terça-feira, junho 25, 2013

A SANTÍSSIMA TRINDADE
Richard Dawkins (Parte II)


A outra coisa que eu não consigo deixar de comentar é a confiança sobranceira com que as pessoas religiosas afirmam ínfimos pormenores acerca dos quais não têm nem poderiam ter a mínima prova.

Talvez seja precisamente o facto de não existir prova que corrobore ou negue opiniões teológicas o que instiga a típica hostilidade draconiana relativamente aos que têm opinião ligeiramente diferente.

Mas é sobretudo o ramo católico romano do Cristianismo que leva ao extremo o seu recorrente namoro com o politeísmo.

À Santíssima Trindade junta-se Maria, “Rainha dos Céus”, deusa em tudo menos no nome, e seguramente logo atrás do próprio Deus enquanto destinatária de orações.

O panteão é ainda engrossado por um exército de santos cujo poder de intervenção os torna, se não semi-deuses, pelo menos de serem abordados dentro da área de intervenção de cada um.

O Fórum da Comunidade Católica oferece solicitamente uma lista de 5.120 santos com as respectivas áreas de competência, que incluem dores de barriga, vítimas de maus tratos, anorexia, traficantes de armas, ferreiros, ossos partidos, técnicos de bombas e desarranjos intestinais, e isto para nos ficarmos só pela letra B.

Alem disso, não nos podemos esquecer dos quatro coros das hostes de anjos distribuídos por nove ordens: serafins, querubins, tronos, dominações, virtudes, potestades arcanjos (que são os comandantes9 e os nossos já velhos conhecidos anjos com destaque para o conhecido e sempre vigilante anjo-da-guarda.

O que impressiona mais na mitologia católica é a ligeireza inconsequente com que estas pessoas vão congeminando pormenores, tudo fruto da mais descarada invenção.

E não se pense que isto são coisas dos tempos antigos da igreja católica: o Papa João Paulo II (1920 – 2005) criou mais santos do que os seus antecessores todos juntos no decorrer dos últimos séculos.

Os seus devaneios politeístas ficaram bem marcados quando, em 1981, foi vítima de uma tentativa de assassínio em Roma tendo atribuído a Nossa Senhora de Fátima a circunstância de ter sobrevivido: «Uma mão materna guiou a bala».

Dá vontade de perguntar porque não guiou ela a bala de forma a nem sequer o atingir? E a equipe de cirurgiões que o operou durante seis horas não teve nenhum mérito? -  Ou as suas mãos também foram guiadas maternalmente pela senhora de Fátima?

O Papa referiu-se concretamente a Nossa Senhora de Fátima e não a uma outra Nossa Senhora. Talvez na altura, a Nossa Senhora de Lurdes, ou de Guadalupe ou de Medjugorje, ou de Akita, ou de Zeitun, ou de Garabandal, ou de Knock, estivessem ocupadas com outras incumbências.
(continua)                                    

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