DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
Recordo perfeitamente
aquela conversa embora se tenham passado mais de vinte anos. Eu tinha ido de
excursão à Europa e numa visita à Alemanha, concretamente a Munique, calhou-me
uma Guia turística do país visitado, como é obrigatório em todo o lado, e que
se expressava muito razoavelmente na língua de Camões.
Por coincidência,
trabalhava como eu, nos Serviços de Emprego pelo que me surgiu a pergunta sobre
os trabalhadores alemães, quando no desemprego, se eram muito prejudicados na sua
qualidade vida nessa situação.
Que não. Apenas do ponto
de vista psicológico eram bastante afectados porque para eles era humilhante
ver, de manhã, o vizinho sair para o trabalho e ele ficar em casa a viver do
subsídio…
Esta resposta ficou-me no
ouvido porque no meu país poucos eram os trabalhadores no desemprego para quem
esse era o problema fundamental procurando mesmo, alguns deles, embora fosse
contra as regras, ganhar algum “por fora” para juntar ao subsídio.
Se estes comportamentos corresponderem
a um padrão, a uma mentalidade, então a questão será preocupante e ajudaria a
explicar muita coisa: o sentido cívico dos cidadãos, a sua maneira de encarar o
Estado, a comunidade, num e noutro país.
No fundo, teríamos um problema de
honestidade, de respeito, de seriedade. Em Portugal, a própria legislação
facilitava, em situações concretas, às desempregadas da apanha do tomate, na
década de 80, a
manutenção da concessão do subsídio de desemprego, de certa forma fraudulento,
porque qualquer oferta de emprego que não correspondesse perfeitamente à
campanha da cultura do tomate no campo, podia ser recusado pelo trabalhador,
mantendo-se este, neste caso, esta, no desemprego a receber o subsídio.
Mais especificamente:
- No fim da faina do
tomate – seis meses, período mínimo de trabalho com descontos para a Segurança
Social para ter direito ao subsídio de desemprego - centenas de mulheres,
acabada a faina, ficavam com direito a receber o respectivo subsídio. Nessa
situação, se aparecesse uma nova oferta de emprego para trabalhar no campo elas
podiam recusá-lo sem prejuízo do direito de continuar a receber o subsídio de
desemprego, desde que o trabalho não fosse para apanhar tomate (hipótese
impossível porque a época tinha terminado…)
E desta forma, centenas de
mulheres, em todo o Ribatejo, trabalhavam meio ano e no outro meio eram pagas
para estarem em casa, nos seus afazeres domésticos e no trabalho das suas
hortas tradicionais com a garantia de que ninguém as iria incomodar até que, no ano seguinte, tudo se repetia nas datas
previstas.
O próprio Estado era
conivente numa situação que estimulava a utilização do dinheiro de todos a
favor de uma nova classe de trabalhadoras: “as apanhadeiras de tomate…”.
Percebe-se, aqui , a “mãozinha” dos Sindicatos perante os quais os
governos cediam por questões políticas, troca de favores políticos… o costume!
Neste caso, a favor de uma classe trabalhadora pobre, o que se poderá
considerar uma atenuante.
O Poder exercido de forma
pouco escrupulosa sugere, naturalmente, comportamentos pouco escrupulosos da
parte dos cidadãos e quando me refiro ao Poder estou, não somente a pensar no
Político como igualmente no Religioso, aquele que até mais profundamente atinge
consciências e mentalidades.
Neste aspecto, a religião
Católica de Roma, na sua longa história de Poder na Europa e no mundo,
destacou-se pela negativa.
A Igreja de Roma tem um
passado de “negócio” com os seus crentes, de ausência de escrúpulos, de falta
de seriedade. Recordemos as Indulgências, essas propostas desonestas e sórdidas
em que os Papas para arranjaram dinheiro para as suas vidas e obras faustosas,
propunham aos crentes que entregassem dinheiro para “ultrapassar rapidamente aquele
compasso de espera” que era o Purgatório e ganharem o Céu rapidamente… mesmo
com vidas criminosas.
O Papa Leão X organizou o
negócio ao pormenor estipulando um preço para cada pecado. Qualquer
delito podia ser perdoado pagando ao Vaticano.
Qualquer: violação
de crianças, incestos, assassinatos, até matar a própria mãe. Não havia pecado
que não tivesse perdão em troca de dinheiro.
Os lucros foram incalculáveis permitindo a construção da Basílica de
São Pedro em Roma e os palácios do Vaticano que hoje são visitados por turistas
deslumbrados.
A compra e venda de
indulgências foi a gota d’água que fez transbordar o copo da corrupção. Por
isso, Martinho Lutero, na Alemanha, a denunciou e daí nasceu a divisão da
Igreja Cristã com o surgimento dos protestantes.
Os povos latinos, da região sul da Europa, subordinados e influenciados
pelos exemplos de desonestidade da sua Igreja durante séculos, continuam ainda
hoje pouco escrupulosos, pouco honestos, pouco sérios.
A Srª Merkel e uma parte da população alemã, protestante,
vêm da linha austera e séria de Lutero que disse “basta” a tanta corrupção da
Igreja de Roma e lidera um povo que quando ficava desempregado se angustiava
por ver o vizinho ir trabalhar enquanto que cá, Guterres, Barroso, Sócrates,
lideram um povo que “inventou” a classe das “apanhadeiras de tomate” para
poderem viver às custas do Estado durante meio ano… todos os anos.
Bem, mas isto só foi verdade no passado, quando os tomates
ainda eram apanhados à mão pelas mulheres… Desde há muito que já são recolhidos
com máqui nas.
Agora, tivemos o Banco
Português de Negócios, o Banco Privado Português, as Parcerias Público Privadas…tudo
roubos, os primeiros, e negociatas as segundas a comprometerem o futuro dos
portugueses com os responsáveis políticos distraídos, a olharem para o lado…
Quando em Março de 2005, José Sócrates e o PS ganharam as
eleições com maioria absoluta, depois do atribulado governo de Santana Lopes,
fui ouvi-lo no discurso de campanha aqui
em Santarém.
De princípio ao fim da sua intervenção tudo quanto escutei
foram palavras cor-de-rosa, promessas, perspectivas de uma vida boa sob a
batuta do seu partido. Palavras como: trabalho, poupança, rigor… pareceram-me
expressões malditas, impronunciáveis.
....Em 2011, quase sete anos depois, antes de pedir a demissão, chamou a troika para
negociar um pedido de resgate financeiro de 68.000 milhões porque o país estava
sem dinheiro e com um crédito a juros altíssimos, incomportáveis.
Acordo assinado, estava à sua espera Pedro Passos Coelho,
do PSD que ganha as eleições, vai para o governo coligado com o CDS e, parecendo ignorar a situação do país, fez promessas e dá garantias
aos eleitores que evidentemente desrespeitou logo a seguir com a estafada
alegação de que não sabia que “isto” estava tão mau…
O que é que se passa com os portugueses e os seus
políticos?
Onde estão os seus "homens bons?" Não, na política, ou então não os há...
Onde estão os seus "homens bons?" Não, na política, ou então não os há...
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