DO
CARNAVAL
Episódio Nº 64
- A experiência é feita de desilusões…
- Eu possuo uma grande experiência…
José Lopes despediu-se.
Fazia-se tarde e ele necessitava de estar á frente da sua casa de jogo.
Paulo Rigger ficou a
acompanhá-lo tristemente com o olhar. Magro, faces encovadas, tossira tanto no
desenrolar da conversa…
Viam-se raramente. José
Lopes não aparecia, escondendo de todos a sua miséria… Rigger recordou-o: o
mais confiante, o que mais esperava, o que pretendia ser feliz e se dizia sereno.
Agora, fracassado, bebia
pelos bares e dirigia uma casa de jogo, a caçar uma tuberculose disponível. Ele
era bem o símbolo do fracasso de todos eles… Porque haviam fracassado
lamentavelmente…
Todos, menos Jerónimo
Soares. Ele, se não chegara à inteira felicidade, caminhava a passos de gigante
para ela. Cada vez mais liberto da influência de Pedro Ticiano, resolvera morar
definitivamente com Conceição. Alugara uma casinha e mobilara-a decentemente.
Mudaram-se num sábado à
tarde. Conceição, muito contente, com uma alegria infantil a lhe bailar no
rosto, arrumava a sua nova residência. Sempre pretendera possuir uma casa.
Quando moça, em companhia
dos pais, o casamento se lhe afigurava como o maior ideal. Depois, perdeu-se.
E, prostituta, sofrendo, ela jamais se esquecera do seu sonho. Uma casinha… Um
homem que a possuísse inteiramente, de quem ela fosse o amor e que constituísse
para ela a Felicidade.
Quantas vezes as
companheiras de trabalho, marafonas sifilíticas e cínicas, não riram dos seus desejos!
- Quem cai nesta vida, não se livra mais dela.
Quando muito se amásia… Mas isso é pior. Um dia quer dar o seu corpo a outro
homem e não pode. Tem o amásio a empatar. Quando, apesar de tudo, se entrega,
toma bordoada e volta novamente para a rua.
E ela temia amigar-se.
- O corpo da gente não perde o costume de ser
de muitos. Não se contenta com um…
Mas Conceição nascera para mãe de família.
Nascera para se entregar a um e a um só. Assim, quando Jerónimo, sentimental e
ávido de amor, invadira a sua vida, ela compreendeu que os seus se realizariam.
Amou-o intensamente. Ele,
em paga, era de uma bondade infinita.
- Um Santo! – dizia às companheiras.
Havia dias, entretanto,
que ele estava de mau humor. Dizia-lhe coisas amargas, fazia-a sofrer. Ela
chorava muito e ele se tornava estúpido.
Esses dias iam rareando
ultimamente. E ela se gabava de que o seu amor o estava conqui stando. Não sabia que a diminuição da influência
de Ticiano sobre Jerónimo é que realizava o milagre.
De facto, Jerónimo pouco
procurava Ticiano. Temia envolver-se novamente no ciclo de ferro das blagues
daquele destruidor.
- O amor é uma imbecilidade…
Mas ele, Jerónimo, sequi oso de amor, preferia ser imbecil a ser infeliz.
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