(Da minha cidade de
Santarém)
Falhar na distribuição e
Mas, se o dinheiro, por força das
restrições, diminui no bolso das pessoas, como vão elas comprar os produtos
para que as empresas tenham clientes e, pelo menos, mantenham os empregos?
Ainda esta semana ouvi uma afirmação
surpreendente a este respeito: “quem cria emprego são os consumidores. As
empresas resistirão até ao limite para admitirem novos trabalhadores e só o
farão quando obrigados pela necessidade de produzirem mais”… e quem cria essa
necessidade, obviamente, são os consumidores.
Esta realidade caiu como uma maldição
sobre os estrategas da política do governo e do seu super-ministro Victor
Gaspar e fez ruir todas as metas e objectivos que, a cumprirem-se,
representariam o sucesso da solução simplista da austeridade cega, pura e dura.
É que na sociedade, como na natureza,
tudo está fortemente interligado e qualquer necessidade de reajustamento por “distúrbios”
ocorridos pontualmente – no nosso caso, o distúrbio é o “monstro” da dívida e
dos mais de 7.000 milhões de juros anuais - senão ocorrer gradualmente, com sensibilidade
social e muita inteligência, de acordo com um plano de Reforma do Estado bem
estudado e explicado aos cidadãos, podem acontecer rupturas descontroláveis idênticas às que vemos em outros países neste momento, comprometendo a estabilidade social que, até agora, tem sido o nosso grande trunfo.
O povo português tem uma história de
sofrimento e de conformismo à desgraça, mas será isso garante de que tudo irá
decorrer pacificamente?
Milhares de concidadãos meus
angustiam-se, hoje, atrás de direitos que julgavam adqui ridos,
de pensões de reforma que lhes foram atribuídas, de empregos que lhe foram
prometidos e tudo agora parece ruir pela base, nada corresponde às expectativas
e o sentimento de protesto e revolta é espontâneo.
Temos uma sociedade em que as pessoas se
vão acumulando na velhice, a pirâmide da população está cada vez mais
invertida, o número daqueles que trabalha é cada vez menor, os nascimentos batem recordes negativos, (no dizer de um autarca: "o meu trabalho é encerrar escolas e alargar cemitérios) a produção de riqueza pela economia do
país, aonde se vai buscar o dinheiro para satisfazer os compromissos assumidos
pelo Estado, diminui, deixámos de crescer economicamente nos últimos anos e
pergunta-se:
- Mas ninguém previu isto?
- Governar não é prever? especialmente
quando essas previsões se metiam olhos dentro?
- Terá sido legítimo fazer previsões tão aventureiramente optimistas só porque correspondiam aos nossos interesses e esquemas mentais...?
- Terá sido legítimo fazer previsões tão aventureiramente optimistas só porque correspondiam aos nossos interesses e esquemas mentais...?
O governo de agora não se mostrou hábil,
nem competente, nem dialogante, mesmo considerando que o grande mal vinha de
trás.
Abordou este momento, dos mais difíceis
da vida do país, com a arrogância dos aprendizes de feiticeiro que julgando ter
na mão a chave do problema comportou-se como elefante em loja de louças,
desajeitadamente.
Ele
tinha pela frente a missão mais difícil de quantos governos já tiveram desde a
Revolução dos Cravos e como agravante o facto de ele próprio, enquanto oposição,
ter contribuído para a queda do governo anterior e precipitado, pelo menos, o
acordo com a troika.
Nunca saberemos como teria sido. A
história não se escreve duas vezes. Sendo como foi, ficaremos em definitivo sem
saber como teria sido…
Até agora há paz nas ruas e esse é o
nosso bem essencial mas, até quando?
A nossa democracia está doente, somos
obrigados a eleger pessoas que não conhecemos, não sabemos quem são, nem que
provas deram nas suas vidas profissionais e cívicas. Os partidos estão ocos,
vazios, vivem obcecados em ganhar eleições, em conqui star
o poder, mesmo num momento em que governar o país se assemelha a missão
impossível.
A expectativa é que em qualquer nova
eleição a abstenção aumentará da mesma forma que os votos em Branco que
duplicaram nos últimos dez anos acentuando o protesto político no sistema
eleitoral, nestes partidos e nestes políticos que se apresentam a eleições
peneirados e filtrados pelas estruturas partidárias de acordo com critérios de
“seguidismo” e “amiguismo” que não fazem prever nada de bom para a democracia.
O nosso sistema político é hostil ao
consenso, basta ouvi-los na televisão para percebermos que aquelas pessoas
nunca se irão entender, mesmo estando em causa decisões extremamente difíceis e
decisivas para o futuro do país a exigir consensos e diálogo.
Temos a vaga esperança de que a
Comunidade Europeia, de que fazemos parte, não permita que cheguemos a uma
situação de penúria generalizada da população até porque ela teve quota-parte
da responsabilidade neste desfecho, mas não sabemos, ninguém sabe.
Os povos europeus deram provas, ao longo de
todo o seu passado histórico, que não gostam uns dos outros, como se pode
depreender de uma relação pontuada de guerras permanentes ao longo dos séculos
até bem recentemente. Como esperar, então, uma solidariedade espontânea?
A União Económica, Política e Orçamental
com uma Moeda Comum parecia ser a única solução verdadeiramente eficaz para uma
paz definitiva mas a liderança desse processo imposta pela toda poderosa Alemanha
(mais uma vez…) está trazendo de novo um espírito de animosidade e revolta que
pode esfrangalhar a coexistência pacífica dos povos europeus e comprometer o
resultado final.
A responsabilidade é de todos mas não
por igual sendo estas coisas dificilmente entendíveis e explicáveis porque há
actores que se movimentam em gabinetes de arranha-céus tão altos que ninguém
lhes chega e para quem o destino da humanidade não é o deles cegos que estão
por uma estúpida volúpia de poder.
Incapazes de dizerem como vai ser o
amanhã, mergulhamos todos na dúvida e na incerteza e começamos, receosamente, a
viver um dia de cada vez esperando que uma réstia de bom senso perante a
iminência de um colapso total mantenha, pelo menos, este débil equi líbrio que está a ser suportado por mais de seis
milhões de desempregados na Europa.
Por cá, os nossos políticos,
ultrapassados pelos problemas, discutem pateticamente porque é que o subsídio
de férias não é pago no Verão em vez de Novembro, quando o 1º Ministro até afirma que há dinheiro...
Parece, na verdade, um governo que não gosta dos portugueses e, sendo assim, já não será apenas a Srª Merkel e os alemães...
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