SERENATA |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 16
E continuava animado:
- Também não! Esse amor era o verdadeiro, o
único amor… A Felicidade… A satisfação da carne não dá felicidade a ninguém.
- Bolas! – discutia Rigger, que não queria
concordar com o amigo para não ter que duvidar do amor de Julie – Então a gente
nasce para esse amor… É a finalidade da nossa vida?
- Isso mesmo. O sentido da vida, a finalidade
está no amor. Mas nesse amor de que eu falo: amor-sentimento.
José Lopes, árbitro de
todas as questões, não discordava nem concordava. Meio termo… O amor devia ser
um misto de coração e sexo. Não estava de acordo em dizer que o amor fosse a
finalidade da vida…
- E qual é então? – esganava-se Ricardo,
defendendo o seu ponto de vista…
- Sei lá!
- Talvez a religião… Deus… - arriscava
Jerónimo.
E Ticiano aborrecido com
quem ouvisse uma asneira:
- Religião o quê, rapaz. Então a sua
finalidade, a finalidade do homem inteligente é a mesma que a de todos os
imbecis?
- Mas o tomismo… - encorajava-o o outro.
- O tomismo é um rejuvenescimento muito
voronofiano do catolicismo. Por fim os escritores tomistas e os padres cultos
terminarão numa luta corpo a corpo com as beatas velhas.
Jerónimo recolhia-se
sucumbido ao fundo da cadeira. Bebia o café querendo esconder a cara.
José Lopes vinha em defesa
de Jerónimo.
- Quem sabe? Pode ser…
- As religiões são amontoados de fábulas, de
mentiras…
- Não é a verdade que dá a felicidade. O homem
tem a obrigação de chegar à felicidade pelo caminho mais curto. E a religião
poderá trazer a paz, a alegria…
Pedro Ticiano fazia
frases:
- A felicidade reside na própria infelicidade,
na insatisfação.
Essa insatisfação, essa
dúvida, o cepticismo é que devem ser a filosofia do homem de talento. Sofismar
sempre. Negar quando afirmarem, afirmar quando negarem. O fim de não ter fins.
- Tudo isso é muito velho, Ticiano. Hoje não
pega mais… Hoje se quer coisa séria, obra útil.
- E essa seriedade é nova?
Sócrates já qui s ser sério. Sérios
foram Aristóteles, São Tomás. Homens incríveis… A finalidade do artista é
viver, apenas… Viver por viver, por obrigação, porque nasceu…
José Lopes cismava…
cismava muito. Seria que Pedro Ticiano tinha razão? Procurava libertar-se da
influência do outro. Murmurava:
- Blagues!
No fundo, Jerónimo Soares,
embevecido, contemplava Pedro Ticiano que parecia um demónio, muito agitado, os
raros cabelos brancos a fugirem da prisão do chapéu, querendo voar, tendo
veleidades de cabeleira de poeta.
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