sábado, junho 08, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 37


Somava tudo, geralmente pelos dedos. Com a ajuda de Viriato fazia a divisão.

 - Somos nove… Seis e seiscentos para cada um. E interrogava:

  - Está certo, gente?

Estava certo. Iam passando em frente a Balduíno que dava a cada um o que lhe pertencia. Por vezes o troco faltava:

 - O Sem Dentes lhe dá quinhentos réis…

 - Olhe lá… De outra vez você bateu três tões meus…

Iam comer e depois se estendiam pela cidade em correrias, procurando mulatas para levar para o areal do cais, penetrando em festas pobres de morros distantes, bebendo cachaça nos botequins da cidade baixa.

Um dia, no entanto algo de anormal aconteceu. Quando Zé Casquinha ia entregar a sua féria sorria um sorriso enigmático.

António Balduíno disse:

 - Três mil réis…

Zé Casquinha sorriu:

 - E mais isto…

Jogou no boné do negro um anel onde uma pedra brilhava à luz do poste. Uma pedra grande cercada por uma dúzia de pedrinhas. António Balduíno levantou os olhos e afirmou:

 - Você roubou isto, Zé Casquinha.

 - Juro que não…A moça me deu uma esmola e foi embora… Quando eu vi, esse anelão estava junto de mim. Eu ainda corri atrás mas não vi mais a moça…

 - Mentindo em cima de mim…

Os moleques olhavam a pedra que passava de mão em mão. Ninguém ligava para a conversa entre Balduíno e Zé Casquinha.

 - Conte como foi, Zé.

 - Não tou mentindo, não, Baldo. Foi assim mesmo…

- E você foi atrás dela…

 - Isso é mentira mesmo… Mas o resto é verdade, eu juro…

 - Tá direito. E agora o que é que a gente vai fazer com isso?

Filipe riu:

- Me dá para mim… Nasci para usar anel…

Riram todos mas António Balduíno perguntou de novo:

 -  O que é que a gente faz disso?

 - Prego. Dá dinheiro muito…

Filipe pilheriou de novo:

 - Faço uma roupa nova…

 - Basta ir buscar nas latas de lixo…

 - Mas no prego não pode, Viriato. O gringo não tá vendo que não acredita que o bruto seja de nós… Chama a polícia, tá tudo na cadeia…

 - É mesmo…

 - Me dá para eu usar – pediu Filipe.

 - Não chatei…

 - Eu acho que o melhor é a gente guardar ele um bocado de tempo. Quando a dona já tiver esquecido dele a gente resolve…

E António Balduíno amarrou o anel junto à figa que trazia no pescoço.

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