domingo, junho 16, 2013

HOJE É 

DOMINGO

(Da minha cidade de Santarém)



O que mais me angustia na situação em que o meu país vive é perceber que estou numa sociedade armadilhada, uma sociedade de conluios, em que, historicamente, pequenos grupos de pessoas se arrogam o direito de ardilosa ou acintosamente, enganarem os seus concidadãos reservando para si benefícios, privilégios e riqueza.

Foi assim no tempo da ditadura, o que era lógico, compreensível e característico daqueles regimes, mas, surpreendentemente, continuou a sê-lo na democracia.

Mesmo com liberdade de informação em toda a imprensa, denúncia nos jornais, Tribunal de Contas, Procuradoria – Geral da República, Tribunais, Assembleia da República, deputados eleitos livremente… mesmo com tudo isto, tivemos Bancos que roubaram depositantes e agora os contribuintes chegando ao desplante de oferecerem lucros ilegítimos em negócios de acções do próprio banco a amigos de confiança entre eles o actual Presidente da República e isto à vista do Banco de Portugal e da Comissão de Valores Imobiliários.

Mais tarde vieram as Parecerias Público Privadas negociadas de tal forma com o Estado - como aquelas que respeitam às Auto-Estradas -  em que as cláusulas a favor das empresas privadas são perfeitamente escandalosas em desfavor do Estado.

 Recentemente, os contratos feitos com Bancos para protecção contra riscos sobre taxas de juros de empréstimos contraídos por empresas públicas e que se estão agora a perceber terem sido negociados intencionalmente a favor dos privados…

Privilégios estampados na lei de pensões de reforma antes dos 65 anos atribuídos a detentores de cargos públicos e políticos bem como a sua acumulação… e tudo isto, e muito mais, num período de incalculável sofrimento e dificuldades para milhões de portugueses desempregados ou sobrevivendo com pensões de miséria num Portugal sem futuro.

O Estado não quer ou não sabe defender os cidadãos da ambição desses grupos de pessoas que se especializaram, com a cumplicidade de grupos de deputados de partidos políticos que vão alternando no poder, que fazem as leis e se misturam em Gabinetes de Advogados que as esmiúçam legalizando o que é imoral e injusto acautelando a impunidade das pessoas ricas e poderosas “escondidas” na Administração de Sociedades e no corpo de accionistas e que recebem ordenados, prémios ou dividendos…

 Até porque há sempre Recursos e mais Recursos de sentenças desfavoráveis. Como dizia Avelino Torres, do C.D.S., Ex - Presidente da Câmara de Marco de Canaveses : "... nada que um bom advogado não resolva..."

Havia muitos regimes especiais de reformas que já foram desaparecendo, e bem, mas continua sem se perceber como é permitido, na actual conjuntura, que um administrador da Caixa Geral de Depósitos com 18 meses de actividade fique com uma pensão de 18.000 euros.

Parece uma luta perdida de pobres contra ricos, de público contra privados, de fortes contra fracos, com uma justiça que se debate numa teia de leis e se arrasta e perde nas calendas gregas…

Como já se percebeu, isto não é política porque atravessa ideologias, regimes, partidos, governos e dói mais quando as crises se instalam e grande parte das pessoas sofrem sem saber como sobreviver convivendo com todas estas situações que são do conhecimento geral.

Tivessem estas crises um efeito purificador e moralizador criando um ambiente social de mais forte denúncia e reprovação apelando à intervenção de mais portugueses honestos, inteligentes e inconformados, que gritassem mais alto a sua indignação e se avançasse no desmantelamento desses grupos de interesses ou mesmo apenas enfraquecendo-os e já alguma coisa de bom sairia de todo este sofrimento humano e social.
  

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