quarta-feira, abril 03, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 63


 - Você está louco, José…

 - Por que, Paulo?

 - É o seu intelectualismo, as suas aspirações, tudo…

 - Mas quem lhe disse que eu tenho aspirações? Eu a nada aspiro. Não tenho veleidades literárias. Considero impossível encontrar a Felicidade. E, demais, eu preciso pagar a pensão…

 - Você…

 - Ora, Paulo, eu já me desiludi de tudo. Estou inteiramente convencido do que Pedro Ticiano diz. Os homens que estão fora do comum, os homens diferentes não têm finalidade. Vivem por viver… é o que eu faço.

 - E a insatisfação? E a dúvida?

 - Atitudes de espírito…

 - Então você acha, como a mulher de Ricardo, que tudo isso é literatura?

 - Exactamente.

 - Bonito!

 - Ora, Paulo, o fim é a morte, como afirma Ticiano. Só na morte reside a Felicidade, porque só a morte nos livra das dores deste mundo.

 - E você não se suicidou…

 - Não se espante. Eu sou muito sentimental. Porque dar a vocês, você, Ticiano, Ricardo, Jerónimo, que me estimam, esse desgosto?

 - Tem razão. Eu é que não me suicidei porque não tive coragem.

 - Só por isso?

 - Principalmente por isso… É verdade que eu pensei em minha mãe e em vocês… Mas a minha dor era grande… Fui um covarde…

 - Tolices, Paulo. Deixe disso.

 - Você sabe que ela vai casar?

 - A sua ex-noiva?

 - Sim, Maria de Lourdes.

 - Não me causa grande surpresa. Afinal, a vida é assim. Ela sentiu a necessidade de um marido. Arranjou-o, que tem isso demais? Não foi você, foi outro.

 - Eu é que sou um desgraçado. Deixei escapar a Felicidade…

 - Quem sabe se você não seria inteiramente infeliz? O amor, Paulo, não traz a Felicidade… Nada na vida a traz…

 - Nem a filosofia, José?

- Até dessa eu já descri. Eu pensei que a filosofia nos desse pelo menos a serenidade, que resolvesse os nossos problemas. Enganei-me. Uma desilusão a mais. 

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