quinta-feira, abril 04, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 64


 - A experiência é feita de desilusões…

 - Eu possuo uma grande experiência…

José Lopes despediu-se. Fazia-se tarde e ele necessitava de estar á frente da sua casa de jogo.

Paulo Rigger ficou a acompanhá-lo tristemente com o olhar. Magro, faces encovadas, tossira tanto no desenrolar da conversa…

Viam-se raramente. José Lopes não aparecia, escondendo de todos a sua miséria… Rigger recordou-o: o mais confiante, o que mais esperava, o que pretendia ser feliz e se dizia sereno.

Agora, fracassado, bebia pelos bares e dirigia uma casa de jogo, a caçar uma tuberculose disponível. Ele era bem o símbolo do fracasso de todos eles… Porque haviam fracassado lamentavelmente…



Todos, menos Jerónimo Soares. Ele, se não chegara à inteira felicidade, caminhava a passos de gigante para ela. Cada vez mais liberto da influência de Pedro Ticiano, resolvera morar definitivamente com Conceição. Alugara uma casinha e mobilara-a decentemente.

Mudaram-se num sábado à tarde. Conceição, muito contente, com uma alegria infantil a lhe bailar no rosto, arrumava a sua nova residência. Sempre pretendera possuir uma casa.

Quando moça, em companhia dos pais, o casamento se lhe afigurava como o maior ideal. Depois, perdeu-se. E, prostituta, sofrendo, ela jamais se esquecera do seu sonho. Uma casinha… Um homem que a possuísse inteiramente, de quem ela fosse o amor e que constituísse para ela a Felicidade.

Quantas vezes as companheiras de trabalho, marafonas sifilíticas e cínicas, não riram dos seus desejos!

 - Quem cai nesta vida, não se livra mais dela. Quando muito se amásia… Mas isso é pior. Um dia quer dar o seu corpo a outro homem e não pode. Tem o amásio a empatar. Quando, apesar de tudo, se entrega, toma bordoada e volta novamente para a rua.

E ela temia amigar-se.

 - O corpo da gente não perde o costume de ser de muitos. Não se contenta com um…

 Mas Conceição nascera para mãe de família. Nascera para se entregar a um e a um só. Assim, quando Jerónimo, sentimental e ávido de amor, invadira a sua vida, ela compreendeu que os seus se realizariam.

Amou-o intensamente. Ele, em paga, era de uma bondade infinita.

 - Um Santo! – dizia às companheiras.

Havia dias, entretanto, que ele estava de mau humor. Dizia-lhe coisas amargas, fazia-a sofrer. Ela chorava muito e ele se tornava estúpido.

Esses dias iam rareando ultimamente. E ela se gabava de que o seu amor o estava conquistando. Não sabia que a diminuição da influência de Ticiano sobre Jerónimo é que realizava o milagre.

De facto, Jerónimo pouco procurava Ticiano. Temia envolver-se novamente no ciclo de ferro das blagues daquele destruidor.

 - O amor é uma imbecilidade…

Mas ele, Jerónimo, sequioso de amor, preferia ser imbecil a ser infeliz.

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