António Balduíno |
JUBIABÁ
Episódio Nº 2
Estavam numa raiva porque
o negro apanhava. Eles haviam pago os três mil reis de entrada para ver o
campeão baiano dar naquele branco que se dizia campeão da Europa Central.
E agora estavam assistindo
era o negro apanhar. Não estavam satisfeitos, moviam-se inqui etos e oram vivavam o branco, ora o vaiavam. E
respiraram aliviados quando o gongo soou, dando fim ao round.
António Balduíno veio para
o canto do ring se segurando às cordas. Aí, o homem magro que mordia o cigarro
inútil, cuspiu e gritou:
- Onde está o negro António Balduíno que
derrubava brancos?
Aqui lo
António Balduíno ouviu. Bebeu um gole da garrafa de cachaça que o Gordo lhe
oferecia e virou para a assistência, procurando o dono daquela voz.
Voz que voltou, metálica:
- Quedê o derrubador de brancos?
Desta vez, parte da
multidão acompanhou o homenzinho e disse em coro:
- Quede? Quede?
Aqui lo
doeu a Balduíno como uma chibatada. Não sentia nenhum dos socos do branco, mas
sentia aquela censura dos torcedores. Disse ao gordo:
- Quando eu sair daqui
dou uma surra neste sujeito. Marque ele…
E, quando soou o sinal de
recomeçar a luta o preto se atirou em cima de Ergin. Pôs um soco na boca do
alemão e em seguida um no ventre. A multidão reconhecia novamente o seu campeão
e gritou:
- Aí, António Balduíno! Aí, Baldo! Derruba
ele…
O negro baixo voltou a
ritmar pancadas nos joelhos. O magro sorria.
O negro continuava a dar e
sentia uma grande raiva dentro de si.
Foi quando o alemão voou
para cima dele querendo acertar no outro olho de Balduíno. O negro livrou o
corpo com um gesto rápido e como a mola de uma máqui na
que se houvesse partido distendeu o braço bem por baixo do queixo de Ergin, o
alemão.
O campeão da Europa
Central descreveu uma curva com o corpo e caiu com todo o peso.
A multidão rouca, aplaudia
em coro:
- Bal-do…
Bal-do… Bal-do…
O juiz contava:
- … seis… sete… oito…
António Balduíno olhava
satisfeito o branco estendido a seus pés. Depois passou os olhos pela
assistência que o vaiara, procurando o homem que dissera que ele não era mais o
derrubador de brancos. Como não o achasse, sorriu para o Gordo. O juiz contava:
- …nove…dez…
Suspendeu o braço de
Balduíno. A multidão berrava mas o negro só ouvia a voz metálica do homem do
cigarro:
- Aí negro, você ainda derruba brancos…
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