O Bar da "Lanterna dos Afogados" |
JUBIABÁ
Episódio Nº 50
- Vim beber à sua saúde,
Gordo…
O Gordo mandou vir
cachaça. António Balduíno perguntou:
- Como vão as coisas, Viriato?
- Assim, assim…
- Você está doente?
- Não. Isso é pra arranjar mais esmola – e riu
seu sorriso apertado.
- Por que nunca mais você apareceu?
- Por aí… jogado… nem vontade…
- Me disseram que você tinha tado doente.
- Estive mesmo, maleita braba… A assistência
me pegou… Passei o diabo. Se eu cair doente outra vez prefiro morrer na rua.
Aceitou o cigarro que Joaqui m lhe oferecia:
- Fiquei largado lá sem ninguém se importar
com eu. Sabe como é?
O Gordo não sabia, mas
estava com medo.
- De noite vinha a febre. Eu pensava que ia
morrer… Me lembrava que não tinha ninguém… Ninguém pra me valer…
Ficou calado.
- Mas ficou foi bom – disse Balduíno.
- Bom, não. Maleita volta. Um dia destes morro
na rua como um cachorro…
O Gordo botou a mão negra
em cima da mesa em direcção a Viriato:
- Morre nada, mano…
Joaqui m
tentou rir:
- Vaso ruim não quebra…
Mas Viriato continuou:
- Você se alembra, António Balduíno, de
Rosendo? Ele esteve doente mas teve a mãe dele que veio buscar ele. Foi até eu
que descobri ela. E Filipe, o Belo, quando morreu teve também a mãe dele que
veio pró enterro. Trouxe aquelas flores e veio muita mulher…
- Tinha uma com cada coxão - atalhou Joaqui m.
- Todo mundo tem pai, tem mãe, tem uma pessoa.
Eu não tenho ninguém.
Atirou para um canto o
cigarro, pediu outro copo de pinga:
- De que vale a vida da gente? Você se lembra
da vez que a gente apanhou como cachorro na polícia? Pra que eles fez aqui lo com a gente? A vida da gente não presta pra
nada…
A gente não tem ninguém…
O Gordo tremia. António
Balduíno olhava pra dentro do copo da cachaça. Viriato, o Anão, se levantou:
- Estou chateando vocês… Mas eu fico só e fico
matutando…
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