quarta-feira, abril 17, 2013

IEMANJÁ

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 75


Teria sido muito melhor se tivesse ficado na Bahia, com os amigos, a sofrer com eles a tragédia que os perseguia. Por vezes começou a escrever cartas a Paulo Rigger e a José Lopes. Mas o orgulho impedia que as enviasse. Não confessaria a sua infelicidade a ninguém… Fracassara…

 - A Felicidade só está ao alcance dos imbecis e dos cretinos…

Quanta razão tinha Pedro Ticiano! Ele, Ricardo havia discordado. Dissera que o sentido da existência se encontra no amor. Experimentara. Estava casado, amado pela mulher com um filho a nascer, ganhando relativamente bem, mas inteiramente infeliz.

Ele pensara que a felicidade quotidiana está ao alcance dos homens inteligentes…


Regurgitava a Praça da Matriz. Todo o povo se reunira ali com as melhores roupas. Havia pau-de-sebo, quebra-pote, corrida de saco, discurso do Sr. Juiz, bênção na igreja e, à noite, a anunciada conferência de Ricardo Braz…

 - Fala bem, o dr. Promotor…

 - E recita, menina, que é mesmo uma beleza…

Imitava:

“Quando você passa, ó gentil princesa…”

Grupos conversavam animados. Ricardo, sentado junto à esposa, todo entregue aos pensamentos, melancólico, não notou o Juiz que se aproximava, íntimo.

 - Olá, Ricardo!

 - Oh, Dr. Faustino! Então daqui a pouco temos o seu discurso…

 - Você vai ver, um formidável discurso. Daqui, só você e o médico me entendem. Os mais, uns ignorantes…

O povo reclamava a oração do Sr. Juiz. A filarmónica atacou o hino nacional.

Todo empertigado no velho fraque, raros cabelos brancos a desmoralizarem a calva doutrinal, erguendo as mãos ao alto o orador começou:

 - Brasileiros…

E improvisou o discurso improvisado na véspera. Aludiu às “barbas brancas do canhão” (velho canhão inútil da guerra do Paraguai, relíquia da cidade) e terminou beijando a bandeira emocionado:

 - Minha mãe! Minha mãe!

Estrugiram as palmas. Muitos abraços. Parabéns. Cumprimentos.

 - Um belo discurso!

 - Até a mulher do Prefeito chorou

O Capitão levantava a ideia da formação de um tiro de guerra. Seria uma beleza. Quando viesse a guerra com a Argentina…

O Juiz queria saber a opinião do “colega” Ricardo Braz sobre o discurso.

Gostei muito, estava muito bom…

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