domingo, junho 23, 2013

Hoje é Domingo
(Da minha cidade de Santarém)



Falhar na distribuição equitativa dos sacrifícios em época de “vacas magras” é muito mais grave do que não acertar na repartição dos benefícios quando a situação é desafogada e este é o grande problema do governo de Passos Coelho, pois a necessidade de reajustamentos das despesas às receitas do Estado, de tão cruelmente evidente, não sofre contestação de ninguém.

Mas, se o dinheiro, por força das restrições, diminui no bolso das pessoas, como vão elas comprar os produtos para que as empresas tenham clientes e, pelo menos, mantenham os empregos?

Ainda esta semana ouvi uma afirmação surpreendente a este respeito: “quem cria emprego são os consumidores. As empresas resistirão até ao limite para admitirem novos trabalhadores e só o farão quando obrigados pela necessidade de produzirem mais”… e quem cria essa necessidade, obviamente, são os consumidores.

Esta realidade caiu como uma maldição sobre os estrategas da política do governo e do seu super-ministro Victor Gaspar e fez ruir todas as metas e objectivos que, a cumprirem-se, representariam o sucesso da solução simplista da austeridade cega, pura e dura.

É que na sociedade, como na natureza, tudo está fortemente interligado e qualquer necessidade de reajustamento por “distúrbios” ocorridos pontualmente – no nosso caso, o distúrbio é o “monstro” da dívida e dos mais de 7.000 milhões de juros anuais -  senão ocorrer gradualmente, com sensibilidade social e muita inteligência, de acordo com um plano de Reforma do Estado bem estudado e explicado aos cidadãos, podem acontecer rupturas descontroláveis idênticas às que vemos em outros países neste momento, comprometendo a estabilidade social que, até agora, tem sido o nosso grande trunfo. 

 O povo português tem uma história de sofrimento e de conformismo à desgraça, mas será isso garante de que tudo irá decorrer pacificamente?

Milhares de concidadãos meus angustiam-se, hoje, atrás de direitos que julgavam adquiridos, de pensões de reforma que lhes foram atribuídas, de empregos que lhe foram prometidos e tudo agora parece ruir pela base, nada corresponde às expectativas e o sentimento de protesto e revolta é espontâneo.

Temos uma sociedade em que as pessoas se vão acumulando na velhice, a pirâmide da população está cada vez mais invertida, o número daqueles que trabalha é cada vez menor, os nascimentos batem recordes negativos, (no dizer de um autarca:  "o meu trabalho é encerrar escolas e alargar cemitérios) a produção de riqueza pela economia do país, aonde se vai buscar o dinheiro para satisfazer os compromissos assumidos pelo Estado, diminui, deixámos de crescer economicamente nos últimos anos e pergunta-se:

 - Mas ninguém previu isto?

- Governar não é prever? especialmente quando essas previsões se metiam olhos dentro?

 - Terá sido legítimo fazer previsões tão aventureiramente  optimistas só porque correspondiam aos nossos interesses e esquemas mentais...?

O governo de agora não se mostrou hábil, nem competente, nem dialogante, mesmo considerando que o grande mal vinha de trás.

Abordou este momento, dos mais difíceis da vida do país, com a arrogância dos aprendizes de feiticeiro que julgando ter na mão a chave do problema comportou-se como elefante em loja de louças, desajeitadamente.

 Ele tinha pela frente a missão mais difícil de quantos governos já tiveram desde a Revolução dos Cravos e como agravante o facto de ele próprio, enquanto oposição, ter contribuído para a queda do governo anterior e precipitado, pelo menos, o acordo com a troika.

Nunca saberemos como teria sido. A história não se escreve duas vezes. Sendo como foi, ficaremos em definitivo sem saber como teria sido…

Até agora há paz nas ruas e esse é o nosso bem essencial mas, até quando? 

A nossa democracia está doente, somos obrigados a eleger pessoas que não conhecemos, não sabemos quem são, nem que provas deram nas suas vidas profissionais e cívicas. Os partidos estão ocos, vazios, vivem obcecados em ganhar eleições, em conquistar o poder, mesmo num momento em que governar o país se assemelha a missão impossível.

A expectativa é que em qualquer nova eleição a abstenção aumentará da mesma forma que os votos em Branco que duplicaram nos últimos dez anos acentuando o protesto político no sistema eleitoral, nestes partidos e nestes políticos que se apresentam a eleições peneirados e filtrados pelas estruturas partidárias de acordo com critérios de “seguidismo” e “amiguismo” que não fazem prever nada de bom para a democracia.

O nosso sistema político é hostil ao consenso, basta ouvi-los na televisão para percebermos que aquelas pessoas nunca se irão entender, mesmo estando em causa decisões extremamente difíceis e decisivas para o futuro do país a exigir consensos e diálogo.

Temos a vaga esperança de que a Comunidade Europeia, de que fazemos parte, não permita que cheguemos a uma situação de penúria generalizada da população até porque ela teve quota-parte da responsabilidade neste desfecho, mas não sabemos, ninguém sabe.

 Os povos europeus deram provas, ao longo de todo o seu passado histórico, que não gostam uns dos outros, como se pode depreender de uma relação pontuada de guerras permanentes ao longo dos séculos até bem recentemente. Como esperar, então, uma solidariedade espontânea?

A União Económica, Política e Orçamental com uma Moeda Comum parecia ser a única solução verdadeiramente eficaz para uma paz definitiva mas a liderança desse processo imposta pela toda poderosa Alemanha (mais uma vez…) está trazendo de novo um espírito de animosidade e revolta que pode esfrangalhar a coexistência pacífica dos povos europeus e comprometer o resultado final.

A responsabilidade é de todos mas não por igual sendo estas coisas dificilmente entendíveis e explicáveis porque há actores que se movimentam em gabinetes de arranha-céus tão altos que ninguém lhes chega e para quem o destino da humanidade não é o deles cegos que estão por uma estúpida volúpia de poder.

Incapazes de dizerem como vai ser o amanhã, mergulhamos todos na dúvida e na incerteza e começamos, receosamente, a viver um dia de cada vez esperando que uma réstia de bom senso perante a iminência de um colapso total mantenha, pelo menos, este débil equilíbrio que está a ser suportado por mais de seis milhões de desempregados na Europa.

Por cá, os nossos políticos, ultrapassados pelos problemas, discutem pateticamente porque é que o subsídio de férias não é pago no Verão em vez de Novembro, quando o 1º Ministro até afirma que há dinheiro...

Parece, na verdade, um governo que não gosta dos portugueses e, sendo assim, já não será apenas a Srª Merkel e os alemães...

Site Meter