(Da minha cidade de Santarém)
O que mais me angustia na situação em
que o meu país vive é perceber que estou numa sociedade armadilhada, uma
sociedade de conluios, em que, historicamente, pequenos grupos de pessoas se
arrogam o direito de ardilosa ou acintosamente, enganarem os seus
concidadãos reservando para si benefícios, privilégios e riqueza.
Foi assim no tempo da ditadura, o que
era lógico, compreensível e característico daqueles regimes, mas,
surpreendentemente, continuou a sê-lo na democracia.
Mesmo com liberdade de informação em
toda a imprensa, denúncia nos jornais, Tribunal de Contas, Procuradoria – Geral
da República, Tribunais, Assembleia da República, deputados eleitos livremente…
mesmo com tudo isto, tivemos Bancos que roubaram depositantes e agora os
contribuintes chegando ao desplante de oferecerem lucros ilegítimos em negócios
de acções do próprio banco a amigos de confiança entre eles o actual
Presidente da República e isto à vista do Banco de Portugal e da Comissão de
Valores Imobiliários.
Mais tarde vieram as Parecerias Público
Privadas negociadas de tal forma com o Estado - como aquelas que respeitam às
Auto-Estradas - em que as cláusulas a
favor das empresas privadas são perfeitamente escandalosas em desfavor do
Estado.
Recentemente, os contratos feitos com Bancos
para protecção contra riscos sobre taxas de juros de empréstimos contraídos por
empresas públicas e que se estão agora a perceber terem sido negociados
intencionalmente a favor dos privados…
Privilégios estampados na lei de pensões
de reforma antes dos 65 anos atribuídos a detentores de cargos públicos e
políticos bem como a sua acumulação… e tudo isto, e muito mais, num período de
incalculável sofrimento e dificuldades para milhões de portugueses
desempregados ou sobrevivendo com pensões de miséria num Portugal sem futuro.
O Estado não quer ou não sabe defender
os cidadãos da ambição desses grupos de pessoas que se especializaram, com a
cumplicidade de grupos de deputados de partidos políticos que vão alternando no
poder, que fazem as leis e se misturam em Gabinetes de Advogados que as
esmiúçam legalizando o que é imoral e injusto acautelando a impunidade das
pessoas ricas e poderosas “escondidas” na Administração de Sociedades e no
corpo de accionistas e que recebem ordenados, prémios ou dividendos…
Até porque há sempre Recursos e mais Recursos de sentenças desfavoráveis. Como dizia Avelino Torres, do C.D.S., Ex - Presidente da Câmara de Marco de Canaveses : "... nada que um bom advogado não resolva..."
Até porque há sempre Recursos e mais Recursos de sentenças desfavoráveis. Como dizia Avelino Torres, do C.D.S., Ex - Presidente da Câmara de Marco de Canaveses : "... nada que um bom advogado não resolva..."
Havia muitos regimes especiais de
reformas que já foram desaparecendo, e bem, mas continua sem se perceber como é
permitido, na actual conjuntura, que um administrador da Caixa Geral de Depósitos
com 18 meses de actividade fique com uma pensão de 18.000 euros.
Parece uma luta perdida de pobres contra
ricos, de público contra privados, de fortes contra fracos, com uma justiça que
se debate numa teia de leis e se arrasta e perde nas calendas gregas…
Como já se percebeu, isto não é política
porque atravessa ideologias, regimes, partidos, governos e dói mais quando as
crises se instalam e grande parte das pessoas sofrem sem saber como sobreviver
convivendo com todas estas situações que são do conhecimento geral.
Tivessem estas crises um efeito
purificador e moralizador criando um ambiente social de mais forte denúncia e
reprovação apelando à intervenção de mais portugueses honestos, inteligentes e
inconformados, que gritassem mais alto a sua indignação e se avançasse no
desmantelamento desses grupos de interesses ou mesmo apenas enfraquecendo-os e
já alguma coisa de bom sairia de todo este sofrimento humano e social.
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