quarta-feira, fevereiro 27, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 33

Compreendi e discordo. Tudo é muito pouco. A filosofia, o conhecimento filosófico, sim, talvez console um pouco. Talvez mesmo resolva o problema. Eu penso resolvê-lo assim…

 - Que filosofia, que nada! Só as coisas naturais, o amor, os instintos, a fé, o trabalho podem nos satisfazer…

 - Não. Só a filosofia.

 - Eu falhei procurando-a no instinto, na carne – explicou Rigger – Sou capaz de procurá-la no amor-sentimento. Chegarei até à religião… Só não irei à filosofia. A filosofia deve fazer uma confusão horrível. Mostrar-nos-á cinquenta caminhos. E cinquenta caminhos imprestáveis…

 - Isso mesmo!

 - E como você poderá chegar à religião, sem a filosofia? Ao amor eu admito que você chegue pelos sentidos. Mas, à religião?

 - Chegarei pelo sentimento. Sem ler tratados. Sem travar conhecimento com Maritain e São Tomás… Serei católico, nunca tomista…

 - Isto é blague, Paulo. Você não chegará ao amor, quanto mais à religião! Você será um Ticiano na vida. Sem coragem para realizar. Vivendo, existindo apenas…

- Não. Tentarei. José Lopes está irritado hoje. Por quê?

 - Não estou irritado. Um bocado mais desiludido, somente. Já não acredito nem na Serenidade… Ticiano diz que nós somos os “mendigos da Felicidade”…

 - Tem razão, Para mim. Ticiano resolveu o caso de nossa inquietação, da inquietação de todo o mundo de hoje e guarda avaramente o segredo… Ele não se preocupa com a vida… Feliz!

 - Feliz nada! É um céptico. Coloca-se sobre a vida. Faz-se espectador. Não vive. Comenta. Ironiza. Satiriza. Destrói. Apenas. Isso não é felicidade. Ticiano acha que só a dor é estética. Só a dor é bela. E como sobrepõe a beleza a todas as coisas, ama a dor. Adora ser vencido. Gaba-se de ser um fracassado.

Escreveu no outro dia “A Balada Cinzenta da Minha Vida”.

Um Voltairiano meio epicurista. Não. Epicurista, não. Ele não sente mesmo alegria na vida. Sente indiferença… E ele garante que ficaremos como ele. Às vezes, eu acredito. E fico como vocês viram hoje. Contradigo as minhas próprias opiniões. Fico somente um disco a repetir o que Pedro Ticiano desperdiça pelas mesas dos bares…

 - É interessante - notou Rigger – como nós combatemos Pedro Ticiano, apesar de ele ser nosso mestre. Nós aprendemos com ele a indiferença e o cepticismo. Depois combatemos esse cepticismo… Ticiano nota isso.

 - Nota. Mas ri-se da gente, sabendo que, por fim, nós veremos que ele tem razão…

- E afinal, nós devemos o que somos a ele, que, antes de tudo, é amigo. Céptico, indiferente, mas amigo até ali.

 - A norma da vida de Ticiano é “saber ser amigo e saber ser inimigo”.

 - José Lopes lamentou-o. Quase cego, coitado! Que tragédia não sofreria aquele homem de tanto talento, que terminaria sem poder sair de casa, sem poder ler… Uma coisa horrível!

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