domingo, maio 12, 2013


HOJE É DOMINGO
(Da Minha Cidade de Santarém)



No meu país a austeridade não é uma opção. Não nos podemos dar a esses luxos sem sentido… Alguém está a ver os portugueses a mergulharem na austeridade pela sua própria vontade?

Protestar contra a austeridade não passa de um mero desabafo para aliviar o desagrado, para diminuir a tensão. De resto, nem nós, nem nenhum outro país do sul da Europa pratica a austeridade como política, por alternativa a qualquer outra coisa.

Fazemo-lo por inevitabilidade ou mais prosaicamente porque não temos dinheiro.

Apenas um país na Europa adoptou a austeridade como política alternativa, imposta aos outros países que dependem dela financeira e economicamente mas também para si própria com os seus oito milhões de empregos precários ou sub-empregos com salários de 400 euros. Esse país é a Alemanha.

E fá-lo por questões ideológicas, culturais, financeiras, a chamada filosofia do sacrifício, influenciada por traumas da sua história recente quando o marco desvalorizou de tal forma “comido” pela inflacção que o utilizavam para forrar paredes. Nunca mais esqueceram…

Mas nós, portugueses, nada temos a ver com essa gente. Nós, gostamos de viver à custa do Estado sem nos preocuparmos em saber onde ia ele buscar o dinheiro para nos pagar. De resto, essa preocupação não é do povo, é dos governantes…

Na nossa qualidade de católicos, apostólicos e romanos acreditamos no providencialismo. Se hoje podemos viver bem é isso que faremos. Para o futuro Deus providenciará… é tudo uma questão de fé e os portugueses são gente de fé, gente que se arrasta pelas estradas, este ano mais uma vez, em número recorde, em peregrinação a Fátima, não na busca de ânimo e força para lutar contra as dificuldades, mas na procura da resignação e esperança na Senhora, que na sua infinita bondade e amor aos seus fieis lhes dará consolação de espírito e, quem sabe, uma recompensa no céu.

É pena que a Srª de Fátima não tivesse inspirado os nossos governantes num passado recente para a loucura que era endividarmo-nos como se o mundo fosse acabar ou, simplesmente, não houvesse mesmo futuro. E, não fossem os credores cortarem a “guita ao papagaio” lá iria um TGV, um Aeroporto e não sei quantos mais quilómetros de auto – estrada…

Agora, nada podemos fazer para além de gerir a austeridade.

 - “Vocês lá sabem onde devem cortar, desde que cortem nestes montantes…” dizem-nos amáveis e magnânimos os representantes dos nossos credores.

Os portugueses são tristes e saudosos por natureza.

 Herdeiros de um povo, o mais antigo da Europa, os Lusitanos da Península Ibérica, valentes e heróicos que comandados por esse extraordinário líder e chefe militar de seu nome Viriato, foram os únicos a quem as Legiões Romanas nunca conseguiram vencer.

Mas isso aconteceu mais de um século A.C. e se é verdade que nós somos descendentes desses lusitanos que viviam da pastorícia na parte montanhosa do centro de um território que havia de ser muito mais tarde Portugal, também ele o país mais antigo da Europa com fronteiras estabelecidas, o que é certo é que tudo se complicou muito de então para cá em termos de povo português.

Na origem do país estiveram elites galaico – leoneses para além dos francos de origem alemã e mais tarde as vertentes árabe, semita e judaica.

Como se vê, tudo muito diferente dos valentes e heróicos lusitanos, de uma liderança firme que enfrentaram e venceram os intrusos invasores.

As elites que governaram o país ao longo da história até aos dias de hoje pertencem a pessoas de origens muito variadas que por aqui passaram e aqui se radicaram há muitas gerações. 

Estes novos portugueses, os “tugas”, que nada têm a ver com os lusitanos, estão ligados às elites que sempre detiveram o poder político e económico e o foram transmitindo entre si como se estivessem ao serviço apenas dos seus próprios interesses num divórcio total com o povo.

Como dizia Camões, que eu desconheço se fazia parte dos “tugas” ou dos originais, valentes e heróicos lusitanos, os “fracos reis fazem fraca a forte gente”.

Não temos uma identidade étnica e cultural, somos uma miscelânea, vivemos aqui como podemos viver em qualquer outra parte do mundo e onde estivermos somos como eles…

Daí esta tristeza nostálgica de não sabermos bem quem “somos” mas com a vantagem camaleónica de podermos ser quem quisermos com muito mais facilidade do que qualquer outro povo da Europa.

… Entretanto, no último minuto do prolongamento, o Porto marca golo ao Benfica e vai “roubar-lhe” o Campeonato. O treinador Jesus, fazendo jus ao nome, cai de joelhos e a tristeza invade 6 milhões de benfiquistas… Na minha rua faz-se silêncio, fecham-se discretamente as persianas das janelas e o PIB do país cai como o pano sobre o palco no fim do terceiro e último  acto de uma tragédia...

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