António Balduíno |
JUBIABÁ
Episódio Nº 52
Na festa da casa de
Arlindo, em Brotas, fizera um escarcéu danado, só porque António Balduíno
dançara algumas vezes com Delfina, uma mulata sarará.
Quisera dar na outra,
chegou a arrancar o sapato do pé. António Balduíno ria alto gozando a disputa
das duas. Em casa Joana
perguntou.
- O que é que você achou
de bonito naquela peste’
- Você está com ciúme
dela?
- Eu ? Vê lá… daquele
couro… Uma bruaca velha, caindo de podre… Não sei o que é que você viu nela.
- Isso é que você não sabe…
Ela tem seus segredos…
António Balduíno ria e
rolava com ela na cama cheirando o seu cangote perfumado. Lembrava-se de quando
a conhecera. Fora numa festa no Rio Vermelho. Dera em cima dela de longe,
tocando coisas no violão.
Ela ficou toda caída. No
outro dia, que era um Domingo, se encontraram e foram à matiné no Olímpia. Ela
lhe contara uma história muito comprida para provar que era donzela e ele
acabara acreditando.
Ficou desinteressado mas
foi ao encontro marcado para qui nta-feira
porque não tinha que fazer naquela noite. Ficaram passeando no Campo Grande,
ele sem ter conversa porque ela era donzela e donzelas não interessam ao negro.
Perto da hora de entrar
para o emprego ela contou.
- Olhe eu vi que você é
bonzinho e respeitador… pois vou falar a verdade para você. Eu não sou donzela,
não…
- Ah! não é não.
- Foi meu tio, um tio que
morava lá em casa. Faz
três anos. Eu estava sozinha, mamãe tinha ido trabalhar…
- E seu pai?
- Nunca conheci… Meu tio
se aproveitou. Me pegou e foi a pulso.
- Que desgraçado… - no
fundo, António Balduíno, simpatizava com o tio.
- Nunca mais conheci homem
nesses três anos… Agora gostei de você…
António Balduíno desta vez
estava reconhecendo que era tudo invenção da cabrocha, mas não disse nada. Não
deixou ela voltar para o emprego naquela noite e, como não tinha para onde a
levar, foi mesmo para o cais do porto, para diante dos navios e do mar.
Depois alugaram aquele
quartinho nas Quintas, onde diariamente Joana mentia e ciumava.
O negro não acreditava mas
começava a se aborrecer.
Estava na Lanterna dos
Afogados, certa noite de temporal, quando o gordo entrou afobado. Joaqui m que conversava com António Balduíno avisou:
- Lá vem o Gordo…
- Vocês sabem o que
aconteceu?
- Os estivadores acharam
um defunto no cais…
Aqui lo
era comum e eles não se impressionaram. Mas o Gordo acrescentou:
- Era Viriato…
- Quem?
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