sexta-feira, março 15, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 47


Que tinha ele com o passado? E lutava. Sentia impossível, entretanto, romper com o passado, arrancá-lo da memória. Para que lhe contara ela tudo? Porque não o deixara na ignorância? Poderiam ser tão felizes…

No outro dia passou várias vezes em frente da casa dela. Mas não teve coragem de entrar. Disse a José Lopes:

 - Sou um miserável! Um infeliz! Perdi a minha Felicidade por minha culpa! Porque não consegui vencer o convencionalismo! Estúpido, idiota eu sou…


Gomes precisava de um deles para ir ao Rio de Janeiro entrevistar os próceres do movimento revolucionário vitorioso. Paulo propôs-se. Iria às suas custas. Melhor ainda para o jornal!

E Paulo Rigger viajou.

No Rio de Janeiro frequentou todos os cabarés, viveu numa farra contínua a ver se conseguia esquecer Maria de Lourdes. E parece que, no fundo do álcool que bebia, a sua figura triste se foi tornando ténue, muito ténue…

Uma tarde encontrou um velho conhecido, o diplomata José Augusto, que descia a Avenida rodando uma bengala.

Paulo Rigger chamou-o. Precisava exactamente de um homem daqueles, tolo e cheio de si, para conversar, entreter-se, esquecer.

O diplomata abraçou-o comovido.

 - Por aqui, Dr. Rigger? Passeando?

 - Não. Vim entrevistar os próceres revolucionários. Agora o senhor está bem, não é Dr. Augusto?

 - Como?

 - Vencedor o movimento revolucionário, o senhor terá a sua Legação.

Nem lhe falasse nisso. Os seus planos tinham falhado. O ministro não era o seu amigo. E ele, com o descalabro em que ia tudo, com os “cortes” do funcionalismo nos Ministérios, julgava-se feliz por continuar Secretário de Embaixada. E agitava os braços, furioso.

 - A revolta foi uma desilusão. Nós, os verdadeiros patriotas, que acreditamos nela, estamos desiludidos. É necessária outra revolta. Mas que essa outra corte a cabeça de muita gente…

E, gesticulando muito, segredou ao ouvido de Paulo Rigger os últimos boatos. O actual estado de coisas não se seguraria por muito tempo. O exército se levantaria, dentro em pouco…

Paulo Rigger notou que o povo não estava satisfeito. Mas o povo não pedira a revolução? Ele mesmo, Paulo Rigger, assistira a “meetings” em que os oradores berravam pela revolução, “que tiraria o Brasil da beira do abismo”…

 - Enterrou-o, meu amigo. Enterrou-o

Como era que, agora, poucos meses depois, o povo já clamava contra o estado de coisas? Queriam, com certeza, que em dois meses os governantes endireitassem o país?

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