quarta-feira, março 20, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 51


- E as entrevistas que eu consegui no Rio, que devo fazer delas? Publicar noutro jornal?

José Lopes pensava que devia mandar as entrevistas para o Gomes. “Nem isso a gente deve querer dele…”

 - Ora essa! Eu vou ao Rio às minhas custas. Realizo depois umas entrevistas. Por que motivo elas são do A. Gomes?

 - Você foi com o fito de realizá-las para ele. Mande.

- Bem, vou mandar. Você, José Lopes, sempre o mesmo sujeito bom.

Jerónimo informava:

 - Agora o “Estado da Bahia” é dirigido por um jornalista cheio de moralidade que veio do interior.

E os redactores?

- Gente daqui mesmo. Está horrivelmente mal escrito…

 - Fará sucesso. Para a Bahia só um jornal assim.

 - O Gomes, eu o vi outro dia, cada vez mais gordo. Enriquece o canalha…

 - Inteligente…

 - Mas analfabeto até ali.

 - Acabará Governador do Estado!

 - Se acaba.

Uma preta na rua, rebolando as ancas, gritava:

 - Amendoim torrado! Acarajé e abará!

E mais longe, um garoto berrava:

 - O “Estado da Bahia”… Olha o “Estado da Bahia”. Artigo sobre a carestia de vida….



A imagem de Maria de Lourdes apagava-se aos poucos no pensamento de Paulo Rigger. Ele sentia, entretanto, que mesmo conseguindo esquecê-la, jamais reconstruiría a sua vida. Jamais tomaria um “sentido”, marcharia para um “fim”, na existência.

Para que vivia, afinal. Sentia a sua vida parada como as águas de um lago que não tem, como os rios, um fim, o de correr para os oceanos. Mas ao contrário das águas de um lago, apesar de parada, a sua vida não era serena. Acompanhava-o sempre uma insatisfação enorme. A necessidade de ser feliz, ou pelo menos sereno. De viver sem desejos, sem sonhos, como Pedro Ticiano.

Já que não encontrava “o sentido”, o fim da existência, que, pelo menos, encontrasse a Serenidade. Que ficasse indiferente, sem desejos. Mas até isso sentia impossível. A tortura de procurar a Felicidade não o largava.

Não conseguira, como Ticiano, endeusar a dúvida. E tinha goras horríveis. Na chácara, trancado no seu quarto, andava de um lado para o outro numa vontade enorme de acabar com tudo aquilo.

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