segunda-feira, abril 15, 2013



OS DIAS  de HOJE



Pairam nas conversas das pessoas com responsabilidades na sociedade palavras apreensivas sobre o futuro que nos espera. O receio predomina.
É claro que a política alemã, motor do desenvolvimento europeu, é crucial  e determinante mas há, igualmente, um factor psicológico que parece ser decisivo no relançamento de toda a actividade económica, porque depende do comportamento das pessoas, da forma como elas gerem dentro de si os medos e os fantasmas de um futuro incerto e desconhecido.
Tudo se precipitou de uma forma demasiado rápida, a partir da falência dos bancos nos EUA, em 2008. Foi uma espécie de derrocada, de avalanche de notícias perfeitamente surpreendentes que a todos deixaram perplexos, mesmo àqueles que estavam no epicentro do mundo das finanças e que, como seria de esperar, veio a contaminar as economias e o emprego dos trabalhadores.
Entretanto, os multimilionários apareceram nas primeiras páginas dos jornais por terem visto o valor das suas fortunas diminuir de não sei quantos milhões como se a qualidade das suas vidas e dos seus familiares ficasse afectada pela circunstância de terem ficado “apenas”com 300 quando antes tinham 600... milhões.
Deste ponto de vista, o prejuízo será sempre dos trabalhadores que verão novos investimentos geradores de postos de trabalho adiados e parte dos actuais suprimidos.
A criação de riqueza e do emprego depende do investimento, publico  e privado e uma parte considerável deste é feito, por sua vez, por algumas dessas pessoas muito ricas, que em situações de retracção do mercado adiam investimentos.

Seria preciso, nestas condições, que o investimento público tivesse um papel mais importante mas, confrontado com o esforço para equilibrar os Orçamentos, pressionados pela troika, não é fácil agora arranjar dinheiro e as verbas do Quadro Comunitário de Apoio e Coesão da Europa são manifestamente pequenas.
O problema da crise está pois nos desempregados que mesmo com direito a um subsídio de desemprego, que tem vindo a diminuir no tempo com as dificuldades orçamentais,  não havendo investimento, o desemprego tende a tornar-se crónico o que é dramático para as pessoas.
Vai ser necessário reganhar confiança, apelar à imaginação, sair do torpor do pessimismo sem nos deixarmos abater pelos sacrifícios que estão a recair sobre muitas famílias.
Não tenhamos dúvidas, o desafio está lançado à capacidade de sobrevivência das pessoas e, neste aspecto, os portugueses têm uma preparação e um treino ancestral que outros povos da Europa não possuem.

Nesta fase, é a solidariedade da sociedade e a ajuda da família que funciona sempre como a primeira e última retaguarda.
É verdade que nas últimas dezenas de anos uma grande percentagem da população portuguesa e, naturalmente, estou a referir-me aos mais jovens, se habituou, felizmente, ao “bem bom” da vida preenchida pela possibilidade de satisfazerem uma grande variedade de novas necessidades.
Mas nestas coisas, como em tudo, não há bela sem senão e as facilidades da vida não ajudaram a desenvolver mecanismos de sobrevivência, no entanto, as potencialidades estão connosco porque acredito que postas à prova ao longo de tantas gerações se passaram para a nossa herança genética.
Entretanto, os teóricos das problemáticas sociais e políticas aproveitam estes momentos e bem, para tentarem ir ao fundo das questões e aí vem à baila, entre outras coisas, o Modelo de Desenvolvimento.
Se vamos ter que reiniciar qualquer coisa é perfeitamente lógico que nos debrucemos sobre o que fazíamos e como o fazíamos para “emendar a mão” olhando o longo prazo, porque a nossa vida é breve mas continua nos nossos filhos, netos e bisnetos “and so on..." e gostar deles não é satisfazer-lhes hoje os caprichos e aumentar as dívidas para eles pagarem no amanhã.
Como não tenho dúvidas de que não há alternativa a um sistema de economia de mercado, numa sociedade livre, democrática que vive da livre iniciativa dos cidadãos num Estado de Direito, a solução tem que estar forçosamente na Regulação. Esse, é o papel fundamental dos governos e, por isso, fundamental se tornam as leis oriundas da Assembleia da República que tem de estar permanentemente atenta ao que se passa na sociedade.

Vivemos sobre uma espécie de ditadura de um capitalismo financeiro que, de forma invisível, comanda o mundo e aqui só o mundo lhe pode fazer frente e é difícil ver como. As contas escondidas em off-shores para roubar os Estados em impostos que lhe são devidos e ocultar dinheiro proveniente de actividades criminosas mantêm-se. Sabemos onde estão os paraísos fiscais, a sua existência até é legal e não resulta fechá-los aqui ou ali se não for em todo o lado.

Ainda hoje, 15 de Abril, pode ler-se nos jornais, que a Suiça não abre mão do segredo bancário e os ministros das Finanças da UE decidiram criar uma frente comum de luta contra a evasão fiscal e os paraísos fiscais, apesar da oposição da Áustria e querem levar esta mensagem à reunião do G 20, nos dias 18 e 19 em Washington.
Até que ponto vai ser possível a sua eliminação e passagem a um capitalismo de Estado, efectivamente regulador das actividades dos agentes económicos e financeiros tendo como prioridades a satisfação de necessidades de natureza social, ecológica e de uma mais justa repartição da riqueza, irá ser a grande questão e maior ainda se pensarmos que tudo tem de ser feito sem hesitações e de uma forma assumida por todos os que quiserem fazer parte da solução.

O que se pretende, em suma, é o primado da política e da economia sobre o capital financeiro, desregulado, fora do controle, todo poderoso...

É como um desafio entre as "forças do bem" e as "do mal" à escala global. O desfecho é incerto no tempo e no resultado.

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