domingo, março 24, 2013


HOJE É DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém)



Sócrates, acabados os estudos em Junho, em Paris, vai regressar ao país, não discretamente, como vulgar cidadão, mas com todo o impacto de uma aparição semanal na RTP1 no papel de comentarista político. Como dizia o outro… quem não aparece na televisão não existe… e Sócrates já não “existia” há cerca de dois anos sem que tivesse ido para um qualquer “lugar” em concreto, como no caso do seu grande amigo de Partido, António Guterres ou de José Manuel Barroso.

Não, ele estava simplesmente a estudar, o que significa polìticamente que não estava em lugar algum, Tinha sido, realmente, uma”fuga” estratégica, compreensível, de resto, dadas as circunstâncias do momento. E, de calado que esteve durante todo este tempo, vai regressar com um megafone na boca ou mais ainda, para o ecrã da televisão pública.

O seu correligionário António Costa, a este respeito, pronunciou-se desfavoravelmente, mas foi apenas como amigo…

Isto das ligações entre pessoas do mesmo Partido tem que se lhe diga. Lá dizia Winston Churchill: … «lá fora você tem os seus adversários, cá dentro estão os seus inimigos».

O que caracteriza, fundamentalmente, a vida dos partidos são as relações de cumplicidade entre os seus membros. Todos eles, de maneira e grau diferentes, são cúmplices uns dos outros. A cumplicidade é o cimento dos partidos.

Quando me lembro do espectáculo que foi o último Congresso do Partido Socialista em que Sócrates, já na parte final do seu governo, foi afogado em abraços e proclamado como salvador da pátria, tremi perante todo aquele clima frenético em que um ou outro que pensava intervir de forma algo crítica logo foi completamente ignorado.

Claro que eu poderia suavizar esta minha apreciação falando de aliança entre pessoas em vez de cumplicidade entre elas. Talvez, no início, seja apenas uma aliança à volta das mesmas ideias, do mesmo projecto, da mesma visão para o país e até da própria vida em sociedade mas, quando começamos a perceber que nesse projecto entram interesses pessoais, de grupo, de partido, de puro poder, então a palavra já não será aliança mas cumplicidade.

Uma cumplicidade que inclui invejas, intrigas, lutas surdas de grupos mais restritos e uma importância cada vez maior do partido, da conquista do poder ou da sua manutenção em detrimento do país.

Caímos, assim, num novo regime político denominado de “partidocracite”: adulteração e perversão dos partidos políticos, definhamento da democracia da qual a partidocracia é um vírus. Deixamos de seleccionar os melhores, levamos à fuga de alguns e impedimos a chegada de quantos, sendo bons e mesmo muito bons, não pretendem sujeitar-se ao ambiente predominante da vida político partidária.

Sócrates, foi um líder forte, combativo, mas não foi verdadeiramente convincente. Hoje, os partidos não têm pessoas convincentes ou, se as têm, elas não ambicionem o poder.

 Em Sócrates havia uma permanente excitação disfarçada, uma agressividade latente que, no entanto, não chegou para ganhar o debate decisivo com Passos Coelho e muito menos evitar que o país tivesse chegado ao ponto em que ele o deixou, acossado pelas dificuldades da governação, num equilíbrio difícil entre a Srª Merkel e o país, num jogo em que o seu PEC4, acabou por ficar preso nas armadilhas.

Os nossos líderes políticos não confiam no seu povo. Não se abrem com eles, olhos nos olhos… e, no entanto, se estão convictos de uma qualquer solução têm que se abrir sobre ela com toda a coragem e sinceridade, sem disfarçar nem ocultar.

O povo pode não saber muitas coisas mas pressente a gravidade da situação em que vive e os líderes teimam em não experimentaram a política da verdade e, quando o fizeram foi de uma forma tão desajeitada e desastrada que revoltaram mais que mobilizam.

Passos Coelho afirmou em tempos: … “que se lixem as eleições”… transmitindo a ideia que só lhe interessava o país mas, de então para cá, estragou tudo fazendo promessas, anunciando metas e objectivos que nunca conseguiu cumprir.

Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, José Sócrates… uma prateleira de comentadores políticos ex-líderes partidários ou chefes de governo aos quais, se calhar, qualquer dia, se juntará Passos Coelho…

 Para já, num dia próximo anunciado, será José Sócrates, para desespero, raiva e revolta de muitos milhares de portugueses que vêm nele, justa ou injustamente, o grande responsável pela situação a que chegamos venha ele dizer o que disser...

Como dizia o Herman José: “não havia necessidade…” até porque não é serio. Um político quando assume o papel de comentarista continua a ser político... disfarçadamente, mas continua. Como comentarista residente desprestigia-se. Não se pode ser as duas coisas. Limite-se apenas a dar as suas opiniões, fatalmente parciais, mas apenas opiniões como cidadão livre e, naturalmente, mais interessado que os outros.


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