HOJE É DOMINGO
(Na minha cidade de
Santarém)
Sócrates, acabados os estudos em Junho,
em Paris, vai regressar ao país, não discretamente, como vulgar cidadão, mas
com todo o impacto de uma aparição semanal na RTP1 no papel de comentarista
político. Como dizia o outro… quem não aparece na televisão não existe… e
Sócrates já não “existia” há cerca de dois anos sem que tivesse ido para um
qualquer “lugar” em concreto, como no caso do seu grande amigo de Partido,
António Guterres ou de José Manuel Barroso.
Não, ele estava simplesmente a estudar,
o que significa polìticamente que não estava em lugar algum, Tinha sido, realmente, uma”fuga”
estratégica, compreensível, de resto, dadas as circunstâncias do momento. E, de
calado que esteve durante todo este tempo, vai regressar com um megafone na boca
ou mais ainda, para o ecrã da televisão pública.
O seu correligionário António Costa, a
este respeito, pronunciou-se desfavoravelmente, mas foi apenas como amigo…
Isto das ligações entre pessoas do mesmo
Partido tem que se lhe diga. Lá dizia Winston Churchill: … «lá fora você tem os
seus adversários, cá dentro estão os seus inimigos».
O que caracteriza, fundamentalmente, a
vida dos partidos são as relações de cumplicidade entre os seus membros. Todos
eles, de maneira e grau diferentes, são cúmplices uns dos outros. A
cumplicidade é o cimento dos partidos.
Quando me lembro do espectáculo que foi
o último Congresso do Partido Socialista em que Sócrates , já na
parte final do seu governo, foi afogado em abraços e proclamado como salvador
da pátria, tremi perante todo aquele clima frenético em que um ou outro que
pensava intervir de forma algo crítica logo foi completamente ignorado.
Claro que eu poderia suavizar esta minha
apreciação falando de aliança entre pessoas em vez de cumplicidade entre elas.
Talvez, no início, seja apenas uma aliança à volta das mesmas ideias, do mesmo
projecto, da mesma visão para o país e até da própria vida em sociedade mas,
quando começamos a perceber que nesse projecto entram interesses pessoais, de
grupo, de partido, de puro poder, então a palavra já não será aliança mas
cumplicidade.
Uma cumplicidade que inclui invejas,
intrigas, lutas surdas de grupos mais restritos e uma importância cada vez
maior do partido, da conqui sta do
poder ou da sua manutenção em detrimento do país.
Caímos, assim, num novo regime político
denominado de “partidocracite”: adulteração e perversão dos partidos políticos,
definhamento da democracia da qual a partidocracia é um vírus. Deixamos de
seleccionar os melhores, levamos à fuga de alguns e impedimos a chegada de
quantos, sendo bons e mesmo muito bons, não pretendem sujeitar-se ao ambiente
predominante da vida político partidária.
Sócrates, foi um líder forte, combativo,
mas não foi verdadeiramente convincente. Hoje, os partidos não têm pessoas
convincentes ou, se as têm, elas não ambicionem o poder.
Em
Sócrates havia uma permanente excitação disfarçada, uma agressividade latente que,
no entanto, não chegou para ganhar o debate decisivo com Passos Coelho e muito
menos evitar que o país tivesse chegado ao ponto em que ele o deixou, acossado
pelas dificuldades da governação, num equi líbrio
difícil entre a Srª Merkel e o país, num jogo em que o seu PEC4, acabou por
ficar preso nas armadilhas.
Os nossos líderes políticos não confiam
no seu povo. Não se abrem com eles, olhos nos olhos… e, no entanto, se estão
convictos de uma qualquer solução têm que se abrir sobre ela com toda a coragem
e sinceridade, sem disfarçar nem ocultar.
O povo pode não saber muitas coisas mas
pressente a gravidade da situação em que vive e os líderes teimam em não
experimentaram a política da verdade e, quando o fizeram foi de uma forma tão
desajeitada e desastrada que revoltaram mais que mobilizam.
Passos Coelho afirmou em tempos: … “que
se lixem as eleições”… transmitindo a ideia que só lhe interessava o país mas, de então para cá, estragou tudo fazendo promessas, anunciando
metas e objectivos que nunca conseguiu cumprir.
Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes,
José Sócrates… uma prateleira de comentadores políticos ex-líderes partidários
ou chefes de governo aos quais, se calhar, qualquer dia, se juntará Passos
Coelho…
Para
já, num dia próximo anunciado, será José Sócrates, para desespero, raiva e
revolta de muitos milhares de portugueses que vêm nele, justa ou injustamente,
o grande responsável pela situação a que chegamos venha ele dizer o que
disser...
Como dizia o Herman José: “não havia
necessidade…” até porque não é serio. Um político quando assume o papel de comentarista continua a ser político... disfarçadamente, mas continua. Como comentarista residente desprestigia-se. Não se pode ser as duas coisas. Limite-se apenas a dar as suas opiniões, fatalmente parciais, mas apenas opiniões como cidadão livre e, naturalmente, mais interessado que os outros.
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