Largo do Seminário |
Domingo
(Da minha cidade de Santarém)
Sentimos sobre nós as nuvens negras que pairam
e se agravam sobre o nosso país, apenas um pouco piores do que nos restantes
países do Sul da Europa, talvez com excepção da Grécia.
Por
vezes, julgamos rasgar-se uma aberta mas logo ela desaparece. Chego a pensar que
temos um desígnio marcado ao qual não conseguimos fugir como parte fraca que
somos desta ridícula União Europeia.
Parece evidente que a Europa devia
repensar-se a si própria nesta separação que ganha caminho entre Sul e Norte
mas, na verdade, a ruptura que existe é entre credores e devedores, entre quem
tem dinheiro e quem o não tem e, no entanto, são duas faces da mesma moeda
porque dependem uns dos outros.
Vive-se num equi líbrio
perto da ruptura porque os credores, na tentativa de defenderem os seus
interesses, impõem aos países devedores cada vez maiores sacrifícios a bem do
pagamento da dívida, e os devedores queixam-se de que asfixiados por esses
sacrifícios não conseguem produzir riqueza que lhes permitam pagar.
A interligação entre Economia e Finanças
revelou-se mais forte do que os especialistas esperavam porque o desemprego
disparou para além do previsto fazendo aumentar as despesas sociais e baixando
as receitas.
No mundo egoísta em que vivemos - e eu
pergunto se alguma vez houve outro - não
é de esperar seja o que for fruto de um sentimento de solidariedade entre os
países. As decisões, infelizmente, tomam-se com lápis e papel na mão se ainda
estivéssemos nesse tempo…
Por isso, a necessidade de reforçar a União Bancária,
Fiscal e Orçamental da Comunidade Europeia e é aqui
que se nota uma grave indecisão de países que tendo embarcado nesta aventura
aliciante agora se mostram temerosos e pouco inteligentes porque o medo e o
“tribalismo” retiram o discernimento.
Graves desigualdades sociais, situações
de desespero de grupos cada vez maiores de pessoas podem levar a uma agitação
incontrolável e ao surgimento de forças políticas extremistas e radicais que se
aproveitam da insatisfação que leva à violência. Sempre foi assim…
Não podemos esquecer que os europeus da
geração de trinta e quarenta, aqui ,
neste mesmo espaço geográfico, se mataram aos milhões e em 1945 todo o centro
da Europa estava em ruínas passado que foi a ferro e fogo.
O homem é o mesmo e ele não é de fiar… e
exactamente porque é assim a União Europeia foi um projecto para a paz.
Quem hoje pensar o futuro da Europa de
uma maneira calculista, interesseira e egoísta, vivendo feliz dentro das suas
fronteiras porque tem um nível baixo de desemprego e um saldo excedentário da
sua balança comercial deve estar atento a todos os sinais.
O mundo progrediu imenso nos últimos
trinta, quarenta anos. O pós guerra tem sido um período de prosperidade e de
paz e países que há menos de quarenta anos tinham pouca importância no palco
internacional são hoje potências mundiais e nós, europeus, ocidentais, temos
que pensar que o nosso papel já não pode ser o mesmo mas não o menosprezemos.
A guerra faz-se agora de maneira
diferente. A Alemanha manda na Europa e nem exército possui…Substituiu o canhão
real pelo canhão financeiro comparando-se os mensageiros da troika aos SS.
A nós, armou-nos uma conspiração e caímos
que nem “patinhos”… Entregou-nos dinheiro e crédito barato para nos
sobreendividarmos e, de caminho, desmontar as nossas pescas, indústria e
agricultura. Quinze ou vinte anos depois o resultado está à vista…
A China, dona de 2/3 da dívida
americana, depois de partir do zero, tem já uma rede de auto-estradas maior do
que a dos Estados Unidos… O Brasil, que se afundou em petróleo, é ouvido e
respeitado…
Será que uma Europa de milhões de novos
“pedintes” que ainda há pouco tempo até viviam bem é o que interessa à própria
Europa e ao mundo?...
Artur Perez Reverte, jornalista de
guerra e escritor espanhol, escreveu um livro com o título “O homem esse hijo
da puta” e ele, por tudo o que tinha vivido, sabia do que falava… “dêem-lhe um
motivo, um pretenso motivo e ele atira-se ao vizinho e mata-o com requi ntes de malvadez”.
Atenção ao acumular de ódios que não são
bons conselheiros. Empobrecer é um processo muito doloroso e ainda mais quando
os partidos políticos não prepararam as pessoas sempre com discursos de
promessas, fora da realidade e, acima de tudo, sem darem o exemplo da
austeridade e rigor que apregoam.
Em situações de crise, como esta, falar
verdade e dar o exemplo explicando a inevitabilidade e o porquê das decisões
difíceis é fundamental mas isso só é possível a políticos com prestígio e
credibilidade.
Sinceramente, na “arena” política
nacional e europeia eles não se descortinam.
Internamente, estamos divididos entre os que querem rasgar o Acordo com a troika e embarcar no abandono do euro e os outros, mais precavidos, menos audaciosos, percebendo os males para o país das actuais políticas restritivas mas entendendo que, apesar de tudo, neste momento, não há outro caminho que não seja o de continuar.
Ficar ou partir do euro… acho que ainda não é o
momento de decidir.
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