segunda-feira, março 11, 2013


OUTROS TEMPOS…


Pelo teor das recomendações morais que a seguir transcrevo de Revistas portuguesas dos anos 50 e 60 mais diria que, sobre elas, mais de um século se teria passado... mas é justo dizer, até porque sou desse tempo, que sendo esta a moral oficial do Regime, apoiado esmagadoramente por uma Igreja Católica clerical, reaccionária, cínica e bafienta, que sendo de homens era também profundamente machista, como de resto a toda a sua doutrina, estava longe de ser partilhada por toda a gente.

Frases retiradas de Revistas Femininas das décadas de 50 e 60:

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“Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas” (Jornal das Moças, 1957)


- “Se desconfiar da infidelidade do marido a esposa deve redobrar o seu carinho e provas de afecto”. (Revista Cláudia 1962)


- "A desarrumação numa casa de banho desperta no marido a vontade de tomar banho fora de casa”. (Jornal das Moças 1965)


- "A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas. Nada de incomodá-lo com serviços domésticos”. (Jornal das Moças 1959)


- "Se o seu marido fuma, não arranje zangas pelo simples facto de cair cinza nos tapetes. Tenha cinzeiros espalhados por toda a casa.”
(Jornal das Moças 1959”)


- “A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar a uma mulher que não tenha resistido a experiências pré-nupciais, mostrando que era perfeita e única tal como ele a idealizara” (Revista Cláudia, 1962)


- “Mesmo que um homem consiga divertir-se com a sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu” (Revista Querida 1954)


“O noivado longo é um perigo...” (Revista Querida 1953)


- “É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido” (Jornal das Moças 1957)


E, finalmente:

 - "O lugar da mulher é no lar, o trabalho fora de casa masculiniza” (Revista Querida 1955)

A submissão da esposa ao marido alternava, depois, com a submissão dela ao patrão, na fábrica, e na Repartição, ao Chefe.
Estávamos já no Pós-Guerra, na fase de construção de uma nova Europa que, infelizmente, parava nos Pirinéus. Este, era o Portugal de Salazar,  resguardado pelas costas de Franco, que tentava parar no tempo "opondo-se aos ventos da história" no dizer do próprio ditador. O resultado foi uma herança de atraso económico, cultural e político que terminou nas guerras do ultramar, na revolução do 25 de Abril, na descolonização e regresso dramático ao país de mais de meio milhão de compatriotas.
Infelizmente, as revoluções, não acabam com estas ideias que continuaram a marcar as gerações seguintes e a prejudicar o desenvolvimento do país. 

Estas Revistas eram o espelho do regime, a marca da sociedade de então que teria já muitas outras vozes, silenciadas, no entanto,pela Censura e pela PIDE.

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