Baiana com bilha à cabeça |
JUBIABÁ
Episódio Nº 29
António Balduíno quase não a conheceu. Estava magra e
ossuda, os olhos pulados para fora do rosto que andava chupado.
Beijou a mão da velha que o olhou com ar indiferente.
- Titia, sou
Balduíno…
- Sabe uma
coisa: os moleques querem roubar o meu mingau. Você veio para roubar, não foi?
– foi-se enfurecendo.
Mas sorriu logo e continuou sua cantiga:
“eu não vou mais
nunca mais…
nunca mais…”
Jubiabá o levou de volta. Balduíno ainda ficou
espiando o casarão lúgubre que parecia cadeia. No bonde Jubiabá perguntou se
ainda tinha a figa que lhe dera. António Balduíno puxou de dentro de dentro do
pescoço e mostrou.
- Tá bem, meu
filho. Guarde sempre. Dá sorte…
Antes de saltar deu dez tostões a Balduíno.
Só voltou ao hospício uma vez. Foi novamente com
Jubiabá para acompanhar o enterro da velha Luísa. Diante do caixão, pobre e
negro, encontrou quase todos os conhecidos do morro.
Novamente foram todos muito bons para ele e lhe deram
abraços. Algumas pessoas choravam. Foram assim até ao cemitério onde deram uma
pá para Balduíno atirar terra em cima do corpo.
Depois o corpo da velha ficou lá, e só António
Balduíno guardou com amor a sua lembrança no seu pequeno coração que já estava
tão cheio de ódio…
Foi no dia do enterro da velha Luísa que Jubiabá, para
distraí-lo, lhe contou, na volta do cemitério, a história de Zumbi dos
Palmares.
- O nome
daquela rua é Zumbi dos Palmares, não é?
- É, sim
senhor…
- Você não sabe
quem foi Zumbi’
- Eu não –
Balduíno vinha triste pensando mais uma vez em fugir e de princípio prestou
pouca atenção à história, apesar de ser Jubiabá quem estava contando:
- Isso foi à um
mundão de tempo… No tempo da escravidão do negro…
Zumbi dos Palmares era um negro escravo. Negro escravo
apanhava muito… Zumbi também apanhava. Mas lá na terra onde ele tinha nascido
ele não apanhava. Porque lá negro não era escravo, negro era livre, negro vivia
no mato trabalhando e dançando.
- E porque
vinham para cá? – Balduíno já estava interessado.
- Os brancos iam lá buscar negro. Enganavam negro que
era tolo, que nunca tinham visto branco e não sabia da maldade dele. Branco não
tinha mais olho da piedade. Branco só queria dinheiro e pagava negro pra ser
escravo. Trazia negro e dava em negro com chicote. Foi assim com Zumbi dos
Palmares.
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