(Da Minha Cidade de
Santarém)
No meu país a austeridade não é uma
opção. Não nos podemos dar a esses luxos sem sentido… Alguém está a ver os
portugueses a mergulharem na austeridade pela sua própria vontade?
Protestar contra a austeridade não passa
de um mero desabafo para aliviar o desagrado, para diminuir a tensão. De resto,
nem nós, nem nenhum outro país do sul da Europa pratica a austeridade como
política, por alternativa a qualquer outra coisa.
Fazemo-lo por inevitabilidade ou mais
prosaicamente porque não temos dinheiro.
Apenas um país na Europa adoptou a
austeridade como política alternativa, imposta aos outros países que dependem
dela financeira e economicamente mas também para si própria com os seus oito
milhões de empregos precários ou sub-empregos com salários de 400 euros. Esse
país é a Alemanha.
E fá-lo por questões ideológicas,
culturais, financeiras, a chamada filosofia do sacrifício, influenciada por
traumas da sua história recente quando o marco desvalorizou de tal forma “comido”
pela inflacção que o utilizavam para forrar paredes. Nunca mais esqueceram…
Mas nós, portugueses, nada temos a ver
com essa gente. Nós, gostamos de viver à custa do Estado sem nos preocuparmos
em saber onde ia ele buscar o dinheiro para nos pagar. De resto, essa preocupação
não é do povo, é dos governantes…
Na nossa qualidade de católicos,
apostólicos e romanos acreditamos no providencialismo. Se hoje podemos viver bem
é isso que faremos. Para o futuro Deus providenciará… é tudo uma questão de fé
e os portugueses são gente de fé, gente que se arrasta pelas estradas, este ano
mais uma vez, em número recorde, em peregrinação a Fátima, não na busca de
ânimo e força para lutar contra as dificuldades, mas na procura da resignação e
esperança na Senhora, que na sua infinita bondade e amor aos seus fieis lhes
dará consolação de espírito e, quem sabe, uma recompensa no céu.
É pena que a Srª de Fátima não tivesse
inspirado os nossos governantes num passado recente para a loucura que era
endividarmo-nos como se o mundo fosse acabar ou, simplesmente, não houvesse
mesmo futuro. E, não fossem os credores cortarem a “guita ao papagaio” lá iria
um TGV, um Aeroporto e não sei quantos mais qui lómetros
de auto – estrada…
Agora, nada podemos fazer para além de
gerir a austeridade.
-
“Vocês lá sabem onde devem cortar, desde que cortem nestes montantes…” dizem-nos
amáveis e magnânimos os representantes dos nossos credores.
Os portugueses são tristes e saudosos
por natureza.
Herdeiros de um povo, o mais antigo da Europa,
os Lusitanos da Península Ibérica, valentes e heróicos que comandados por esse
extraordinário líder e chefe militar de seu nome Viriato, foram os únicos a
quem as Legiões Romanas nunca conseguiram vencer.
Mas isso aconteceu mais de um século
A.C. e se é verdade que nós somos descendentes desses lusitanos que viviam da pastorícia
na parte montanhosa do centro de um território que havia de ser muito mais
tarde Portugal, também ele o país mais antigo da Europa com fronteiras
estabelecidas, o que é certo é que tudo se complicou muito de então para cá em
termos de povo português.
Na origem do país estiveram elites
galaico – leoneses para além dos francos de origem alemã e mais tarde as
vertentes árabe, semita e judaica.
Como se vê, tudo muito diferente dos
valentes e heróicos lusitanos, de uma liderança firme que enfrentaram e
venceram os intrusos invasores.
As elites que governaram o país ao longo
da história até aos dias de hoje pertencem a pessoas de origens muito variadas
que por aqui passaram e aqui se radicaram há muitas gerações.
Estes novos
portugueses, os “tugas”, que nada têm a ver com os lusitanos, estão ligados às elites
que sempre detiveram o poder político e económico e o foram transmitindo entre
si como se estivessem ao serviço apenas dos seus próprios interesses num divórcio
total com o povo.
Como dizia Camões, que eu desconheço se
fazia parte dos “tugas” ou dos originais, valentes e heróicos lusitanos, os
“fracos reis fazem fraca a forte gente”.
Não temos uma identidade étnica e
cultural, somos uma miscelânea, vivemos aqui
como podemos viver em qualquer outra parte do mundo e onde estivermos somos
como eles…
Daí esta tristeza nostálgica de não
sabermos bem quem “somos” mas com a vantagem camaleónica de podermos ser quem qui sermos com muito mais facilidade do que qualquer
outro povo da Europa.
… Entretanto, no último minuto do
prolongamento, o Porto marca golo ao Benfica e vai “roubar-lhe” o Campeonato. O
treinador Jesus, fazendo jus ao nome, cai de joelhos e a tristeza invade 6 milhões
de benfiqui stas… Na minha rua faz-se
silêncio, fecham-se discretamente as persianas das janelas e o PIB do país cai como o pano sobre o palco no fim do terceiro e último acto de uma tragédia...
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