quarta-feira, junho 26, 2013

António  Balduíno
JUBIABÁ

Episódio Nº 52

Na festa da casa de Arlindo, em Brotas, fizera um escarcéu danado, só porque António Balduíno dançara algumas vezes com Delfina, uma mulata sarará.

Quisera dar na outra, chegou a arrancar o sapato do pé. António Balduíno ria alto gozando a disputa das duas. Em casa Joana perguntou.

- O que é que você achou de bonito naquela peste’

- Você está com ciúme dela?

- Eu ? Vê lá… daquele couro… Uma bruaca velha, caindo de podre… Não sei o que é que você viu nela.

- Isso é que você não sabe… Ela tem seus segredos…

António Balduíno ria e rolava com ela na cama cheirando o seu cangote perfumado. Lembrava-se de quando a conhecera. Fora numa festa no Rio Vermelho. Dera em cima dela de longe, tocando coisas no violão.

Ela ficou toda caída. No outro dia, que era um Domingo, se encontraram e foram à matiné no Olímpia. Ela lhe contara uma história muito comprida para provar que era donzela e ele acabara acreditando.

Ficou desinteressado mas foi ao encontro marcado para quinta-feira porque não tinha que fazer naquela noite. Ficaram passeando no Campo Grande, ele sem ter conversa porque ela era donzela e donzelas não interessam ao negro.

Perto da hora de entrar para o emprego ela contou.

- Olhe eu vi que você é bonzinho e respeitador… pois vou falar a verdade para você. Eu não sou donzela, não…

- Ah! não é não.

- Foi meu tio, um tio que morava lá em casa. Faz três anos. Eu estava sozinha, mamãe tinha ido trabalhar…

- E seu pai?

- Nunca conheci… Meu tio se aproveitou. Me pegou e foi a pulso.

- Que desgraçado… - no fundo, António Balduíno, simpatizava com o tio.

- Nunca mais conheci homem nesses três anos… Agora gostei de você…

António Balduíno desta vez estava reconhecendo que era tudo invenção da cabrocha, mas não disse nada. Não deixou ela voltar para o emprego naquela noite e, como não tinha para onde a levar, foi mesmo para o cais do porto, para diante dos navios e do mar.

Depois alugaram aquele quartinho nas Quintas, onde diariamente Joana mentia e ciumava.

O negro não acreditava mas começava a se aborrecer.


Estava na Lanterna dos Afogados, certa noite de temporal, quando o gordo entrou afobado. Joaquim que conversava com António Balduíno avisou:

- Lá vem o Gordo…

- Vocês sabem o que aconteceu?

- Os estivadores acharam um defunto no cais…

Aquilo era comum e eles não se impressionaram. Mas o Gordo acrescentou:

- Era Viriato…

- Quem?

- Viriato, o Anão.

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