motivo simples. Conversavam animadamente quando José Augusto, segundo o seu costume, começara a fazer a apologia de Rui Barbosa.

Ticiano dissera sorrindo:

 - Na Bahia só existem dois santos: Senhor de Bonfim e Rui Barbosa…

O outro abraçou-o, entusiasmado.

E Ticiano, mau, concluiu:

 - E eu não admiro nem adoro nenhum…

 - Boa! Muito boa! – bradou Paulo Rigger, rindo muito da cara de espanto de José Augusto.

E o diplomata não aparecera mais. Também ninguém mais se lembrou dele.


Paulo Rigger, na Bahia, admirava-se de tudo. A cidade de Tomé de Souza dava-lhe a impressão de uma daquelas cidades de decadência, onde tudo morre aos poucos, numa tristeza enorme de deixar a vida.

Chegara à Bahia num dia de grande animação. No mesmo navio que ele viajavam alguns oposicionistas que iam em caravana de propaganda eleitoral fazer discursos no norte.

Ao tomar o automóvel com Julie, já os oradores seguiam pela cidade. Acompanhava-os grande massa popular. É que entre os caravaneiros, vinha um deputado considerado o maior orador do país. E o brasileiro dá a vida por uns tropos de retórica.

O automóvel em que ia teve de fazer parte do cortejo. Impossível romper a multidão. Ele não se incomodou muito. Interessava-lhe aquilo tudo, achava tudo novo e gozava o entusiasmo popular.

De cinco em cinco minutos o cortejo parava. Um popular qualquer, exaltado, fazia um discurso. Diziam que «haviam de colocar o voto branco na urna preta». Como Rigger risse dessa frase foi quase agredido.

No alto da Ladeira da Montanha, a multidão parou pela sexta vez. Um bêbado fazia um discurso, forçando por equilibrar-se. Mas que sacrifício não faria ele pela pátria?

E bradava:

 - Eu sou o orador da canalha das ruas! O orador dos mendigos, dos cegos que pedem esmola, dos aleijados (ampararam-no para não cair), da lama, dos esgotos, das prostitutas… Pela minha boca, ilustres caravaneiros, saúdam-vos os prostíbulos, os hospitais, a podridão das vilas…

“O maior orador do país agradeceu, emocionado, a saudação dos cegos, dos aleijados, das rameiras e da lama das ruas…

O cortejo seguiu aos vivas e morras.

Paulo Rigger disse a Julie:

 - Minha filha, este é o País do Carnaval.

E sentiu-se estranho, muito estranho ao seu povo. E começou a pensar que era capaz de fracassar no Brasil…

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