O mamoeiro |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 74
Mas nos dias de grande
feriado nacional a cidade se movimentava. Ornamentava-se com bambus e bandeiras
verde - amarelas.
A filarmónica tocava no
palanque da praça da praça da Matriz, patrioticamente orgulhosa da sua perfeição.
A melhor filarmónica das cidades e vilas das redondezas.
Na capital, poucas se lhe
equi paravam. Assim mesmo, o Juca
Carpinteiro que acumulava as funções de maestro, “não sabia, não”… Não punha a
mão no fogo pela vitória de nenhuma banda da capital, se houvesse um desafio…
Quermesse. Turcos que
tiram retratos instantâneos. Rapazes que conversam com as namoradas.
Grande feriado naquele
dia. O benemérito prefeito (tão benemérito que a revolução não conseguira
derrubá-lo. Mudara-lhe apenas o nome para interventor) organizara, juntamente
com o Capitão Teodoro, um programa de festas de causar espanto.
Às três horas da tarde,
falaria no palanque da Praça o Dr. Juiz e, à noite o Dr. Promotor faria uma
conferência sobre a data.
O promotor era Ricardo Braz.
Já criara fama de bom orador, com alguns discursos que fizera em dias tão
solenes como aquele.
Nas festas recitava versos
da sua lavra que faziam as delícias das moças solteiras e causava ciúmes a Ruth.
Ricardo ia mesmo ressuscitar “O Cravo”.
Gostava do nome do jornal:
“O Cravo”, podia atacar, furar, cravo de ferradura, e podia elogiar, dizer bem,
flor.
Bom nome, sem dúvida.
Pouco trabalho tinha Ricardo. Raros réus a acusar. Criava passarinhos.
Conversava na farmácia. Amava a mulher. E sentia-se profundamente, inteiramente
infeliz. Não nascera para aquela vida.
A “mesma coisa”, a “falta
do inédito”, martirizavam-no. Os amigos tinham acertado: no casamento ele não
encontrara a felicidade. Fracassara a sua experiência. O seu amor
transformara-se no hábito.
O beijo da manhã, a
conversa durante o dia, a briga por causa da comida, à noite juntos na cama.
Ruth, sempre a mesma. Nunca lhe dera uma sensação nova, não lhe dizia coisas
confortadoras.
Amava-a brasileiramente,
muito burguesmente, como uma digna senhora casada, sem arroubos e sem vícios. A
calma em que viviam torturava Ricardo Braz. Decididamente ele não nascera para
aqui lo. A estupidez daquela vida –
comer, dormir, fazer um discurso uma vez ou outra, conversar com gente
ignorante…
Fracassara… A insatisfação
que pensara vencer, dominava-o completamente. E o desânimo vivia com ele.
Passava dias silenciosos relendo os poucos livros que trouxera da Bahia. Ruth
achava que ele “estava mudado”.
- Você precisa, amorzinho de perder a mania da
literatura…
- Já sei…
Gostava de passar pelas
roças vizinhas, a cismar. Enterrara a sua vida. Qualquer desses seria Juiz, não
passaria disso, viraria um conspícuo juiz o resto da sua existência.
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