segunda-feira, março 18, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 49


Mas se eu não me suicidei (com que tristeza o confesso, Ricardo) é porque não tive coragem. Todas as vezes que encostei o cano de revólver ao ouvido, a minha mão tremeu. Não tive coragem, fui covarde. Por, isso ainda vivo e ainda sofro.

Mas você, se esquecer que é um artista, um poeta antes de tudo, integrando-se na sua profissão de advogado, poderá ser feliz.

Resolva o seu caso sozinho, Ricardo, ouvindo apenas a sua ânsia de felicidade.

Daqui a dias estarei aí, para aplacar a fúria do Gomes, com sensacionais entrevistas.


Releu a carta: Notou que escrevera Ela com E maiúsculo. Riscou. E escreveu ela. “Não merece mais que um e pequeno” E olhando da janela o mar brincalhão, estudava o caso de Ricardo Braz.

- Coitado! Talvez seja infeliz. Talvez seja feliz. Que tente. Sempre é uma grande coisa tentar ser feliz. Eu nem isso fiz, imbecil que fui…

Com o jantar vieram os jornais da noite.

Paulo Rigger filosofou:

 - Só o estômago não tem nada a ver com as nossas tragédias. Continua a exigir comida da mesma maneira.

Achava que a consciência andava de acordo com o estômago. E garantia a si mesmo.

 - Um rico homem ladrão deita-se com o estômago satisfeito e dorme o sono mais inocente filho de Deus. Mas o pobre, que foi para a cama a dar horas, esse desgraçado não conseguirá conciliar o sono, com remorso de não ter roubado…

E se atirou ao jantar.

Leu os jornais. O povo estava aborrecido, porque o Governo não queria dar aos clubes carnavalescos a “ajuda” da praxe.

Paulo riu:

 - País do Carnaval! País do Carnaval! Eu se fosse Presidente ou Ditador, decretaria um carnaval de 365 dias… Adorar-me-iam…


As luzes, na cidade, plagiavam as estrelas. Uma grande lâmpada eléctrica metia inveja à Lua. Anúncios luminosos ensinavam remédios aos doentes ricos.

Passavam automóveis. Gente rica que ia aos teatros…

 - Uma esmola por amor de Deus!

A mulher magra, cadavérica, tuberculose ambulante, amamentava o filho pequenino. A fome sambava nas suas faces.

Paulo Rigger deu-lhe uma nota, numa grande ansiedade de ser bom.

Os grandes automóveis continuavam a passar.

Deus lhe faça muito feliz… lhe pague em Felicidade…

 - Impossível, minha irmã! A infelicidade nasceu comigo e só a morte me livrará dela…

 - Quem não tem fome não conhece a infelicidade, meu senhor.

O anúncio de um remédio aproveitava a frase de Cristo: “Nem só de pão vive o homem. Tomai “Forçol”. Paulo Rigger repetiu:

 - Nem só de pão vive o homem… Mas onde encontrar a Felicidade para tomar?

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