sábado, abril 20, 2013

É pena não podermos provar...

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 78

Todos nós tentamos encontrar o sentido da existência. O “fim” para que vivemos. A Felicidade, se você quiser assim. Você dizia que ela, a Felicidade, estava na verdade filosófica.

Ricardo Braz contestava: que só o amor sentimento podia nos mostrar a “rota do porto”. Porque só nas coisas naturais se encontra o “sentido” da vida… Eu pensava como ele e procurei a felicidade no instinto. Fracassamos. Não falo do Jerónimo porque esse, medíocre, não é dos homens insatisfeitos. A insatisfação desses homens é apenas o reflexo da nossa.

 - É…

- Nós fracassamos e você me disse no dia da morte de Ticiano, que nada mais esperava da filosofia… Desistira…

 - A gente também tem direito a dias de desânimo.

 - Disse que não desejava. Que Pedro Ticiano, com o cepticismo de antes da guerra, é que estava certo. Que a verdade é a própria dúvida. Que você estava com ele…

 - Um dia de desânimo, repito. Nunca desisti, porém, de encontrara na filosofia forças para vencer a insatisfação, para resolver o problema…

 - Encontrou?

 - Encontrei. Basta a cultura filosófica para nos tornar serenos…

 - A serenidade é a falsificação…

 - …da Felicidade, já sei. Mas a felicidade absoluta não existe. Nem para os burros. Nem para os irracionais. Quanto mais para nós outros! O que é preciso é a serenidade. Serenidade que o casamento não deu a Ricardo Braz, que os instintos lhe negaram…

 - Mas que, com o cepticismo, Pedro Ticiano, conseguiu.

 - Mas afinal conseguiu com um princípio filosófico.

 - O de não ter filosofias…

 - Não deixa de ser uma atitude filosófica…

 - Mas foi essa atitude que você tomou?

 - Não.

 - Então não compreendo como você pode estar sereno. Quem está com a verdade? Você ou Pedro Ticiano?

 - Você fala daquela velhíssima verdade, que tem atravessado os séculos no fundo de um poço? Essa, meu amigo, continua lá. Eu, como dizia Ticiano, não a irei tirar. Deixo a outro a ridícula tarefa…

 - Eu compreendo cada vez menos…

- É que a verdade é uma coisa muito relativa. Deve existir uma verdade particular para cada homem. Aquilo que lhe der serenidade é para ele a suprema verdade…

 - Quer dizer que qualquer sistema filosófico resolve o problema da nossa dúvida?

 - Sim.

 - Que coisa incrível!

 - É questão de sentimento… Você tem necessidade de Deus, você chega ao tomismo. Fica sereno. A verdade filosófica do tomismo é a grande verdade para você…

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