Richard Dawkins (Parte II)
A outra coisa que eu não
consigo deixar de comentar é a confiança sobranceira com que as pessoas
religiosas afirmam ínfimos pormenores acerca dos quais não têm nem poderiam ter
a mínima prova.
Talvez seja precisamente o
facto de não existir prova que corrobore ou negue opiniões teológicas o que
instiga a típica hostilidade draconiana relativamente aos que têm opinião
ligeiramente diferente.
Mas é sobretudo o ramo
católico romano do Cristianismo que leva ao extremo o seu recorrente namoro com
o politeísmo.
À Santíssima Trindade
junta-se Maria, “Rainha dos Céus”, deusa em tudo menos no nome, e seguramente
logo atrás do próprio Deus enquanto destinatária de orações.
O panteão é ainda engrossado
por um exército de santos cujo poder de intervenção os torna, se não
semi-deuses, pelo menos de serem abordados dentro da área de intervenção de
cada um.
O Fórum da Comunidade
Católica oferece solicitamente uma lista de 5.120 santos com as respectivas
áreas de competência, que incluem dores de barriga, vítimas de maus tratos,
anorexia, traficantes de armas, ferreiros, ossos partidos, técnicos de bombas e
desarranjos intestinais, e isto para nos ficarmos só pela letra B.
Alem disso, não nos podemos
esquecer dos quatro coros das hostes de anjos distribuídos por nove ordens:
serafins, querubins, tronos, dominações, virtudes, potestades arcanjos (que são
os comandantes9 e os nossos já velhos conhecidos anjos com destaque para o
conhecido e sempre vigilante anjo-da-guarda.
O que impressiona mais na
mitologia católica é a ligeireza inconsequente com que estas pessoas vão
congeminando pormenores, tudo fruto da mais descarada invenção.
E não se pense que isto são
coisas dos tempos antigos da igreja católica: o Papa João Paulo II (1920 –
2005) criou mais santos do que os seus antecessores todos juntos no decorrer
dos últimos séculos.
Os seus devaneios
politeístas ficaram bem marcados quando, em 1981, foi vítima de uma tentativa
de assassínio em Roma tendo atribuído a Nossa Senhora de Fátima a circunstância
de ter sobrevivido: «Uma mão materna guiou a bala».
Dá vontade de perguntar
porque não guiou ela a bala de forma a nem sequer o atingir? E a equi pe de cirurgiões que o operou durante seis horas
não teve nenhum mérito? - Ou as suas mãos
também foram guiadas maternalmente pela senhora de Fátima?
O Papa referiu-se
concretamente a Nossa Senhora de Fátima e não a uma outra Nossa Senhora. Talvez
na altura, a Nossa Senhora de Lurdes, ou de Guadalupe ou de Medjugorje, ou de
Akita, ou de Zeitun, ou de Garabandal, ou de Knock, estivessem ocupadas com
outras incumbências.
(continua)
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