quarta-feira, maio 01, 2013


JUBIABÁ

Episódio Nº 5

A imaginação se perdia logo em actos de coragem heróica. Ficava olhando o fogo, imaginando como seria seu pai. Tudo quanto ouvia contar de grande rocambolesco julgava logo que o pai fizera a mesma coisa ou melhor.

Quando ele e os outros negros do morro iam brincar de quadrilha, e o interrogavam quem queria ser, ele, que não fora ainda ao cinema, não queria ser Eddie Pólo, nem Elmo, nem Maciste.

 - Quero ser meu pai…

Os outros faziam pouco:

 - O que foi que o teu pai fez?

 - Muita coisa…

 - Ele não levantou um automóvel com um braço só como Maciste…

 - Ele suspendeu um caminhão…

 - Um caminhão?

 - E carregado…

 - Quem foi que viu, Baldo?

 - Minha tia viu… Pergunte a ela. E se não gostou diga ou dê seu jeito…

Várias vezes brigou pela memória heróica do pai que não conhecera. Em verdade ele brigava pelo pai que imaginava, aquele que amaria se conhecesse.

Da mãe, António Balduíno não sabia nada.

Andava solto pelo morro e ainda não amava nem odiava. Era puro como um animal e tinha por única lei os instintos. Descia a ladeira do morro em louca disparada, montava cavalos de cabo de vassoura, era de pouca conversa mas de largo sorriso.

Cedo chefiou os demais garotos do morro, mesmos os bem mais velhos do que ele. Era imaginoso e tinha coragem como nenhum. Sua mão era certeira na pontaria do bodoque e seus olhos faiscavam nas brigas.

Brincava de quadrilha. Era sempre o chefe. E muitas vezes se esquecia que estava brincando e brigava seriamente. Sabia todos os nomes feios e os repetia a todo o momento.


Ajudava a velha Luísa a fazer o mungurá e o mingau de puba que ela vendia à noite no Terreiro. Levava o ralo, trazia os apetrechos, só não sabia ralar coco.

Os outros meninos ao princípio levaram na troça dizendo que ele era cozinheiro, mas se calaram no dia em que António Balduíno rebentou a cabeça a Zebedeu com uma pedrada.

Apanhou da tia e não conseguiu compreender por que apanhava. Porém perdoava rapidamente as surras que a tia lhe aplicava. Também poucas correadas o atingiam, pois ele era agilíssimo e ficava que nem um peixe escorrendo das mãos da tia, se furtando das chicotadas.

Aquilo era até um divertimento, um exercício do qual muitas vezes saía rindo, vencedor, tendo conseguindo que várias correadas o não atingissem. Apesar de tudo a negra Luísa dizia:

 - Este é o homem da casa…

A velha era conversadora e envolvente. Os vizinhos vinham conversar com ela, ouvir as histórias que ela contava, histórias de assombrações, contos de fada e casos da escravidão. Por vezes contava ou lia histórias de versos.

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