segunda-feira, junho 24, 2013

O Bar da "Lanterna dos Afogados"
JUBIABÁ

Episódio Nº 50


- Vim beber à sua saúde, Gordo…

O Gordo mandou vir cachaça. António Balduíno perguntou:

 - Como vão as coisas, Viriato?

 - Assim, assim…

 - Você está doente?

 - Não. Isso é pra arranjar mais esmola – e riu seu sorriso apertado.

 - Por que nunca mais você apareceu?

 - Por aí… jogado… nem vontade…

 - Me disseram que você tinha tado doente.

 - Estive mesmo, maleita braba… A assistência me pegou… Passei o diabo. Se eu cair doente outra vez prefiro morrer na rua.

Aceitou o cigarro que Joaquim lhe oferecia:

 - Fiquei largado lá sem ninguém se importar com eu. Sabe como é?

O Gordo não sabia, mas estava com medo.



 - De noite vinha a febre. Eu pensava que ia morrer… Me lembrava que não tinha ninguém… Ninguém pra me valer…

Ficou calado.

 - Mas ficou foi bom – disse Balduíno.

 - Bom, não. Maleita volta. Um dia destes morro na rua como um cachorro…

O Gordo botou a mão negra em cima da mesa em direcção a Viriato:

 - Morre nada, mano…

Joaquim tentou rir:

 - Vaso ruim não quebra…

Mas Viriato continuou:

 - Você se alembra, António Balduíno, de Rosendo? Ele esteve doente mas teve a mãe dele que veio buscar ele. Foi até eu que descobri ela. E Filipe, o Belo, quando morreu teve também a mãe dele que veio pró enterro. Trouxe aquelas flores e veio muita mulher…

 - Tinha uma com cada coxão -  atalhou Joaquim.

 - Todo mundo tem pai, tem mãe, tem uma pessoa. Eu não tenho ninguém.

Atirou para um canto o cigarro, pediu outro copo de pinga:

 - De que vale a vida da gente? Você se lembra da vez que a gente apanhou como cachorro na polícia? Pra que eles fez aquilo com a gente? A vida da gente não presta pra nada…

A gente não tem ninguém…

O Gordo tremia. António Balduíno olhava pra dentro do copo da cachaça. Viriato, o Anão, se levantou:

 - Estou chateando vocês… Mas eu fico só e fico matutando…

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