DO
CARNAVAL
Episódio Nº 47
Que tinha ele com o
passado? E lutava. Sentia impossível, entretanto, romper com o passado,
arrancá-lo da memória. Para que lhe contara ela tudo? Porque não o deixara na
ignorância? Poderiam ser tão felizes…
No outro dia passou várias
vezes em frente da casa dela. Mas não teve coragem de entrar. Disse a José
Lopes:
- Sou um miserável! Um infeliz! Perdi a minha
Felicidade por minha culpa! Porque não consegui vencer o convencionalismo!
Estúpido, idiota eu sou…
Gomes precisava de um
deles para ir ao Rio de Janeiro entrevistar os próceres do movimento
revolucionário vitorioso. Paulo propôs-se. Iria às suas custas. Melhor ainda
para o jornal!
E Paulo Rigger viajou.
No Rio de Janeiro
frequentou todos os cabarés, viveu numa farra contínua a ver se conseguia
esquecer Maria de Lourdes. E parece que, no fundo do álcool que bebia, a sua
figura triste se foi tornando ténue, muito ténue…
Uma tarde encontrou um
velho conhecido, o diplomata José Augusto, que descia a Avenida rodando uma
bengala.
Paulo Rigger chamou-o.
Precisava exactamente de um homem daqueles, tolo e cheio de si, para conversar,
entreter-se, esquecer.
O diplomata abraçou-o
comovido.
- Por aqui ,
Dr. Rigger? Passeando?
- Não. Vim entrevistar os próceres revolucionários.
Agora o senhor está bem, não é Dr. Augusto?
- Como?
- Vencedor o movimento revolucionário, o
senhor terá a sua Legação.
Nem lhe falasse nisso. Os
seus planos tinham falhado. O ministro não era o seu amigo. E ele, com o
descalabro em que ia tudo, com os “cortes” do funcionalismo nos Ministérios,
julgava-se feliz por continuar Secretário de Embaixada. E agitava os braços,
furioso.
- A revolta foi uma desilusão. Nós, os
verdadeiros patriotas, que acreditamos nela, estamos desiludidos. É necessária
outra revolta. Mas que essa outra corte a cabeça de muita gente…
E, gesticulando muito,
segredou ao ouvido de Paulo Rigger os últimos boatos. O actual estado de coisas
não se seguraria por muito tempo. O exército se levantaria, dentro em pouco…
Paulo Rigger notou que o
povo não estava satisfeito. Mas o povo não pedira a revolução? Ele mesmo, Paulo
Rigger, assistira a “meetings” em que os oradores berravam pela revolução, “que
tiraria o Brasil da beira do abismo”…
- Enterrou-o, meu amigo. Enterrou-o
Como era que, agora,
poucos meses depois, o povo já clamava contra o estado de coisas? Queriam, com
certeza, que em dois meses os governantes endireitassem o país?
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